A articulação política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou por mais um momento frágil nesta semana, durante a votação de uma medida provisória (MP) na Câmara dos Deputados. Enviada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a MP 1148, de 2022, prorroga em dois anos a desoneração em 9 pontos porcentuais da alíquota do imposto de renda pago por multinacionais brasileiras pertencentes a seis setores produtivos específicos. A MP, que prevê uma renúncia fiscal de 4,2 bilhões de reais em 2023, terminou aprovada pelos deputados. O governo deu sinal verde para o texto elaborado pela equipe do ex-ministro Paulo Guedes, mas sua base não seguiu a orientação de maneira coesa. “O governo derrotou a própria base, nunca vi isso na vida”, diz um interlocutor que atua na Câmara.
Parlamentares como o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), além de membros da federação PSOL-Rede, fizeram duras críticas à proposta chancelada pelo Executivo. Relator da matéria, o deputado Danilo Forte (União-CE) expôs o imbróglio em Plenário. “Esse relatório teve a aprovação da liderança do governo na Casa. O que percebemos são segmentos ligados ao governo questionando a política econômica do próprio governo”, disse. A federação entre PSOL e Rede foi a única agremiação que orientou contra a matéria. “Apesar da inércia de alguns da base, o PSOL vota não”, alfinetou Chico Alencar (PSOL-RJ). O governo tem evitado marcar posição contrária em votações de medidas de Bolsonaro diante da incerteza em relação ao tamanho da base governista e às críticas sobre a articulação — ou desarticulação — política do Executivo.