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Um livro para quem quer a volta da ditadura

O que significa ser patriota num país como o Brasil

Por Maicon Tenfen 20 ago 2017, 10h57
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  • Lima Barreto em 1914: de dentro do hospício, ele enxergou a realidade nacional. (Jaime Acioli/VEJA)

    De todos os romances de Lima Barreto, principal homenageado da FLIP-2017, nenhum parece ser mais certeiro e irreverente que Triste Fim de Policarpo Quaresma. É difícil encontrar uma sátira social mais completa em toda a história da literatura brasileira. Espécie de Quixote tupiniquim, o protagonista caminha para a própria derrocada pelo simples fato de ser sincero em seu patriotismo.

    Policarpo Quaresma ama o Brasil sobre todas as coisas.

    Por isso estuda a história e a geografia do país e elabora projetos mirabolantes para resgatar a dignidade do povo brasileiro. O primeiro é rechaçar o português, língua europeia colonialista, e transformar a língua geral dos povos indígenas no idioma oficial da nação.

    Ridicularizado, muda-se para o interior e trabalha duro para provar que o Brasil teria condições de erradicar a pobreza se assumisse a sua vocação de potência agrícola. Vencido pelas saúvas que invadiram as plantações, pelo coronelismo local e pela falta de investimentos nos minifúndios, Policarpo se alista no exército para lutar na Revolta da Armada ao lado de Floriano Peixoto.

    Já teríamos motivos suficientes para ler e estudar o romance, mas é a partir daqui que o livro começa a falar mais diretamente ao nosso tempo, quando um grupo maior do que o esperado invade as redes sociais para solicitar a volta dos militares ao Planalto.

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    Na opinião de Policarpo Quaresma, apenas um governo forte, um “marechal de ferro” como Floriano seria capaz de fazer o Brasil embicar para o futuro. O que o ingênuo não sabia é que o seu ídolo — tanto no romance quanto na História com maiúscula — era um tirano sanguinário disposto a tudo para se perpetuar no poder.

    Vencidos os rebeldes da Armada, o Major Quaresma ficou responsável pela burocracia dos cárceres. Cedo descobriu que, na calada da noite, magotes de prisioneiros eram levados para ilhas desertas e fuzilados sem julgamento. Policarpo se apressa em denunciar a barbárie aos superiores, supondo que aquilo não podia ser coisa do general-presidente, um homem tão íntegro, tão correto, rígido porém justo.

    Já se pode imaginar o “triste fim” do título, não?

    Os militares oportunistas, os civis corruptos, os puxa-sacos de ocasião, os covardes, os arrivistas, todo mundo se dá bem no fim da história, menos o Major Quaresma, que vai para o paredão. Quando percebe o equívoco de suas convicções, é tarde demais. Poucas cenas da literatura brasileira são mais comoventes do que o monólogo de Policarpo na madrugada em que será executado.

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    Ali está a impotência dos brasileiros em 1894.

    1894?

    O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma
    decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os
    livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções.
    Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar
    prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um
    encadeamento de decepções.

    Lima Barreto, capítulo final de Triste Fim de Policarpo Quaresma

     

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