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Já não se fazem liberais como antigamente

O liberalismo moderno pressupõe a combinação dos princípios liberais na política e na economia com o reformismo social

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 10 jan 2018, 16h00 - Publicado em 10 jan 2018, 16h00
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  • Ulysses Guimarães
    Ulysses Guimarães (Lula Marques/Fotos Públicas)

    Figuras liberais marcaram a nossa história. Em um passado não muito distante, tivemos nomes como Roberto Campos, a maior expressão do liberalismo econômico no Brasil, ou Miguel Reale, o grande pensador do liberalismo social. Na política, liberais como , Tancredo Neves e Ulysses Guimarães foram condutores da transição democrática que culminou na República Nova.

    A lista de personalidades liberais com papel relevante na vida nacional é imensa. A ela poderíamos agregar os signatários do manifesto dos mineiros de 1945, como Milton Campos, além de outros como Daniel Krieger e Pedro Aleixo, que se opuseram ao AI-5 e se desgarraram do regime militar por suas convicções liberais.

    Por uma questão de justiça histórica, não se pode esquecer do general Peri Beviláqua, com suas contribuições à causa da anistia. Bem como de personalidades como Raimundo Faoro, presidente da OAB, e do jurista Godofredo Telles, autor da Carta aos Brasileiros em defesa do Estado de Direito, de 1977.

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    Se viajarmos no tempo, chegaremos ao grande Sobral Pinto. Coerente com suas convicções liberais e cristãs, foi advogado de Luis Carlos Prestes na ditadura varguista.

    A alusão ao passado serve para ilustrar que entre outras crises, o Brasil passa por uma crise de abstinência de liberais em todos os campos. Quem hoje é o grande economista do credo liberal?

    Na política, o deserto é ainda maior. Não há, no Congresso Nacional e no Executivo, lideranças capazes de dar um rumo ao país, de coesionar a nação, como no passado fizeram Ulysses e Tancredo.

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    Uma leitura apressada pode levar à conclusão de que vivemos o ocaso do liberalismo. Essa seria a razão para não se fazer no Brasil liberais como antigamente. A escassez, contudo, decorre do aviltamento da política a partir da crise do modelo advindo da Nova República.

    O chamado “presidencialismo de coalisão”, alicerçado em uma constelação de partidos, exacerbou traços da cultura ibérica que herdamos, como o patrimonialismo, o clientelismo e o fisiologismo. Os anos do lulopetismo aviltaram mais ainda a política, transformando-a em um campo de ervas daninhas, de onde só nascem políticos paroquiais, preocupados exclusivamente com sua propria sobrevivência.

    Seria mais correto falar em uma crise de lideranças, em vez de uma crise de abstinência de liberais. No terreno árido do nosso modelo é impossível vicejar coisa boa, tal a baixa qualidade da democracia brasileira. Como surgir estadista de qualquer matiz em um Congresso rejeitado por 60% dos brasileiros?

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    Como dizia Churchill, a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros experimentados ao longo da história. A democracia liberal atravessou o século como o grande sistema vitorioso. Todos os regimes alternativos a ela redundaram em ditadura e fracassaram econômica, política e socialmente.

    Talvez a exceção seja a China, onde ditadura e desenvolvimento econômico têm sido compatíveis por um período razoavelmente largo. Perto de nós temos a experiência da “democracia direta” do modelo chavista, que redundou em ditadura corrupta, desabastecimento, desestruturação econômica e crise humanitária.

    Também no campo econômico fracassaram os modelos alternativos ao ideário liberal. É só olhar para o nosso continente. No início do século, o nacional-populismo de esquerda espraiou-se pela América Latina.

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    O modelo pautado no intervencionismo estatal, na expansão fiscal e no “capitalismo de laços” gerou grave crise na Argentina dos Kirchner, no Brasil de Lula-Dilma e na Venezuela de Chàvez e Maduro.

    No mundo das cadeias produtivas e da Quarta Revolução Industrial o papel do Estado não é mais o do século passado, quando muitas vezes foi motor da economia, a exemplo do que aconteceu no Brasil dos anos Vargas e Geisel.

    O Estado do século 21 tende a ser regulador de mercado e provedor de serviços públicos de qualidade, com a iniciativa privada sendo a propulsora do desenvolvimento. No plano econômico, a grande missão do Estado é propiciar e otimizar as condições para que a liberdade de iniciativa possa se desenvolver plenamente.

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    O liberalismo moderno pressupõe a combinação dos princípios liberais na política e na economia com o reformismo social.

    Um olhar atento para o atual quadro político brasileiro revela a existência de um amplo espaço para este pensamento. Os dois extremos do espectro político são a própria negação dos valores da democracia liberal e da liberdade econômica. Um namora com o modelo chavista e o outro é um saudosista da ditadura militar.

    Quem souber ocupar o espaço vazio fará história. Por aí pode surgir uma nova geração de liberais à altura do legado de seus antepassados.

    Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo.

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