O início dos anos 2000 foi um período esquisito. A década, que começou com o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001 sugeria que o mundo estaria próximo de uma guerra nuclear, com George W. Bush reeleito presidente e a Guerra no Iraque. Naquela época, a utopia de que o mundo poderia ser mudado por meio do rock ainda era forte. Não por acaso, R.E.M havia acabado de lançar Around The Sun, e Green Day colocou nas ruas seu American Idiot. Mas foi com o U2, em How to Dismantle an Atomic Bomb, de 2004, que o grito mais forte contra a guerra – e também mais ingênuo – foi dado.
O álbum, que neste ano completa 20 anos de lançamento, acaba de ser relançado remasterizado, com 22 faixas, sendo dez delas extraídas das sessões de gravação original, como as inéditas Treason, Evidence Of Life, Country Mile e Happiness. O trabalho, que contou com o mega hit Vertigo, foi recebido na época como uma pedrada política, mas, ao ouvi-lo hoje, soa exagerado. É impossível escapar da sensação de que as músicas envelheceram mal, especialmente em tempos de polarização política, reeleição de Donald Trump e a guerra na Ucrânia, com a Rússia lançando foguetes que podem carregar bombas nucleares.
How to Dismantle an Atomic Bomb, por outro lado, foi o álbum que encontrou o U2 além do auge. Após imensos sucessos nos anos 1980 e 1990, a banda irlandesa adentrava o século XXI acima do bem e do mal, como uma espécie de unanimidade roqueira, tudo aquilo que todas as bandas de rock almejavam um dia ser. Mas o que se ouvia neste álbum eram letras bobas, como em Love And Peace Or Else, onde a banda pedia para que todos “as filhas de Sião, todos os filhos de Abraão baixassem as armas”, e no refrão entoava: “Nós precisamos de amor e paz. Amor e paz”. Outra destoante era Yahweh, em que pedia paz ao Deus do Antigo Testamento. Apesar de o título apelar para a política internacional, não há nada particularmente contundente no álbum. How to Dismantle an Atomic Bomb não é o pior álbum deles (alô Zooropa e Pop), mas de longe foi o mais pretensioso de todos.