Em meio a uma das mais graves crises de aviação da história, duas gigantes do setor acirram uma discussão calorosa que pode transformar definitivamente o mercado brasileiro. Trata-se da possível compra da operação brasileira da Latam pela Azul, que passaria a ter em mãos cerca de 70% do espaço aéreo do país. A Latam está mergulhada em uma dívida que já ultrapassa os 10 bilhões de dólares, e está em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos. Em setembro, a companhia adiou, pela terceira vez, o prazo para apresentar um plano aos credores e às autoridades americanas. No meio dessa história, o presidente da Azul, John Rodgerson, tem afirmado o interesse em controlar a concorrente no país e, embora o grupo liderado por Jerome Cadier no Brasil tenha dito que as ofertas de financiamento passam da casa dos 5 bilhões de dólares, o chefe da Azul rechaça essa ideia, e afirma ter o melhor plano para a recuperação da Latam. Ao Radar Econômico, Rodgerson diz o que pensa sobre a junção de negócios entre as companhias e afirma não acreditar em barreiras regulatórias no Cade, e tampouco no aumento das passagens aéreas em caso de sucesso no acordo.
O senhor declara há algum tempo que planeja operar em 200 destinos no Brasil. É uma meta atrelada a uma possível negociação de compra da Latam? Estamos com 130 destinos e devemos terminar o ano com 150 destinos. Uma negociação com a Latam acelera o processo e traz mobilidade para conectar mais rápido. Mas não é trivial e, caso não aconteça, devemos chegar a 200 destinos ao longo de cinco anos.
A Latam recebeu múltiplas ofertas de financiamento avaliadas em mais de 5 bilhões de dólares cada uma. Roberto Alvo reforçou que não quer vender nenhuma unidade da Latam. O senhor ainda acredita num acordo? Essa é a versão da Latam. Pensa comigo: eles falariam tanto da Azul se estivessem bem? Por que ele (Roberto Alvo) está falando que não quer a Azul? Ele está tentando mandar mensagens sutis ao mercado e ao Cade. Se ele tivesse um acordo na mão e os credores estivessem acreditando em tudo que está dizendo, ele não iria falar da Azul. Não vamos esquecer que é a terceira vez que eles estão empurrando a recuperação judicial nos Estados Unidos. Não é novidade que eles têm ofertas de financiamento, mas a pergunta que eu faço é: quem vai controlar a empresa? Só porque tem oferta, não indica quem vai ser o dono da empresa. Isso eles não falaram. Você pode ter oferta para qualquer coisa, mas quais vão ser as contrapartidas, quem vai mandar no negócio? A questão não é quem vai investir ou deixar de investir, mas quem vai ser o dono.
O senhor conversa com os credores da Latam? O que eles têm dito ao mercado? Estamos falando com os credores sim, temos conversas abertas. Está no interesse dos credores ter sinergias no acordo, nós sabemos o plano deles. O plano da Azul é o que traz mais resultado, que paga mais impostos para o Brasil, que tem mais habilidade para comprar aeronaves, contratar e comportar mais gente. Está no melhor interesse dos credores.
Está confiante de que o desfecho dessa história será positivo para a Azul? Estou confiante de que temos um plano que é o melhor para todo mundo, talvez não para Jerome e Roberto Alvo, mas isso é outra coisa. Estou confiante porque tenho um plano melhor. É um processo judicial, tudo pode acontecer, mas estou confiante que tenho um plano melhor para os credores.
O senhor fala que tem o melhor plano para a Latam. Como é esse plano? Em quais moldes seria feita essa proposta e por que acredita que o Cade aprovaria esse negócio? É só você ver o caso de Localiza e Unidas. Duas empresas saudáveis que detém 70% do mercado e fizeram fusão. A Latam está em recuperação judicial, ou seja, o plano deles não deu certo. Para a gente ter mais empregos, para pagar mais impostos, uma junção dos negócios pode ser muito benéfica para o Brasil. Um país como o Brasil que não recebeu aporte do governo no setor, vale lembrar. Por que seria um desafio? É engraçado quando Jerome fala que a Azul está sozinha em 80% dos mercados em que nós atuamos, mas eles podem voar nesses mercados. Eles decidiram não entrar nos mercados e, agora, me chamam de monopolista. Cara, voem nesses lugares se quiserem. Tiveram 30 anos para entrar no mercado, decidiram não entrar e, agora, apontam o dedo para mim? O que ele quer que eu faça? Eu devo falar com o governador de Pernambuco e sair das sete cidades que opero lá porque sou o único nesses lugares? Está louco. Isso está gerando empregos, ajudando o Brasil a crescer, o papo dele é muito furado.
Há um temor do mercado, e reforçado pelo próprio Jerome Cadier, de que as passagens aéreas ficariam mais caras após um acordo. O senhor concorda com esse pensamento? O custo das passagens da Latam não cobriu as despesas da Latam e, por isso, eles não estão pagando os credores. A questão principal é que, ao conectar as nossas 130 cidades com as outras da Latam, ajuda a ter mais demanda no Brasil. Eu não tenho sobreposição com a Latam, só 15% da malha. A sinergia vem com conectividade, e não tarifas.
O novo adiamento da Latam para apresentar o plano de recuperação atrasa e prejudica as negociações? Se tivessem um plano bom, já teriam mostrado. É óbvio que não têm consenso entre os credores. Eles estão tentando arrumar mais tempo para fugir do plano que, talvez, seja o melhor. Já estão chegando no limite das possibilidades deles, podem postergar mais uma vez, se não me engano. Os credores querem o dinheiro de volta e estou confiante de que o nosso plano é o melhor. Se eles estivessem confiantes, não iriam falar da Azul, iam nos ignorar. Eles não têm uma coisa sólida.
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