Apareceram evidências de que o programa de governo de Marina Silva faz uma espécie de colagem de discursos da própria candidata, de alguns trabalhos acadêmicos e, como se viu, até de um decreto de FHC. Para quem se orgulha de uma tal “rede” de colaboradores, que seria formada por especialistas e pessoas particularmente dedicadas a causas de interesse coletivo, não deixa de ser um vexame e de denotar certo improviso. Mais: o programa, na área do agronegócio, acena com a revisão de índices de produtividade para efeitos de liberação de terras para a reforma agrária, o que levaria o setor mais eficiente da economia brasileira ao colapso — além de elevar, se aplicada a proposta, a tensão do campo a níveis inéditos. Eu mesmo já apontei que o tal Eixo Um do programa do PSB apela a formas de democracia direta que poderiam degenerar em autoritarismo ou bagunça.
É absolutamente legítimo debater tudo isso. Cabe, sim, ao PT, ao PSDB e a outros chamar a atenção para o que está malparado no programa do PSB, especialmente porque, é evidente, Marina pode ser a presidente da República. Segundo as pesquisas, se a eleição ocorresse amanhã, a eleita seria ela. Assim, nada mais urgente e relevante do que abordar esses temas.
Mas vamos com cuidado aí. Leio que a Federação Única dos Petroleiros, ligada à CUT, vai organizar um ato em defesa do pré-sal. É mesmo? Ele está sendo ameaçado por quem? Conversa mole! Trata-se apenas de um braço do PT, que se alimenta do imposto sindical, a atuar contra a candidatura de Marina, que a petista Dilma Rousseff acusa de não dar o devido valor à área de petróleo. “Não podemos fazer como a Marina, que desdenha essa riqueza”, diz José Maria Rangel, dirigente da entidade.
É uma confissão de politicagem. Por que a FUP não se manifestou e não se manifesta sobre os reiterados escândalos na Petrobras? Cadê a FUP para protestar contra a desastrada compra da refinaria de Pasadena? Cadê a FUP para mobilizar seus filiados contra a queda de 50% do valor de mercado da estatal?
Os bate-paus do petismo que estão no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal também se juntam ao PT para acusar Marina de propor o enfraquecimento dos bancos públicos, com o objetivo de privatizá-los depois. É pistolagem política. É mentira. Não há nada disso no programa de Marina. No passado, foram acusados da mesma coisa os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra. Se Aécio estivesse em segundo lugar nas pesquisas, o alvo seria ele.
Ora vejam… Os supostamente independentes João Pedro Stedile, chefão do MST, e Guilherme Boulos, proprietário do MTST — dois promotores contumazes de invasões de propriedades públicas e privadas —, também vieram a público para atacar Marina e defender o seu partido de coração e, quem sabe?, de carteirinha: o PT. Os dois querem a continuidade do atual governo porque sabem que podem impor as suas vontades, promover ilegalidades e sair impunes — contando com as prebendas que seus respectivos movimentos recebem do poder público.
O debate político é uma obrigação e uma necessidade. A ação contra Marina do corporativismo dos sindicalistas de estatais e dos esquerdistas chapas-brancas não passa de pistolagem política. No momento, seu alvo é Marina. Seria qualquer outro que disputasse a eleição com um petista. Essa gente toda, de algum modo, está mamando nas tetas do dinheiro público e tem medo de perder privilégios.