O relator da CPI da Pandemia no Senado, Renan Calheiros, não precisou fazer nenhuma pergunta na manhã desta quarta-feira para que o ex-ministro da Saúde Nelson Teich desse o seu recado ao governo Bolsonaro. Em fala preparada e lida na abertura do seu depoimento como testemunha — no qual assumiu o compromisso legal de dizer a verdade —, o médico que passou menos de um mês no cargo declarou que seu compromisso ali seria com a própria biografia.
“Sou bastante grato pela oportunidade de dar a minha contribuição para esse debate, o que farei de forma franca e honesta, já que meu compromisso é com a minha própria biografia, com a sociedade e com as futuras gerações”, disse Teich.
Pouco depois, ele se dedicou a apontar as razões para a sua repentina saída do Ministério da Saúde, há quase um ano, no dia 15 de maio de 2020. Na ocasião, ele não revelou os motivos e proferiu a enigmática frase “a vida é feita de escolhas, e hoje eu escolhi sair”. Na abertura do seu depoimento à CPI, Teich disse que se demitiu ao constatar que não teria a “autonomia e liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo”. E atribuiu culpa ao Jair Bolsonaro por conta da questão “cloroquina”, medicamento defendido pelo chefe do Executivo contra o novo coronavírus apesar de não ter eficácia cientificamente comprovada.
“Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina no tratamento da Covid-19. Enquanto minha convicção pessoal, baseado nos estudos, de que naquele momento não existia evidência de sua eficácia pra liberar, a gente vai falar um pouco sobre isso, existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina, que naquele momento autorizou a extensão do uso. E isso aí foi o que motivou a minha saída. Sem a liberdade para conduzir o ministério conforme as minhas convicções, optei por deixar o cargo”, afirmou.