Formado em 2017, em Austin, Texas, o duo americano Black Pumas, se transformou rapidamente em um dos grandes nomes do rock and roll sem firulas. No primeiro álbum, lançado em 2019, eles temperam o gênero com a música negra americana e receberam várias indicações ao Grammy. Na pré-pandemia rodaram o mundo. Assim que o mundo voltou ao normal, eles fizeram um dos melhores shows do Lollapalooza Brasil em 2022.
A correria dos shows fez com que a banda desse um tempo para respirar. De volta ao estúdio, eles gravaram o segundo álbum Chronicles of a Diamond, já disponível nas plataformas de streaming. No disco, as composições ganham mais personalidade nas emotivas letras de Burton e precisos solos de Quesada — como na cativante More Than A Love Song, baseada na sólida (e inspirada) amizade entre os dois. Adrian Quesada conversou com a reportagem de VEJA sobre o novo trabalho e revelou que eles escreveram uma canção em português, ainda inédita. Confira a seguir:
Seu parceiro, Eric Burton, foi descoberto cantando nas ruas há alguns anos. Na época, você já era um músico profissional. O que pensou quando o ouviu cantando pela primeira vez? Eu não o vi cantando ou tocando nas ruas. Eu vi vídeos dele tocando em clubes. Alguém mencionou para mim sobre ele e procurei alguns vídeos dele tocando nos clubes de Austin, aqui no Texas. Eu estava pensando em montar o Black Pumas e muitas pessoas sugeriram cantores diferentes. Mas eu nunca procurei ninguém porque o Eric foi o cara certo. Assim que vi o vídeo dele, eu sou que era a pessoa com quem eu queria trabalhar.
Imagino que agora vocês dois sejam bons amigos. Parafraseando a canção More Than a Love Song, que está no novo álbum da banda, Chronicles of a Diamond, lançado nesta sexta-feira, 27, a amizade de vocês é mais do que uma canção de amor? Sim! Ela é muito importante. Quando fizemos o primeiro álbum, lançado em 2019, nós nem nos conhecíamos direito. E nos demos muito bem. Estávamos apenas começando a tocar juntos. Não sabíamos nada um do outro e desde então passamos por muitas coisas juntos. Estar em uma turnê com alguém, é algo muito íntimo. Crescemos muito juntos. Sempre digo para as pessoas: imagine seu colega de trabalho. Agora, imagine morar com ele. Você trabalha, ri, festeja chora com essas pessoas o tempo todo. Não há separação, você se torna íntimo. Se a pessoa está tendo um dia ruim, você fica sabendo. Se ela está tendo um dia bom, também. Sair em turnê com uma pessoa é dessa forma.
O som do Black Pumas é bastante original, uma mistura da experiência do rock de Burton com as influências que você tem de música latina. Como você definiria o som do Black Pumas? Eu não sou bom em definir. Alguém disse que a gente fazia soul psicodélico. Mas, eu não sei descrever. O que pode ser psicodélico para uma pessoa, pode não ser para outra. Um dia desses, um amigo descreveu o som psicodélico como algo: “é a música que soa bem quando você está chapado”. Psicodélico é isso, um pouco ao centro, um pouco à esquerda, um pouco fora do tradicional. Acho que somos um pouco mais do que isso. Nós gostamos de rock and roll. Com certeza é uma influência. Mas eu entendo que as pessoas precisem de uma descrição para o som em uma ou duas palavras.
As canções do novo álbum estão mais introspectivas. Elas refletem o momento atual da banda? Elas tem muito significado. Sim, elas refletem o que passamos nos últimos anos e foram altos e baixos. No geral, é uma música muito edificante para mim. É uma sensação de sair da igreja se sentindo mais elevado.
Após a turnê do primeiro disco, vocês divulgaram um comunicado dizendo que a banda estava em hiato. Vocês pensaram em se separar? Não. Foi só para descansar, mesmo. Fizemos uma pausa. Precisávamos que isso acontecesse para continuarmos com a banda. Alguns meses depois, começamos a conversar e a fazer o novo álbum. Se não tivéssemos feito isso, a gente iria continuar fazendo shows sem parar e sem tempo para gravar o disco. Por isso foi importante o hiato.
Antes de formar o Black Pumas, você fez parte do Grupo Fantasma, uma banda texana que tocava cumbia, mariachi, samba e outros ritmos latinos. Qual é a importância da música latina na sua formação como músico? Aprendi a tocar em uma banda com o Grupo Fantasma. A complexidade e a interação entre os instrumentos com os ritmos latinos é o máximo que uma pessoa pode aprender musicalmente. A banda tinha dez integrantes e todos têm que tocar bem para não soar caótico e se encaixe como um organismo vivo. A música latina, cubana, com raízes africana. Aprendi com eles como fazer parte de um conjunto com a certeza de que todos os instrumentos estão conversando entre si em vez de todos gritarem ao mesmo tempo.
E como a música brasileira influenciou o som do Black Pumas? Tem uma música que o Eric escreveu que foi fortemente influenciada pela música brasileira. Ela não entrou no álbum, mas está guardada para um próximo momento. Nós fizemos em 2022 um show no Lollapalooza Brasil e foi uma das melhores experiências que tivemos. Eric ficou em São Paulo por alguns dias e realmente absorveu tudo. Somos amigos dos brasileiros do Boogarins. Gosto muito do Arthur Verocai, assisti ao show dele em Los Angeles com uma orquestra e foi incrível.
Me conte mais sobre essa canção inédita inspirada na música brasileira? Definitivamente ela foi inspirada pelo samba. Tentamos, inclusive, cantar em português. Ele trabalhou em uma música toda em português, mas no último minuto, outras músicas entraram no álbum e não conseguimos finalizá-la, ainda. Nossa base de fãs no Brasil é muito grande. É a maior depois dos Estados Unidos.
Já tem data marcada para show no Brasil? Definitivamente iremos para o Brasil no próximo ano. Não me lembro a data exata, mas vamos voltar, com certeza.