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Rio, terra sem lei

Uma esculhambação

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h49 - Publicado em 13 abr 2019, 08h00
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  • É possível que a prefeitura do Rio não soubesse que milicianos haviam construído em área de proteção ambiental e sem autorização dos órgãos competentes os dois prédios que desabaram, ontem, na Zona Oeste da cidade matando cinco ou mais pessoas e deixando outras tantas feridas?

    O prefeito Marcelo Crivella disse que tentou interditar a construção de prédios ali, mas que não conseguiu. Não conseguiu por quê? A Justiça negou-se a interditar? A polícia preferiu cruzar os braços a cumprir a ordem? Os encarregados do serviço de demolição recusaram-se a cumprir a tarefa?

    A resposta à primeira pergunta é sim. A prefeitura sabia que milicianos construíam prédios, lucravam com a venda dos apartamentos e lucravam com a cobrança de taxas de proteção aos seus ocupantes. A resposta à segunda pergunta também é sim. Ele tentou interditar, mas não conseguiu.

    A resposta às perguntas seguintes ficou faltando. Nem o prefeito, nem a justiça, muito menos os compradores e moradores da área querem se arriscar ao revide dos milicianos. Eles mandam ali. Eles mandam em outras áreas da cidade. O Rio virou “uma grande “esculhambação”, como já disse Crivella. Uma cidade sem lei.

    Ou para ser preciso: uma cidade onde impera a lei dos milicianos, de um lado, e a lei do tráfico, do outro. Milicianos e traficantes são bandidos e se enfrentam para ver quem manda mais e em mais gente. Quando não se enfrentam, se associam. A intervenção federal do ano passado na segurança pública de pouco ou nada adiantou.

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    Os cariocas são bons de gogó e muito criativos. Sabem cantar as belezas do Rio e sabem protestar quando lhes convém. Dá gosto ver. Mas há muito tempo que são ruins de voto para vereador, prefeito, deputado, senador e governador. Que Estado tem tantos políticos outrora graduados gravemente encrencados com a justiça?

    Somente os cariocas darão ou não um jeito no seu Estado. Somos todos cariocas – como seríamos mineiros, paulistas, gaúchos – quando ocorrem tragédias do porte das últimas que assolaram o Rio. Inclua-se entre elas a que reduziu a cinzas o Museu Nacional. Mas as tragédias só voltam a ser lembradas quando outras se sucedem.

    Só pelo voto a realidade do Rio poderá ser transformada, e isso é com os cariocas.

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