Formar um ídolo do k-pop não é tarefa fácil. Os postulantes devem saber cantar, dançar, compor e tocar, num treinamento que pode durar cinco anos. Eles precisam ainda ser bonitos e não ter passado polêmico. Quando estreiam, enfim, nada garante o sucesso — e a pressão é tão grande que muitos sucumbem à depressão e até ao suicídio. Trata-se de uma cultura difícil de ser mudada, já que os fãs buscam ídolos perfeitos e se exige do artista um nível de performance quase do padrão de uma máquina. Com a popularização da inteligência artificial na música, é exatamente isso que está acontecendo no showbiz da Coreia do Sul. Dois novos grupos femininos de k-pop, Eternity e Mave, exibem belas meninas entre 19 e 20 anos — só que de mentirinha: elas são figuras hiper-realistas criadas digitalmente.
K-Pop – Manual de Sobrevivência
A aposta nos popstars high-tech remonta à década de 70, quando os músicos do Kraftwerk surgiram no palco imitando a postura de autômatos, de forma a harmonizar com os sons e batidas de sintetizadores. Agora, ocorre o inverso, ou seja, são robôs fazendo o papel de gente de carne e osso. As vozes das novas sensações do k-pop foram criadas por computador e suas fisionomias surgiram a partir de uma mescla do que é considerado padrão de beleza na Coreia do Sul.
O resultado é, ao mesmo tempo, impressionante e assustador. Apesar de não esconderem que são personagens virtuais, as meninas interagem com os fãs tal como artistas reais. Elas dão entrevistas contando seus gostos pessoais (“curto fazer imitações”, diz Seoa, do Eternity) e mostram sua rotina “humana”. Só não fazem — ainda — shows ao vivo.
Twice: The Story of K-Pop’s Greatest Girl Group
Formado neste ano, o Mave tem só duas músicas lançadas, mas já acumula visualizações de fazer inveja a muito artista de carne e osso. A faixa Pandora, que surgiu em janeiro, já tem 24 milhões de views no YouTube. O Eternity, criado há cerca de um ano, segue a mesma toada. A canção DTDTGMGN já acumula 6,5 milhões de views. Os clipes têm tudo que os fãs de k-pop amam, com suas coreografias elaboradas, ídolos carismáticos e músicas dançantes.
Obviamente, a criação de novos ídolos tem um claro objetivo comercial: a ideia é transformar as personagens em influencers e lucrar alto com elas. Nisso, os avatares musicais oferecem um custo-benefício notável — ainda que controverso. Enquanto humanos têm problemas pessoais e dão trabalho, seus similares virtuais não falham. “Os escândalos das estrelas reais do k-pop são um risco para os negócios”, já declarou Park Jieun, produtora da Eternity. Pelo jeito, o show dos ídolos virtuais só começou.
Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847
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