Aumenta a cada dia o número de apostares presos num ciclo vicioso – de um lado a euforia da expectativa de ganhar dinheiro de forma fácil e rápida e do outro o medo da frustração de perder. A pessoa dependente de apostas não consegue priorizar os gastos básicos e geralmente usa ao menos parte do ganho em novos jogos. Não é diferente de muitos ciclos que levam algumas famílias à ruína financeira.
A mais recente pesquisa do Instituto Locomotiva, que traz dados inéditos sobre o perfil dos apostadores das bets no país, demonstra que o atual cenário é cada vez mais preocupante para o bolso dos brasileiros. Atualmente, dois terços desses apostadores estão com o nome negativado na praça e 86% dos brasileiros estão endividados. Mas o que leva uma pessoa com dívidas a continuar apostando? Provavelmente o desespero para quitá-las.
Cerca de 52 milhões de brasileiros já apostaram em plataformas especializadas. Desses, 79% são das classes C, D e E. É difícil sustentar a ideia de que uma pessoa com pouco dinheiro no bolso consegue priorizar gastos no momento do desespero, ou exigir educação financeira sem políticas educativas. O apostador que já é dependente das bets tem menos chances de quitar dívidas comparado a alguém que não está apostando e que guarda esse dinheiro que podia ser usado para pagar contas e restabelecer o crédito.
Outro ponto que chama atenção, é o crescimento dos apostadores mais jovens. O levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva aponta que 41% dos apostadores têm entre 30 e 49 anos, e a faixa etária de 19 a 29 anos já representa 40% desse público. O jovem está apostando mais por ser mais conectado e ativo digitalmente, sendo o público mais impactado pelo efeito das redes sociais.
A publicidade crescente e exaustiva das apostas esportivas nas mídias digitais – muitas vezes impulsionada por influenciadores de grande alcance – é um dos principais fatores para o crescimento desses novos apostadores. Isso acende um alerta, pois essa parcela da população é mais vulnerável economicamente, não tem dinheiro dos pais e nem a renda fixa dos avós aposentados. Justamente por serem mais instáveis financeiramente, são mais inclinados a buscarem recompensas imediatas.
Vale destacar também que a prática das apostas não está mais associada a poucos segmentos da sociedade, como torcedores de futebol, ela cresceu e hoje está disseminada em toda a sociedade. Isso está diretamente vinculado ao investimento das casas de apostas nos meios virtuais.
Para começar a mudar esse cenário, é necessário que o poder público invista em políticas públicas, em campanhas de conscientização e em uma rigorosa regulamentação para publicidade das bets no país. Essas medidas são necessárias para que os brasileiros não paguem esse preço sozinhos.