Sabe o que eu acho mais engraçado? Eu ser chamado de nostálgico. Nessa quarentena, algumas emissoras de televisão resolveram transmitir Copas do Mundo do passado e não se falou em outra coisa. Os grupos no “Zap” estavam tinindo: “vai começar Brasil x Uruguai”, “viram a arrancada do Furacão?”, “o Pelé era demais!”. E o saudosista sou eu.
O que mais me incomodou foram as mesas-redondas atuais comentando essas partidas. Deveria ser proibido. Deixei no mudo, claro. Até porque os analistas de computadores engomadinhos seguem falando baboseiras! Não dá para tratarem o goleiro Félix com tanto menosprezo. Félix foi um goleiraço!
Falhava, claro, mas até Pelé dava suas caneladas. Vocês viram quantos chutes errados o Riva deu contra a Itália? Eu já errei dribles, dominei mal e perdi um gol feito contra a Holanda. E o Félix, como todos nós, também errava. Quem acompanhou a carreira dele inteira? Quem tem bagagem para tratá-lo com esse desrespeito?
Outro dia ouvi o Paulo Victor, ídolo tricolor, dizer que antigamente tínhamos grandes goleiros e hoje temos goleiros grandes. Hoje temos atletas, bem diferente de jogadores. Algum jornalista foi medir a grossura das coxas dos italianos, romenos e uruguaios, na Copa de 70, para compará-las com a de Gerson e Tostão, por exemplo?
Hoje todos jogam de camisetinha colada no corpo, com um GPS instalado, para saber quantos quilômetros correram e quantas calorias foram perdidas. O que percorrer a mais longa distância será o mais elogiado pelos fisiologistas. Agora, mande baterem uma falta com precisão, lá onde a coruja dorme! Falar mal do Félix é fácil.
Já joguei com goleiros altos que nunca souberam sair do gol e baixos que tinham uma agilidade impressionante. Ubirajara Mota é um deles. O ditado diz que quanto mais alto maior é o tombo. Hoje o jogador brasileiro mais valorizado na Europa é o goleiro Alisson. Se não é o mais é um dos mais.
E isso só mostra a decadência avassaladora de nosso futebol. Talvez pela desmoralização sofrida por Barbosa, Félix, Waldir Peres e, porque não Jeferson, os treinadores resolveram investir pesado nessa posição. Esqueceram o resto.
É inadmissível falarem mal de Félix. Teve uma carreira brilhante no Fluminense e, reza a lenda, que em 1964, ainda na Portuguesa, de Ivair, o Príncipe, durante um amistoso, nos Estados Unidos, com o jogo já em 9×0 foi colocado de centroavante e fez um gol.
É fácil dizer que Almir Pernambuquinho era brigão, era mesmo, e omitir que ele jogou muita bola. Félix foi um goleiraço. Mas a imprensa prefere colocar holofote na defesa de Banks, coisa de cinema, na cabeçada de Pelé.
Nesse mesmo jogo, contra Inglaterra, Félix salvou o Brasil. O verbo é esse mesmo, “salvou” o Brasil. Quero saber se algum jornalista preocupou-se em saber quanto Gordon Banks mede, se é mais alto que Félix ou se apenas foi mais um baixinho sortudo. Exaltamos Banks e menosprezamos Félix sem conhecer suas carreiras, seus títulos.
Félix, descanse em paz porque eles não sabem o que dizem.