Uma semana após o incêndio que atingiu o prédio com grande parte do acervo da Cinemateca, na zona oeste de São Paulo, ainda não é possível mensurar quais materiais têm chance de ser recuperados.
O local abrigava itens como o acervo do cineasta Glauber Rocha e documentos da história cinematográfica brasileira.
Entidades da sociedade civil que atuam junto à instituição, de responsabilidade do governo federal, dizem que só vão poder avaliar o que foi perdido após o fim da perícia comandada pela Polícia Federal, daqui a cerca de duas semanas.
O início dos trabalhos de rescaldo, inclusive, teve atraso de quase cinco dias, deixando o prédio à mercê de intempéries, uma vez que parte do teto desabou, diz a Sociedade Amigos da Cinemateca.
A PF confirma que instaurou inquérito para investigar as causas do incêndio e que a perícia do prédio já está em andamento, mas não pontuou quando o procedimento teve início.
No meio de toda a confusão, o governador João Doria (PSDB) solicitou ao governo federal que a gestão da Cinemateca passe a ser feita pelo governo e pela prefeitura de São Paulo.
“É impressionante a negligência, o desleixo, e a irresponsabilidade. Zelar pelo patrimônio cultural é uma obrigação constitucional”, disse ao Radar o secretário estadual de Cultura, Sérgio Sá Leitão, sobre o episódio do incêndio.
O titular da pasta afirma que, caso o pedido seja acatado, será feita uma chamada pública para selecionar uma organização social que ficará responsável pela administração executiva da Cinemateca.
A falta de gestão, desde 2019, é apontada como razão do incidente — ironicamente, o governo federal publicou um edital de chamamento um dia após o incêndio.
“Vamos arcar com boa parte dos recursos e fazer investimentos necessários para que não haja mais esse risco de incêndio, para que a Cinemateca possa funcionar com a mesma excelência de outros equipamentos da Cultura no estado”, diz Sá Leitão.
O Museu de Língua Portuguesa, de responsabilidade do governo estadual, sofreu um incêndio em 2015 e teve a renovação concluída na última semana.
A seguradora à época desembolsou 43 milhões de reais no sinistro, valor que custeou parte da reforma e da ampliação do museu. A Cinemateca, por outro lado, não tem cobertura de seguro.