Há 39 anos, em 28 de janeiro de 1985, um alinhamento de astros (musicais) jamais vistos ocorreu em um estúdio de Los Angeles. Naquela noite, após a premiação do VMA, os maiores artistas pop dos Estados Unidos se reuniram para gravar We Are The World, canção composta por Michael Jackson e Lionel Ritchie, com o objetivo de arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia. Em cartaz na Netflix, o documentário A Noite Que Mudou o Pop conta curiosidades e bastidores daquele encontro que entrou para a história, com causos para lá de saborosos e curiosidades nunca reveladas.
Com entrevistas com os principais participantes da gravação, o filme vai além de polêmicas rasas e disputas de egos entre Madonna e Cindy Lauper ou Michael Jackson e Prince, para focar em histórias divertidas da gravação, que começou às 23h e só foi terminar às 6h. Rapidamente, eles explicam que Madonna simplesmente foi esnobada e não convidada. Cindy Lauper sempre foi a primeira opção e ela quase desistiu porque seu namorado à época achava que a música não faria sucesso.
Já Prince foi um pouco mais complicado. O músico era, sim, aguardado e sua presença ao lado de Michael Jackson iria ajudar a mostrar que os dois eram apenas concorrentes musicais e não rivais. Prince, no entanto, não aceitou ir ao estúdio, mesmo com uma tática para lá de condenável de Lionel Richie. O músico convidou Sheila E., à época melhor amiga de Prince. A artista ficou radiante com o convite, porém, durante a gravação, percebeu que ela estava sendo usada apenas como isca para que Prince fosse para o estúdio. Apesar de ter gravado o coro de We Are The World, Sheila saiu da sessão chateada com a forma tratada.
Polêmicas à parte, o que diverte no documentário são as inúmeras curiosidades apresentadas. Lionel Richie revela que os bastidores da gravação da música, feita na casa de Michael Jackson, foi interrompido várias vezes pelos bichos do músico. Em uma delas, o cachorro brigou com o periquito. Em outro momento, Jackson deu o macaco Bubbles para Ritchie segurar. Mas, o momento mais hilariante é quando Ritchie está compondo um dos versos da música e percebe que um livro cai da estante. De repente, ele começa a ouvir um chiado e quando olha para o lado, uma cobra o encara assustadoramente. Ritchie começa a gritar e Michael diz: “Olha ela, aí. Eu a estava procurando, ela gostou de ouvir você cantando”, diz. Ritchie lembra que, naquele momento, tudo o que ele queria era fugir daquele zoológico.
Há outras curiosidades divertidas, como quando Stevie Wonder decide cantar em suaíli, uma das inúmeras línguas africanas, porém não falada na Etiópia. Os convidados ficaram sem entender nada e o cantor country Waylon Jennings, que já estava horas em pé, não gostou do que ouviu. Ele, então, teria dito: “Um garoto simples do interior não canta em suaíli, vou dar o fora daqui”, e simplesmente abriu a porta e foi embora.
A lista de histórias divertidas continua com um insólito pedido para ir ao banheiro, feito por Ray Charles, que é cego. Stevie Wonder, outro cego, pega na mão de Charles e diz: “eu te levo”. Imediatamente, a sala toda cai na gargalhada. O que poucos sabem ainda é que Al Jarreau, entediado, bebeu várias garrafas de vinho e ficou completamente embriagado e precisou repetir várias vezes seu curto solo porque não conseguia segurar uma nota.
Um dos grandes astros, Bob Dylan, era o mais deslocado no lugar. O músico e ganhador do Nobel de literatura, não parecia enturmado e completamente envergonhando, não conseguiu cantar na presença dos outros músicos. Para contornar a situação, Quincy Jones pediu que todos se retirassem da sala para, enfim, Dylan soltar a voz. Há ainda pequenos problemas técnicos que só foram descobertos após observar as idiossincrasias de cada artista. Por exemplo, o microfone de Cindy Lauper chiava sempre e ninguém sabia a razão. Até que um técnico de som matou a charada: as pulseiras dela causavam o barulho, sendo preciso que ela tirasse todos os adereços para cantar.
A gravação contou ainda com atores como Dan Aykroyd, de Os Caça-Fantasmas, e de Bete Midler, de Abracadabra. O que também rendeu boas piadas no estúdio, quando um barulho misterioso tomou conta da gravação. Os músicos começaram a dizer que era um fantasma e cantaram a música tema do filme, enquanto todos olhavam para Dan esperando que ele resolvesse.
Mas, a mais impagável de todas as histórias é de um cinegrafista que registrava tudo para o posterior clipe. Enquanto filmava seus maiores ídolos, ele pensava: “Não acredito que ainda estão me pagando para gravar Paul Simon de tão pertindo”. Ao final, quando ele foi fazer a nota para cobrar pelo serviço, alguém disse para ele: “Pera lá, aqui todo mundo foi voluntário. É pelas crianças da África, não vamos pagar ninguém”. E ele, de fato, não recebeu um tostão.