Se tem uma coisa que chega próxima da paixão dos russos por vodca é o fanatismo deles pelo britânico Sting. O ex-baixista do The Police é um dos poucos artistas estrangeiros capazes de unir três gerações do país de Vladimir Putin com o mesmo furor na plateia. Exemplo máximo disso ocorreu em junho de 2011, durante a abertura do Fórum Econômico Internacional, quando Sting praticamente parou São Petersburgo em um show gratuito na Praça do Palácio, em frente ao imponente Museu Hermitage, ocasião em que foi acompanhado por uma orquestra sinfônica regida por Sarah Hicks. Na época, Sting brindou o público com 23 canções, entre elas a icônica Russians, composta em 1985 para seu álbum solo de estreia, The Dream of The Blue Turtles.
Até pouco tempo atrás, a letra de Russians soava apenas como aquilo que foi na origem: um dos tantos comentários da música pop e do rock sobre a Guerra Fria, então a pleno vapor naquela altura dos anos 1980. Mas a guerra da Ucrânia conferiu uma nova forma de atualidade à canção, 37 anos depois de composta. Logo nas primeiras estrofes da politizada letra, Sting entoava: “Há um sentimento crescente de histeria na Europa e na América / condicionado para responder a todas as ameaças / Nos discursos retóricos dos soviéticos / Senhor Kruschev disse: ‘Nós vamos enterrá-los’.” Troque-se o decrépito líder soviético por Putin, e pronto.
Em um vídeo postado no Instagram no domingo, 6, Sting voltou a interpretar a canção, dessa vez em solidariedade aos ucranianos. No vídeo, o cantor diz que raramente precisou cantá-la desde que foi composta. “Nunca imaginei que ela fosse ser relevante novamente”, afirmou. “Mas, à luz da decisão sangrenta e lamentavelmente equivocada de um homem de invadir um vizinho pacífico e não ameaçador, a música é, mais uma vez, um apelo por nossa humanidade comum”, completou.
Na legenda do vídeo, que já tem 1,5 milhão de visualizações, o cantor a dedicou aos “bravos ucranianos que lutam contra essa tirania brutal e também para os muitos russos que estão protestando contra essa indignação apesar da ameaça de prisão”.
Sting não é o primeiro roqueiro a apoiar a Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país. Brian May, do Queen, disse estar “chocado, horrorizado e triste”. E David Gilmour apelou aos soldados russos: “Parem de matar seus irmãos. Não haverá vencedores nesta guerra”.