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Pé na estrada

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Viagens de carro para quem ama o caminho tanto quanto o destino
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Aventura na Argentina: rodamos 500 km nos cânions e no mar de sal de Jujuy

A bordo da picape Rampage participamos da primeira Ram Expedition, jornada que passou por alguns dos mais belos cartões-postais do norte do país

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 set 2024, 16h34 - Publicado em 2 ago 2024, 12h18
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  • O mapa do carro diz que estamos sobre um grande lago. Mas a água sob nossos pneus já evaporou há muito tempo, deixando uma camada de sal de mais de 30 centímetros de profundidade. Formado em um período entre cinco e dez milhões de anos atrás, o salar de Salinas Grandes, localizado em Jujuy, no norte da Argentina, é o segundo maior da América do Sul, atrás apenas de Uyuni, na Bolívia. É uma vastidão branca sob o céu completamente azul e sem nuvens de julho, quando o tempo é mais seco. Ao fundo, o horizonte é recortado pela silhueta irregular da Cordilheira dos Andes. Faz frio. Os termômetros marcam sete graus, mas a sensação à sombra é ainda menor. Depois de rodarmos pouco mais de 220 quilômetros, chegamos a uma das principais belezas naturais da ainda pouco explorada região norte da Argentina.

    O salar de Salinas Grandes era, também, um dos principais destinos da primeira Ram Expedition, evento organizado pela marca de caminhonetes de luxo para alguns clientes. A proposta é aventureira: rodar mais de mil quilômetros com a Rampage, picape da marca americana desenvolvida no Brasil e que completa agora um ano no mercado. Além de visitar destinos extraordinários, o objetivo é testar a capacidade da Rampage em uma “road trip” mais extensa que percorreria estradas de asfalto e trechos de terra.

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    Percorremos trechos da Ruta Nacional 9, que liga a cidade de Buenos Aires à Bolívia e tem quase 2 mil quilômetros de extensão – (André Sollitto/VEJA)

    A expedição teve início na cidade de Salta, na província de mesmo nome no noroeste da Argentina. Com arquitetura colonial, Salta, La Linda, como é chamada, tem se tornado um dos principais destinos turísticos do país. Além da beleza arquitetônica, tem enorme relevância para a história argentina. Fundada em 1582, fez parte do vice-reino do Peru, um distrito administrativo do império espanhol que incluía não apenas o Peru, mas boa parte do território controlado pela Espanha na América Latina, governado a partir da capital, Lima. Em 1813, as tropas revolucionárias lideradas pelo General Manuel Belgrano superaram os monarquistas na Batalha de Salta, e foi nesta cidade argentina que a bandeira azul e branca foi oficialmente hasteada pela primeira vez.

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    O melhor caminho para sair de Salta e chegar a Jujuy passa pela Ruta Nacional 9, importante ligação que começa em Buenos Aires e segue por quase dois mil quilômetros de extensão até a Bolívia. Mas em vez de seguir sem parar na direção norte rumo ao país vizinho é preciso virar à esquerda um pouco depois do vilarejo de Purmamarca e pegar a Ruta 52, que liga a Argentina ao Chile, e subir de forma constante pela Cuesta de Lipán, que parte de 2.192 metros de altitude até alcançar o ponto mais alto, a 4.170 metros. O visual é impressionante. Para que o motorista não descuide da atenção no trecho repleto de curvas, há vários mirantes no caminho.

    No mirante da Cuesta de Lipán é possível ver os sinuosos trechos da estrada que levam a uma altitude de 4.192 metros -
    No mirante da Cuesta de Lipán é possível ver os sinuosos trechos da estrada que levam a uma altitude de 4.192 metros – (André Sollitto/VEJA)

    Nessa altitude, é esperada uma perda de rendimento do carro. A cada mil metros acima do mar, a quantidade de oxigênio disponível na atmosfera cai 10%. A eletrônica do veículo é capaz de compensar essa perda e manter a potência, mas a um custo maior de combustível. Mesmo assim, a Rampage mostrou que consegue entregar bom consumo. Nos trechos mais baixos da viagem, fizemos cerca de 10,3 quilômetros por litro. Acima dos 3 mil metros, percebemos que o rendimento caiu para cerca de 9 km/l. Um resultado surpreendente, considerando condições de uso mais amenas, sem grandes acelerações. Curtindo o passeio, sem forçar nada.

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    Nesse trecho pela Cuesta de Lipán o ponto alto, literalmente, é o monolito no ponto mais alto, a 4.170 metros. Pausa obrigatória para fotos. O mirante sempre tem turistas esperando pelo momento de fazer seu registro, e há alguns vendedores de artesanatos, principalmente gorros e ponchos, e de produtos variados elaborados com coca que ajudam a aliviar os efeitos da altitude, como balas, chás e folhas. Quem quiser levar lembrancinhas precisa ter dinheiro em espécie, já que o local, um tanto inóspito, não tem sinal de celular.

    O comboio da Expedição segue em direção a Salinas Grandes -
    O comboio da Expedição segue em direção a Salinas Grandes – (Stellantis/Divulgação)

    A proposta da expedição é testar as capacidades da Rampage em uma viagem mais longa. Não se trata de uma caminhonete projetada para situações extremas, Longe disso. Mas ela tem tração sob demanda nas quatro rodas, além da reduzida, para trechos mais acidentados. Embora não seja feita para o offroad mais exigente, encara trechos de terra com tranquilidade. O motor 2.0 turbo a gasolina de 272 cv e torque de 40,8 kgfm é suficiente para percorrer as estradas e fazer eventuais ultrapassagens em caminhões mais lentos sem grandes esforços. Mais do que potência, no entanto, é capaz de encarar o trajeto com conforto. Houve uma preocupação em projetar uma cabine com “mimos” suficientes para facilitar períodos mais longos ao volante.

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    Mas nenhuma aventura é completa sem um trecho acidentado. Fizemos um desvio da Ruta 52 para uma parada no vilarejo de Três Morros. O caminho até lá é em uma estrada de terra batida. O comboio de caminhonetes levantava poeira e a visibilidade diminuía à medida que avançamos até a parada no pequeno agrupamento de casas onde moram apenas seis famílias. Há anos o cenário desértico é parada obrigatória para os viajantes que percorrem a região norte da Argentina. Lá, os moradores se dedicam à produção de peças de artesanato, feita com a lã de lhamas, os simpáticos ruminantes domesticados da região andina. Além de fornecer lã, as lhamas viram alimento para os povos locais.

    A pequena igreja do vilarejo de Três Morros, onde vivem apenas seis famílias -
    A pequena igreja do vilarejo de Três Morros, onde vivem apenas seis famílias – (André Sollitto/VEJA)

    Voltamos ao volante da Rampage com destino a Salinas Grandes. Ao sair da estrada e entrar na imensidão branca, o trajeto que podemos percorrer é marcado por pequenas estacas no chão. Não é permitido danificar o salar, que é usado pela população para a extração comercial do sal. Há um hotel de luxo instalado no meio do deserto de sal. O Pristine Luxury Camp é um “glamping“, ou seja, um acampamento de altíssimo padrão, com cabanas espaçosas, aquecidas (já que a temperatura pode passar dos 15 graus negativos à noite) e aconchegantes. No centro do espaço há um restaurante que serve iguarias como empanadas e cumbucas de carne de lhama com batatas. A equipe do hotel conta que toda a estrutura é sustentável, com eletricidade gerada por placas solares, um projeto de inclusão social para jovens da comunidade local e reciclagem de materiais usados na operação.

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    As cabanas do glamping Pristine Luxury Camp, no meio de Salinas Grandes -
    As cabanas do glamping Pristine Luxury Camp, no meio de Salinas Grandes – (André Sollitto/VEJA)

    No retorno a Salta passamos pelo cenário impressionante da Quebrada de Humahuaca. Quebrada é o nome usado para designar os cânions na Argentina. As formações geológicas chamam a atenção não apenas pelo tamanho, mas pela diversidade de cores. Há morros em tons esverdeados, amarelados e em variações de marrom. Desde 2002, Humahuaca é considerada Patrimônio Mundial pela Unesco. Habitada há mais de dez mil anos, a região era uma rota de caravanas para o império Inca no século XV. Hoje, é rota importantíssima para o turismo. O principal cartão-postal da região é o Cerro de los Siete Colores, um dos morros de Humauaca conhecido pela gama de cores, resultado da formação geológica complexa que conta com sedimentos marinhos, lacustres e fluviais.

    Logo abaixo do morro, com vista privilegiada para a cadeia de montanhas, fica a cidade de Purmamarca. Com cerca de três mil habitantes, a vila vive do turismo. Há pousadas, hostels e, fora do centro, alguns hotéis maiores que acomodam viajantes argentinos e estrangeiros. Na praça central da cidade fica o famoso mercado de artesanato, onde é possível comprar ponchos feitos de pelo alpaca, bolsas, esculturas de argila e outros suvenires, como pequenas garrafas com areia colorida que reproduzem a geografia local. Dá para entender seu apelo. Caminhar pelas suas ruazinhas estreitas, com a cadeia de montanhas ao fundo, é uma experiência incrível.

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    O mercado de artesanato de Purmamarca, com a cadeia de montanhas ao fundo -
    O mercado de artesanato de Purmamarca, com a cadeia de montanhas ao fundo – (André Sollitto/VEJA)

    O ponto final do primeiro dia foi a cidade de Salta, nossa base na primeira perna da viagem. Após cerca de quinhentos quilômetros percorridos, era hora de um merecido descanso. Mas a aventura continua. No dia seguinte, mais uma vez, acordaríamos antes do nascer do sol e voltaríamos ao volante da Rampage e seguiríamos em direção sul, para Cafayate, importante região produtora de vinhos em altitude.

    Esta é a primeira parte do relato sobre a Ram Expedition na Argentina. Leia a segunda parte aqui.

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