Horas depois de o senador Marcos do Val anunciar que aceitou o convite para se filiar ao PSDB, a Direção Nacional do partido divulgou uma nota informando que foi surpreendida com a notícia e que, caso o pedido seja formalizado, “encaminhará o seu indeferimento”.
Nos bastidores, a cúpula da legenda resolveu barrar a entrada do parlamentar do Espírito Santo, que está enrolado com o STF por conta do plano golpista com o ex-presidente Jair Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, por entender que “a biografia dele não é compatível com a história do partido”.
Filiado ao Podemos, Do Val foi convidado para a ingressar na sigla pelo líder da bancada do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), composta apenas por ele e por Plínio Valério (AM). O senador divulgou uma foto ao lado de Izalci na qual os dois exibiam um ofício enviado ao presidente Rodrigo Pacheco para informar sobre a mudança. No sistema da Casa, aliás, do Val já é tucano.
Questionado pelo Radar sobre a reação da direção do partido, Do Val enviou o print de uma conversa que teve com Izalci Lucas no começo da noite, na qual enviou o link de uma notícia sobre a resistência da cúpula tucana ao seu nome. Na sequência, ele comentou: “Tentei ajudar!”.
“Calma O psdb é assim mesmo . Tudo que falei contigo é verdade. O presidente do psdb-ES concordou, o vice governador Ricardo [Ferraço] concordou e incentivou . O senador Plinio deu a maior força . Falei agora com o líder do psdb na câmara ele achou bom . Não sei quem tem resistência . Estou indo amanhã de manhã para Porto Alegre falar com [o governador] Eduardo Leite [presidente nacional do partido]. Estou contigo e não abro .”, respondeu Izalci.
O tucano rejeitou um telefonema e não respondeu a mensagem enviada pela reportagem do Radar.
Do Val então continuou a comentar o impasse. “Esse problema não é meu! Para mim só mostra o temor do partido com a minha pessoa. Já que o pedido [partido] era do Alkimin e do Alexandre de Moraes”, escreveu o senador, em referência ao atual vice-presidente Geraldo Alckmin, hoje no PSB, e ao ministro do STF, relator do inquérito contra ele, que se desfiliou do PSDB em 2017, antes de ingressar na Corte.
Ele disse ainda que, caso a mudança não se confirme, continuará no Podemos. “Eu só aceitei para não deixar um amigo senador [Izalci] perder a liderança”, declarou.
Com apenas dois integrantes (Izalci e Plínio Valério) depois que Alessandro Vieira migrou para o MDB, a legenda havia perdido o direito regimental de ocupar uma imponente sala de liderança ao lado do plenário no Senado. O privilegiado espaço já era cobiçado por outros partidos que disputavam junto a Pacheco o direito de usá-lo, como mostrou o Radar no mês passado.
Ainda segundo Marcos do Val, ele seria “emprestado” pelo Podemos para ajudar o PSD, com a anuência da presidente do partido, a deputada federal Renata Abreu.