“Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”. A frase de Augusto Heleno, um dos principais ministros do presidente Jair Bolsonaro, só poderia dar no que deu: mais um episódio de desgaste na relação entre Executivo e Legislativo.
Afinal, fazia tempo que uma alta autoridade palaciana não apontava o dedo na cara do Congresso para chamar os liderados de Davi Alcolumbre e de Rodrigo Maia de chantagistas.
Em nome da institucionalidade do cargo, Bolsonaro deveria ter repreendido o auxiliar em público tão logo a frase contra o Congresso foi divulgada pelo jornal O Globo.
O presidente, conhecido por mandar recado por meio de seus auxiliares, silenciou em sinal de aprovação. Bolsonaro passou quase 30 anos no Parlamento. Sabe, portanto, a gravidade do ataque que seu ministro fez ao Legislativo.
Silenciou na primeira fala e silenciou quando Heleno dobrou a aposta ao mandar a turma de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre mudarem a Constituição, se desejam implantar o parlamentarismo no país.
“Externei minha visão sobre as insaciáveis reivindicações de alguns parlamentares por fatias do orçamento impositivo, o que reduz, substancialmente, o orçamento do Poder Executivo e de seus respectivos ministérios”, escreveu Heleno. “Isso, a meu ver, prejudica a atuação do Executivo e contraria os preceitos de um regime presidencialista. Se desejam o parlamentarismo, mudem a Constituição.”
Augusto Heleno subiu a rampa do Palácio do Planalto como um dos ministros mais poderosos de Jair Bolsonaro. Comanda o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o serviço secreto e o que pode o que não pode ser feito no entorno do presidente. Só não comanda a articulação política, justamente onde resolveu opinar sem ser chamado. Nesta quinta, quando levantar da cama, sua tarefa continuará sendo a mesma. Tomar café no palácio e postar comentários nas redes sociais.
Depois de bagunçar o meio de campo, sairá de cena e deixará a bronca nas mãos de Luiz Eduardo Ramos, o responsável pela articulação política do governo com o Congresso. Uma boa temporada de derrotas no Parlamento virá depois do Carnaval. Ramos que se prepare.