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Ministro do TCU cita movimento na ‘caserna’ por Bolsonaro e prevê conflito

Em áudio enviado pelo WhatsApp, Augusto Nardes disse achar que vai acontecer "um desenlace bastante forte na nação" em questão de horas, dias ou semanas

Por Gustavo Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 nov 2022, 10h56 - Publicado em 21 nov 2022, 09h44

O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União, enviou um áudio de 8 minutos e 21 segundos pelo WhatsApp a um grupo de interlocutores no qual diz ter informações sobre “um movimento muito forte nas casernas”, em referência às Forças Armadas, e prevê para as próximas horas, dias ou, no máximo, semanas um “desenlace bastante forte na nação”, um “conflito social” com consequências imprevisíveis.

O contexto das insinuações golpistas do integrante do TCU sobre o “pior momento que a nação vai viver, mas [que] talvez seja importante para poder recuperar” é a derrota do presidente Jair Bolsonaro nas urnas para Lula — que foi o responsável pela sua nomeação para o tribunal, em 2005, quando Nardes era deputado federal pelo PP, pelo Rio Grande do Sul.

Ouça o áudio (e leia a transcrição mais abaixo):

Em “nota de esclarecimento” enviada nesta segunda, Nardes afirmou que “lamenta profundamente a interpretação que foi dada sobre um áudio despretensioso gravado apressadamente e dirigido a um grupo de amigos”.

“Para que não pairem dúvidas, [o ministro] esclarece que repudia peremptoriamente manifestações de natureza antidemocrática e golpistas, e reitera sua defesa da legalidade e das Instituições republicanas”, diz o texto enviado pelo TCU.

No áudio, o ministro se refere ao depoimento de um caminhoneiro sobre a situação no país e afirma que “nós somos hoje sociedade conservadora, que não aceita as mudanças que estão sendo impostas e que despertou”, o que diz ser “muito importante”.

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Ele então lembra que, na década de 1980, tentou criar um movimento para “contrapor toda essa transformação que acabou acontecendo no Brasil”, ocasião em que chegou a conversar com os Ernesto Geisel e João Figueiredo, presidentes durante a ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985 — “os líderes da época”, segundo Nardes. Nas palavras do ministro, eles não tiveram a visão de que tínhamos que fazer uma transição para a democracia com parlamentarismo e primeiro-ministro, fortalecendo a economia de mercado.

“Agora veio o Bolsonaro que despertou a sociedade conservadora e hoje todo mundo está nas ruas aí fazendo a sua defesa desses princípios. Demoramos, mas felizmente acordamos. Demoramos, mas felizmente acordamos”, declarou, em referência aos atos golpistas realizados diante de quartéis do Exército.

“O que vai acontecer agora? Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana, duas, talvez menos que isso que, vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. Imprevisíveis, imprevisíveis. Portanto a fala desse cidadão é pra despertar o produtor rural também porque não adianta só caminhoneiro trabalhar. Vamos perder? Sim, vamos perder alguma coisa, mas a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas”, declarou o ministro.

Na sequência, ele diz ter falado “longamente com o time do Bolsonaro essa semana” e que o presidente não está bem, por conta do ferimento causada pela doença de pele erisipela na perna. “Mas tem esperança ainda, né? Tem esperança de pode ser recuperar e melhorar a sua situação física, e certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país. Se vai haver alguma mudança em relação a isso? Só que haja uma capitulação por parte de alguns integrantes importantes e dirigentes que tudo se sente que vai pra um conflito social na nação brasileira”, acrescenta.

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Nardes então diz que não pode falar muito, até porque, sim, tem “muitas informações”, mas fez questão de passá-las ao interlocutor que chamou de “estimado Sartori” e para o seu “time aí do agro”.

Ex-deputado federal, de 1995 a 2005, ele comentou que, quando era líder da bancada ruralista, em 1999, ajudou a colocar 20.000 pessoas em Brasília e diz que “queimamos máquinas, tratores, fizemos uma escarcéu”. E comenta que fez sua parte na posição de ministro do TCU ao reprovar, pela primeira vez na história, as contas da presidente da República, Dilma Rousseff, em 2015.

“Eu tive a coragem em 130 anos, pela primeira vez, de tomar uma atitude de reprovar as contas porque encontramos 340 bilhões em [20]15 e [20]16 de irregularidades na nação. E tudo se mostra que vai acontecer novamente”, afirmou, deixando clara sua resistência ao novo governo Lula. O processo citado por Nardes ajudou a embasar o impeachment sofrido por Dilma em 2016.

“E eu fico aqui, como magistrado, procurando olhar a árvore e a floresta. A floresta, se não for tomado medidas bastante fortes, ela está indo pra um processo de ser incendiada aos poucos”, acrescentou.

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Para concluir, ele declarou que “os próximos dias serão nebulosos e o que vai acontecer de desdobramento não se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias”.

Veja abaixo a transcrição da fala de Nardes, na íntegra:

“Estimado Sartori, como eu sou magistrado e julgo muitas coisas que estão acontecendo no Brasil, praticamente muita coisa passa pelo Tribunal de Contas da União, somos nove lá, e a situação é bem complexa, muito complexa. É o pior momento que a nação vai viver, mas talvez seja importante para poder recuperar… até pelo depoimento desse caminhoneiro que mostra a visão que todo mundo está tendo, não há mais… Os intelectuais da nação hoje você consegue escutar o que a gente vem pensando há muito tempo das pessoas mais humildes da nação e que têm uma visão clara do conjunto do país. Que nós somos hoje sociedade conservadora, que não aceita as mudanças que estão sendo impostas e que despertou. Isso é muito importante.

Lá nos anos 80, quando eu voltei da Europa eu tentei criar um movimento com um grupo de especialistas e um professor de direito constitucional, César Saldanha Júnior, que hoje já está um pouco fora de combate aí em Porto Alegre, para contrapor toda essa transformação que acabou acontecendo no Brasil. Criamos um instituto, enfim, fazíamos aulas pra defender a economia de mercado, capital, mas fomos superados pela incompetência de todos nós, claro que lutamos muito, eu estive na época conversando com Ernesto Geisel, com os líderes da época, João Figueiredo, que não tiveram uma visão de que tínhamos que fazer uma transição com um parlamentarismo, e escolher um primeiro-ministro e fortalecer a economia de mercado com princípios que pudessem nortear a nação.

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Agora veio o Bolsonaro que despertou a sociedade conservadora e hoje todo mundo está nas ruas aí fazendo a sua defesa desses princípios. Demoramos, mas felizmente acordamos. Demoramos, mas felizmente acordamos.

O que vai acontecer agora? Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana, duas, talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. Imprevisíveis, imprevisíveis. Portanto a fala desse cidadão é pra despertar o produtor rural também porque não adianta só caminhoneiro trabalhar.

Vamos perder? Sim, vamos perder alguma coisa, mas a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas.

Falei longamente com o time do Bolsonaro essa semana, ele não tá bem, tá com a ferimento na perna, uma doença de pele bastante significativa, mas tem esperança ainda, né? Tem esperança de pode ser recuperar e melhorar a sua situação física, e certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país. Se vai haver alguma mudança em relação a isso? Só que haja uma capitulação por parte de alguns integrantes importantes e dirigentes que tudo se sente que vai pra um conflito social na nação brasileira.

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Eu não posso falar muito até porque, sim, tenho muitas informações, mas queria passar pra ti, Sartori, e para o teu time aí do agro que eu conheço todos os líderes e sei da importância do agro.

Até quando lá atrás negociamos a ciclo de sessão eu era o líder da bancada ruralista, articulei a união em 17 estados pra colocar 20.000 pessoas em Brasília em [19]99. Queimamos máquinas, tratores, fizemos uma escarcéu. Fizemos até carreteiro aqui pra mais de 2 mil pessoas junto com meu estimado amigo Sperotto e tantos líderes que aí acompanham junto com você esse time do agro Brasil. Então conheço todos os passos que temos que fazer.

Fiz a minha parte. Em [20]14, eu era presidente [do TCU], alertei a presidente [Dilma Rousseff] em [20]12, [20]13 o que ia acontecer no país, infelizmente não conseguimos diálogo na época. Porque eles nunca aceitaram o diálogo, eles foram pro confronto e agora é um confronto decisivo, eles vão vir para um confronto que nós todos sabemos quais são as consequências, mas nós tomamos uma decisão importantíssima em [20]15, quando eu tive a coragem em 130 anos, pela primeira vez, de tomar uma atitude de reprovar as contas porque encontramos 340 bilhões em [20]15 e [20]16 de irregularidades na nação. E tudo se mostra que vai acontecer novamente.

Ou seja, princípios de estabilidade fiscal não vão ser postos, a não ser que a sociedade faça muita pressão e que haja mudança, mas tudo está muito nebuloso em relação ao futuro do país. Não vou me alongar mais, tenho muitas informações especialmente para o grupo do agro, mas eu acho que é o grande momento, baseado no que falou esse caminhoneiro lá de Sinop, de que é necessário acordar todo o Brasil. Acordar, despertar, ter fé e crença, como nós tivemos lá em [20]15 apresentando pela primeira vez um processo que desmontou, de certa forma, essas estruturas que eles conseguiram remontar agora, baseado na estrutura que tinha já ficado, que foi muito longa. Imagina eles com mais quatro anos de governo o que vai acontecer na nação. Não sei. Vai depender da sociedade se reerguer, retomar a sua força, saber da sua força, saber da sua força. A sociedade sabe da sua força, mas não tinha despertado. Hoje nós estamos despertos, esperamos poder avaliar melhor a nação.

E eu fico aqui, como magistrado, procurando olhar a árvore e a floresta. A floresta, se não for tomado medidas bastante fortes, ela está indo pra um processo de ser incendiada aos poucos.

Um grande abraço pra vocês e estamos juntos, esperando aí a visita de vocês. Quando for ao Rio Grande eu vou lá matar a saudade e ver especialmente o meu amigo Sartori e tantos outros que estão aí junto, Francisco Turra, meu colega, homem de fé, de criança, tantos que eu poderia falar aqui, vários políticos, várias pessoas que têm capacidade de auxiliar nesse momento tão dramático da nação. Grande dia.

Os próximos dias serão nebulosos e o que vai acontecer de desdobramento não se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias. Um abraço.”

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