Deixei 2021 em plena reta final dos Jogos Olímpicos – que estarão acontecendo em Tóquio, podem anotar. Os mais céticos já devem estar soltando: “Viu? Não falei que este cara é charlatão? Ele mesmo se traiu na mentira! Os Jogos acontecem de 4 em 4 anos, então teremos uma edição em 2020 e não 2021!” Calma, queridos leitores de 1978. Enquanto vocês estão aí focados em condenar minha matemática, os militares argentinos seguem torturando e matando civis, e sobre essas operações, sim, nunca ninguém vai acertar as contas. Já publiquei que, a partir de 2019, virá uma pandemia mundial com a força de “Celacantos (que) provocam maremotos” – para usar a frase que anda sendo vista pichada aqui e ali –, capaz de adiar sonhos e Olimpíadas. Creiam-me… Teremos então em 2021 Jogos sem público nos estádios, mas, dirão, marcando o início de novos tempos. Não poderá, portanto, ser outra a final olímpica no futebol: Brasil x Espanha, o mais místico e premonitório clássico entre seleções. Foi o que pudemos testemunhar na tarde de ontem em Mar Del Plata, nesse empate sem gols entre os dois países. Profético, pois não apenas o Brasil vai ficar no 0 a 0 em sua busca pelo Tetra como o próprio Mundial da Argentina ganhará tantas nuvens suspeitas que talvez fosse melhor passar em branco na História.
Apresento então aqui provas incontestes do que vos digo: trata-se do Clássico das Profecias! Vejamos o ‘Maracanazo’ de 1950, tragédia-mor do nosso futebol (a partir de 2014, saibam, o título vai dividir opiniões, mas essa é outra história). Qual jogo antecipou a derradeira e triste final com o Uruguai? Uma acachapante goleada de 6×1 do escrete brasileiro sobre a Espanha. Uma atuação tão fantástica que levou os 152.772 presentes na arena Maracanã entoarem não apenas o “Olé!” tão adequado mas também, sob a batuta de Jaime de Carvalho e sua charanga, “Touradas em Madri”, marchinha de João de Barro (Braguinha), sucesso do carnaval de 1938 na voz de Almirante. Pois então: teve início ali a convicção e a soberba que abateram nosso escrete poucos dias depois. Foi no jogo contra a Espanha que profetizou-se o desastre.
Olhemos agora, torcedores, para a jornada épica do bicampeonato no Chile. Como esquecer? O Brasil estava lá, defendendo o título conquistado quatro anos antes na Suécia, mas como alcançar novo triunfo com Pelé lesionando-se logo na largada da competição? Será possível levantar o caneco sem o Rei? A resposta veio bem antes da final, ainda na fase de grupos, num Brasil e Espanha. A vitória era necessária para continuar na disputa, mas se o nosso camisa 10 estava fora entrou em campo a mística premonitória do confronto. Primeiro, quando Nilton Santos derrubou um atacante espanhol dentro da área e, malandro, deu um passinho sorrateiro à frente, levando o juiz a não marcar pênalti. Depois, num gol anulado da Espanha, em lance até hoje sem explicação no mundo real. Ou seja: mais uma vez um Brasil x Espanha profetizava: pra ser bicampeão mundial sem Pelé, nosso time ia sim dar um jeito. Mesmo que fosse entrando em campo com 12… Tô falando do Garrincha, héin! Afinal, ele jogou por dois.
Posso trazer também do futuro provas dos poderes sobrenaturais deste clássico. Caneta Bic e papel na mão? Vamos lá! Daqui a oito anos, novo esbarrão numa Copa, e será no México. E novas trapalhadas do juiz a nosso favor. Sim, não posso dar muitos detalhes pra não entregar a rapadura pra turma da ‘paella’. Só digo que, justamente por essa e outras, no futuro vai soar um apito estridente na ‘oreia’ (pra rimar com ‘paella’) do juiz sempre que a bola ultrapassar a linha do gol. O 1×0, gol de Sócrates (em posição duvidosa), será tão estranho e profético que até Edinho vai ter seu dia de pitonisa ao tentar enganar o árbitro “cabeceando” com a mão para as redes. Profecia pura. Três semanas depois, Maradona fará o mesmo contra os ingleses… Podem me cobrar!
Não ‘és solo’! Vão se passar 27 anos pra nova edição deste Clássico das Profecias em competição de relevância mundial. Será em 2013, numa fantástica final do que chamaremos de Copa das Confederações, torneio que passará a fazer parte do calendário, sempre um ano antes da Copa e no país-sede. Os maus agouros de 1950 vão dar as caras novamente, pois o Brasil, anfitrião em 2014, entrará em campo, no mesmo Maraca, diante de uma favorita Espanha, então campeã mundial. Mas vai dar Brasil, vitória que, dirão os adivinhos da crônica esportiva, também terá efeitos venenosos contra nós. Chegaremos à Copa de 2014 com a altivez dos touros indomáveis e acabaremos no chão com 7 flechas cravejadas mas costas. Isso sim será um “Olé!”
Mas falemos do jogo de ontem. Depois das críticas pesadas pós estreia xoxa contra a Suécia (1×1), o técnico Claudio Coutinho olhou em alguma Bola de Cristal que pra vencer os espanhóis deveria escalar dois laterais-direitos: Nelinho na defesa; Toninho (Baiano) de ponta. Talvez a ideia fosse um fazer ‘over-lapping’ no outro, vá saber… Mas só mesmo uma “Força Estranha” (sucesso do Rei Roberto Carlos) explica aquele chute do espanhol Julio Cardenosa, livre na pequena área, que nosso ‘becaço’ Amaral salvou em cima da linha… Graças a ele, o Brasil “Stayin Alive” – hit do Bee Gees, não podia perder essa, rê rê…
Rivelino machucado, Gil no banco (até o meio da segunda etapa) , Zico saindo pra entrar Jorge Mendonça… Ah, Coutinho… Empate não dá título pra ninguém! Depois não vai aparecer com uma historinha de “campeão moral”, héin? Esse 1978 tem mesmo a vocação das esquisitices. Só Papas, teremos mais dois até o fim do ano, não me perguntem como. Até dezembro, ainda vai nascer um bebê de proveta e surgir um metalúrgico presidente… Sério, perguntem ao Herculano Quintanilha, de “O Astro”, novela da Globo. Um ano animado, como as discotecas mundo afora. Mas já dei ‘spoiler’ demais. Só me resta voltar ao futuro para assistir a essa final entre Brasil x Espanha nos Jogos de 2021. Qual a profecia do resultado? Não sei mesmo. Mas deixo um pequeno enigma para desvendarem, antes da final dessa Copa na Argentina: “O Peru morre ou não morre de véspera?” A História dirá.
FICHA TÉCNICA
Brasil 0 x 0 Espanha
Data: 7 de junho de 1978
(Copa do Mundo)
Estádio: Municipal
Local: Mar del Plata, Argentina
Árbitro: Sergio Gonella (Itália).
Auxiliares: Abraham Klein (Israel) e Arturo Andrés Ithurralde (Argentina).
Público: 34.771 pagantes
Brasil: Leão; Nelinho (Gil, 24’/2º tempo), Oscar, Amaral e Edinho; Toninho Cerezo, Batista e Zico (Jorge Mendonça, 38’/2º tempo); Toninho, Reinaldo e Dirceu.
Técnico: Claudio Coutinho
Espanha: Miguel Ángel; Marcelino Pérez, Migueli (António Biosca, 6’/2º tempo), António Olmo e Francisco Uria (António Guzmán, 35’/2º tempo); Isidoro San Jose, Juan Manuel Asensi e Eugenio Leal; Juanito, Santillana e Julio Cardenosa.
Técnico: Ladislao Kubala
Cartão amarelo: Eugenio Leal (1’/1º tempo).
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