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No meio do caminho…

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 18 abr 2018, 16h00 - Publicado em 18 abr 2018, 16h00
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  • “No meio do caminho tinha uma pedra
    Tinha uma pedra no meio do caminho
    Tinha uma pedra
    No meio do caminho tinha uma pedra.

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    Tinha uma pedra
    Tinha uma pedra no meio do caminho
    No meio do caminho tinha uma pedra.”

    Só a genialidade de um poeta, e de um poeta como Carlos Drummond de Andrade, pode encerrar tantos significados num poema “simples”.

    Lendo e relendo o poema do Itabirano, sou tomado de uma inquietação diante do simples, que chamo de profundo; de um poema aparentemente banal, severamente criticado, matéria de galhofa, após sua publicação, que intui, numa frase: “no meio do caminho tinha uma pedra”, questões filosófica, simbólica e existencial. Drummond achou o poema um “texto insignificante, um jogo monótono, deliberadamente monótono, de palavras que causasse tanta irritação…”

    Em seu caderno de poemas manuscritos enviado a Mário de Andrade, que reunia, sob o título Minha terra tem palmeiras, parte representativa dos textos que seriam aproveitados em Alguma Poesia, entre eles estava No meio do caminho. Mais tarde, na época do Modernismo, a Revista de Antropofagia abria seu número de julho de 1928, publicando o poema em sua primeira página. O poema se transformou em um livro Uma pedra no meio do caminho – Biografia de um Poema, seleção e montagem de Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967.

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    O leitor interessado encontra todas essas informações, e todas as questões que envolveram o Poeta como desdobramento da publicação do seu poema, em livro editado pelo Instituto Moreira Salles e lançado em 2010, São Paulo: Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um poema. Edição Ampliada por Eucanaã Ferraz.

    “Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”, diz Carlos em seu poema. Um fato isolado, uma observação de poeta, a intuição de um pensador: sempre vai existir na vida de qualquer pessoa uma pedra no caminho. Aproveito para usar esse poema como uma metáfora e uma contribuição para se pensar na situação atual no Brasil, e refletir para tentar diminuir “as pedras no caminho” nas próximas eleições, tanto no sentido executivo, legislativo e judiciário.

    Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association

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