As comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil nas vésperas do primeiro turno das eleições dão dicas importantes sobre como será a reta final da campanha.
– Neste feriado tivemos dois presidentes, o Jair candidato à reeleição, que aparece emocionado no horário eleitoral, e o velho Bolsonaro de sempre, que carrega todos os estereótipos do tiozão do churrasco.
– Logo pela manhã, ainda no café, Bolsonaro se deixa flagrar na versão palaciana do cercadinho, fornecendo argumentos (e recortes de vídeo para as redes sociais) onde, mesmo sem citar nomes, fustiga o STF lembrando de momentos históricos em que tivemos algum tipo de mudança institucional. Ainda em Brasília, escorrega no decoro e no machismo ao se referir as mulheres. No entanto, com declarações sem potencial de risco de rejeição para além de quem já o rejeita.
– Em Copacabana, o Jair entra em campo com um discurso guiado pela ala política – e pelas pesquisas que ele tanto nega. O presidente usou e abusou de frases de impacto para a cobertura jornalística e propagandas eleitorais. Trocou o tradicional questionamento das urnas e das instituições por elencar as ações do governo.
– Jair não abordou temas econômicos, não menosprezou as vítimas da pandemia e, praticamente, não tocou na pauta de armamento da população. A razão é clara: estes são os temas que mais afastam as eleitoras. E não custa lembrar, 8 em cada 10 eleitores que colocam Lula na frente são mulheres.
– A campanha de reeleição sai com a sensação de missão cumprida ao conseguir a proeza de, ao mesmo tempo, manter sua base mobilizada para uma virada eleitoral e sem afrontar o eleitorado indeciso, além de conseguir imagens de forte apoio popular que possibilitam relativizar a realidade estatística e descredibilizar a imprensa profissional e os institutos de pesquisa tradicionais.
– Por sua vez, a oposição ao governo sai frustrada. Sabe que a não radicalização do 7 de Setembro leva a manutenção do eleitorado bolsonarista além de não criar barreiras para o gradual resgate do eleitor de 2018.
– No QG de Lula, duas constatações são certas: 1) não existe mais espaço para o clima de já ganhou, e 2) com uma militância menos engajada e sem contar com um grande feriado nacional, dificilmente Lula conseguirá colocar mais gente na rua do que o atual Presidente da República.
Por fim, assim como na sabatina do Jornal Nacional, empate em jogo difícil é vitória. O grande comício de 7 de Setembro pode não ter sido capaz de furar a bolha do incumbente, mas deixou distante o sonho oposicionista de levar a eleição no primeiro turno.