No Amapá, desembargadora cola carta contra quarentena na porta de igreja
Magistrada bateu forte no governador e no prefeito da capital por causa do isolamento; caso está no CNJ
Entre segunda e terça-feira, 204 brasileiros perderam a vida na luta contra o coronavírus. Foi o período de 24 horas mais fúnebre desde que o país começou a contar vítimas fatais na pandemia. Ainda assim, algumas autoridades brasileiras, a exemplo do que faz o próprio presidente Jair Bolsonaro, insistem em minimizar os riscos do vírus.
Veja o caso da desembargadora Sueli Pini, atual vice-presidente do Tribunal de Justiça do Amapá. Na segunda, ela entendeu que estava no direito de divulgar uma carta para repreender o governador do estado e o prefeito da capital, Macapá, e atacar as medidas tomadas por eles na luta contra o coronavírus.
“Lá se vão inacreditáveis 25 dias de imposição de medidas de completo cerceamento da liberdade de nós cidadãos e, pior, de subtração do nosso direito de propriedade, pois fecharam nossos comércios ou limitaram o funcionamento para alguns poucos”, escreveu a magistrada.
Parecendo estar sob os efeitos da cartilha bolsonarista, a desembargadora disse que o vírus tem “baixa letalidade” e que não haveria motivo para medidas drásticas, pois o governo de Bolsonaro já encontrou a fórmula mágica para combater o inimigo que o mundo ainda pena para entender.
“O baixo índice de letalidade do vírus corona, a aprovação pela Anvisa (e até pela FDA) de um barato coquetel de remédios de alta eficiência e resultados (hidroxicloroquina + azitromicina + zinco + vitamina D, que administrados aos primeiros sinais, salva vidas e o colapso hospitalar), aliado ao fato de que a OMS já mudou de orientação quanto à quarentena horizontal e que nosso clima é extremamente adverso ao vírus corona, são fatos incontestes”, escreveu a magistrada.
Na carta, afixada nas portas da Igreja de São José, no centro da capital do Amapá, a desembargadora pede aos governantes “humildade, grandeza de atitude e boa estratégia política para retroceder e determinar a reabertura da normalidade”.
A história foi parar no gabinete do ministro Humberto Martins, corregedor do Conselho Nacional de Justiça. A magistrada tem prazo de quinze dias para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido.