Presidente do Banco Central (BC) durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o economista Arminio Fraga vê com preocupação os recentes petardos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à autonomia da autoridade monetária. Em entrevista ao Radar Econômico, ele afirma que as recentes declarações de Lula criam “tensões, muita incerteza e pressões na taxa de juros e no prêmio de risco”. “O presidente e membros do governo vêm colocando desejos voluntaristas à frente da atuação de uma instituição que tem autonomia e independência para buscar um objetivo definido pelo governo”, afirma ele.
“As falas envolvem uma concentração de ideias erradas, mais do que achar uma desculpa ou um culpado por um eventual fracasso do governo, seja pelo descumprimento da meta de inflação ou por um eventual baixo crescimento”, defende.
“Pelo lado fiscal, essa insistência em colocar a atuação do BC à prova passa uma mensagem de que a busca pela responsabilidade fiscal não é prioridade do governo, mas um elemento prejudicial a outras prioridades, como as envolvendo políticas sociais — o que não é verdade”, diz Arminio. “Um país que cresce menos do que deveria e é descuidado com suas prioridades não é o país que queremos”, afirma. Ele compara as pressões de Lula em relação ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, às que recebia enquanto estava à frente da autarquia. “Quando estive à frente do Banco Central, as pressões envolviam que eu atuasse com responsabilidade. Nunca houve intenção de mandar para o Senado um pedido de demissão mesmo quando elevei juros de forma necessária”, diz.
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