A jovem Kim Petras deixou sua Alemanha natal em 2011, aos 19 anos, e embarcou para Los Angeles, nos Estados Unidos, em busca de um sonho: ser reconhecida, acima de qualquer coisa, por sua música. A jornada atingiu o ápice no fim do ano passado — hoje, aos 31, a alemã se converteu em mania com o hit Unholy. A parceria com Sam Smith fez dela a primeira artista transgênero a alcançar o topo do Spotify global, e também a primeira mulher trans a levar um Grammy para casa. A cantora, que lançou recentemente o álbum Feed the Beast, é atração do The Town no domingo, 10. Em entrevista a VEJA, Kim comentou os desafios da carreira e revelou interesse em colaborar com Anitta e Pabllo Vittar. Confira a entrevista:
Você toca no The Town no domingo 10. Já pensou em colaborar com artistas brasileiros? Eu sou obcecada pela Anitta, ela é incrível. E, é claro, a Pabllo. Adoraria colaborar com as duas assim que possível. Temos falado sobre isso, então, assim que encontrarmos um tempo, eu adoraria que isso acontecesse. Mas o que mais me anima no Brasil é finalmente poder conhecer meus fãs brasileiros. Eles estão comigo desde o começo.
Antes mesmo de todo o sucesso? Sim. Quando eu era adolescente, postava vídeos na internet e nos comentários sempre havia pessoas pedindo para que eu fosse ao Brasil. Isso fez eu sentir que havia um mundo lá fora que realmente se importava com a minha música. Tenho insistido para ir ao Brasil há anos, porque é um sonho. Minha prioridade é conhecer o máximo de fãs possível, porque eles representam o mundo para mim.
Você venceu um Grammy por Unholy, e lançou recentemente o álbum Feed The Beast. Sentiu algum tipo de pressão para repetir o sucesso? No começo sim. Unholy foi número um e venceu um Grammy. Então sempre pensava que nada que eu fizesse seria igual. Mas nem deveria ser. Não quero ser repetitiva. Eu faço música porque eu quero, porque é o meu propósito de vida. Sinto que cresci como pessoa e como artista. Fiz esse álbum ao longo dos últimos três anos e estou muito orgulhosa. Ele não precisa fazer o que Unholy fez para ser um sucesso para mim e para os meus fãs. Mas seria incrível.
Você comentou que o seu disco é direcionado à indústria da música. Em que sentido? Feed the Beast pra mim significa fazer o que você tem mais medo. Quando eu comecei o álbum, eu estava com medo de me tornar uma artista grande e dos julgamentos que surgiriam. Ter tantos olhos voltados para mim é uma coisa difícil de lidar. É um mundo completamente diferente, onde as pessoas te destroem e odeiam tudo sobre você. Foi difícil, mas eu sempre quis fazer música pop e ser o mais autêntica possível. Sinto que, finalmente, não estou mais com medo. Então, o disco é uma lembrança para as pessoas não se subestimarem ou tentarem se encaixar. Eu não quero me encaixar em lugar nenhum. Eu faço minha música a partir do meu ponto de vista e das referências de onde eu vim.
Você começou na música há mais de um década, e é a primeira mulher trans a vencer um Grammy. O que mudou na indústria nesse período? Acho que a minha existência mudou bastante o que achavam que pessoas trans poderiam fazer. Quando eu comecei, não havia outros artistas trans ocupando os espaços que eu ocupei e com os números que eu fiz. Então, sempre me perguntavam quem ouviria minha música, se ela era apenas para boates gays. E não era um questionamento positivo, era depreciativo. Eu tive que provar que posso lotar shows, fazer turnês, e mostrar que as pessoas ouvem a minha música, que ela não é tão nichada quanto pensavam que seria.
E como era no começo? Era um tabu, uma grande coisa. Quando fiz minhas primeiras reuniões com grandes gravadoras, não conseguiam me entender. Sinto que hoje as portas estão abertas e isso é incrível. Acho que a indústria da música sempre precisa de um lembrete monetário do que pode fazer dinheiro.
Então a inclusão também é sobre dinheiro? Sim. Não acho que as pessoas na indústria realmente aceitem ou respeitem mais as pessoas trans. O mundo percebeu que podemos gerar dinheiro. Por mais frustrante que isso seja, pelo menos estão nos dando uma chance.