A tradicional premiação BRIT Awards buscou ousar e celebrar sua maior honraria de forma neutra, mas o tiro saiu pela culatra. No sábado, 11, ocorreu a segunda edição desde que o equivalente britânico do Grammy optou por unir as categorias de melhor artista masculino e melhor artista feminina do ano em um único prêmio, para abarcar aqueles que se identificam como não binários — caso de Sam Smith, que motivou a mudança pela Indústria Fonográfica Britânica (BPI), organizadora do evento. O resultado da 43ª edição, porém, foi uma categoria dominada pelos homens: nenhuma mulher foi indicada, e o prêmio suscitou discussões entre os que acompanham o meio.
Harry Styles foi o grande vencedor da noite e reconheceu: “Estou muito ciente do meu privilégio aqui esta noite, então este prêmio é para Rina, Charli, Florence, Mabel e Becky”. Ele fazia referência às artistas femininas britânicas que ficaram de fora da lista: Rina Sawayama, Charli XCX, Florence Welch, Mabel e Becky Hill. Em 2022, o BRIT foi largamente elogiado pela decisão, agora questionada como uma espécie de retrocesso. O que deveria celebrar a diversidade acabou, na verdade, minando a visibilidade das mulheres. Sam Smith, que concorria em duas categorias, também criticou as indicações exclusivamente masculinas em entrevista concedida recentemente ao jornal The Sunday Times. “Existem tantos talentos femininos incríveis no Reino Unido – elas deveriam estar nessa lista”, disse.
A busca por mecanismos que permitam maior inclusão tem sido uma constante entre as premiações. O efeito visto no BRIT mostrou que não é tão simples remover categorias pautadas em gênero. Em 2022, Adele faturou o prêmio principal e notou: “Eu entendo porque o nome deste prêmio mudou, mas eu realmente amo ser mulher e ser uma artista feminina”. A categoria do ano do BRIT é conhecida por ter critérios rígidos: para poder concorrer, os artistas devem ter lançado um álbum no Top 40 ou dois singles no Top 20, dentro de um período de um ano. Em 2023, somente doze artistas femininas e um não binário se qualificaram para a pré-seleção, contra 58 homens — números que escancaram as diferenças de oportunidades entre os grupos.
De acordo com o The New York Times, a saxofonista e presidente do BPI YolanDa Brown disse que a organização vai revisar o processo de indicações e determinar se alguma mudança é necessária para apoiar as mulheres. “A mudança e a evolução são desconfortáveis. O sucesso da mudança para categorias de gênero neutro deve ser julgado por um período de tempo mais longo”, afirmou.