Os primeiros seis meses do ano já se foram e é possível fazer um balanço dos melhores lançamentos musicais de 2022 até agora. Com o arrefecimento da pandemia, houve uma profusão de bons lançamentos em todas as áreas: pop, rock, jazz e R&B. No Brasil, três novos trabalhos chamaram a atenção: o de Xênia França e a estreia do grupo Bala Desejo, formado por Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra. A seguir, os melhores álbuns de 2022 – até agora.
Harry’s House, de Harry Styles
Um dos mais aguardados álbuns do ano e forte candidato a melhor de 2022, o novo disco do ex ídolo adolescente comprova o amadurecimento musical do artista. Styles une ritmo dançante irresistível a letras inteligentes. O músico mostra também que suas referências musicais vão além do pop bocó feito por seus colegas. Na faixa Daydreaming, por exemplo, ele sampleia a excelente Ain’t We Funkin’ Now (1978), dos The Brothers Johnson, um dos clássicos incontornáveis da black music. Já As It Was ocupa há meses as primeiras posições das paradas mundiais. O músico trará a nova turnê para o Brasil no final deste ano com shows em São Paulo (6/12), Rio de Janeiro (8/12) e Curitiba (10/12), todos esgotados.
Mr. Morale & The Big Steppers, de Kendrick Lamar
Cinco anos após o lançamento do elogiadíssimo Damn, que rendeu a Kendrick Lamar o inédito Prêmio Pulitzer na categoria de música (a primeira vez que um artista de rap ganhou o prêmio – só jazz, ópera e música clássica já tinham faturado a honraria até então), o rapper americano retorna com um álbum que não faz concessões para ser pop. O trabalho é introspectivo, altamente pessoal e influenciado pelo jazz. As letras, escritas quase como se fossem poesias, refletem sobre a realidade do artista, nascido na perigosa Compton, na Califórnia. No clipe da nova The Heart Part 5, Lamar reflete sobre o bombardeio de opiniões favoráveis e negativas que enfrentou na carreira, enquanto seu rosto se transforma digitalmente no de negros famosos envolvidos em controvérsias, como Will Smith e O.J. Simpson.
Motomami, de Rosalía
A cantora catalã se tornou um fenômeno mundial ao misturar música pop com o flamenco, o tradicional estilo espanhol. Rosalía confere um banho de modernidade ao cruzar o ritmo com sons eletrônicos. A experimentação nos figurinos dos clipes e shows completa o pacote arrojado — e faz a artista passar longe do padrão das dançarinas de castanholas. Neste terceiro álbum, ela mantém sua aposta em um flamenco rejuvenescido em faixas como Sakura e Bulerías, mas há espaço até para o jazz, como na surpreendente Saoko.
Dawn FM, de The Weeknd
Quase dois anos após o bem-sucedido After Hours, The Weeknd retorna à pista de dança com um pop existencialista — e a segurança de quem sabe estar no auge da carreira. Bebendo da discoteca e do R&B anos 1980 — que é sua marca —, o cantor canadense faz uma jornada reflexiva sobre vida, morte e amores profanos em faixas como Sacrifice. A viagem musical é costurada por Jim Carrey, que assume o papel de apresentador em uma rádio fictícia transmitida diretamente ao Purgatório entre um hit em potencial e outro.
Sim, Sim, Sim, de Bala Desejo
Formado pela nova geração de artistas da MPB, o grupo Bala Desejo conta com nomes de peso como Dora Morelenbaum (filha de Jacques Morelenbaum), Julia Mestre, Lucas Nunes (que produziu o último disco de Caetano Veloso) e Zé Ibarra (craque do violão que está acompanhando Milton Nascimento em sua última turnê). Com faixas fortemente inspiradas em Rita Lee, Caetano Veloso, Secos & Molhados e Gal Costa, o grupo entrega composições que jeitão dos anos 1970, mas alinhadas aos dias atuais. Destaque para Baile de Máscaras (Recarnaval), Passarinha e Clama Floresta.
Em Nome da Estrela, de Xênia França
Cinco anos após o lançamento de seu primeiro álbum, a cantora baiana entrega neste novo trabalho dez faixas (sendo seis autorais) que passeiam com brio pelo jazz e pelo blues. Composições como Interestelar e Futurível dão à obra ares afrofuturistas. Em From the Heights, Xênia canta em inglês com graça e desenvoltura. A voz suave e afinadíssima da artista imprime ainda uma nova roupagem para Magia, canção de Djavan de 1976, que nesta nova versão ganhou uma pegada jazzística, diferente da original, mais acústica.