Considerando a evolução prevista para o dólar frente ao real nos próximos mês, para quem deveríamos torcer: Donald Trump (Republicano) ou Kamala Harris (Democrata)? “Ninguém sabe o que a Kamala pensa sobre o dólar”, afirma um economista, e um dos pais do Plano Real. “Trump gera mais ruído. Cenário delicado em termos de percepção de risco”, afirma outro economista. A coluna conversou com alguns economistas para saber se o real se manterá anêmico frente ao dólar com o resultado das eleições americanas. “Cenário dedólar forte veio para ficar”, atesta outro economista.
O dólar tem apresentado um desempenho volátil em relação ao real desde o início do governo de Donald Trump, em 2017, passando depois pela eleição de Joe Biden, em 2020. Dados oficiais do Banco Central mostram que, só durante o governo Trump, o dólar subiu de R$ 3,26, em janeiro de 2017, para R$ 5,19 em dezembro de 2020 – uma alta de 59%. Agora no governo Biden, o resultado não tem sido diferente, e as cotações já batem na casa dos R$ 5,70.
Economistas atribuem a valorização mais recente do dólar a uma combinação de fatores, a começar pelas insistentes declarações do presidente Lula criticando o Banco Central e sinalizando o desejo de interferir na taxa de juros. Também pesam nessa equação a expectativa de que uma eventual vitória de Trump nas eleições de novembro próximo, que poderia significar a adoção de políticas comerciais ainda mais protecionistas, prejudicando economias emergentes como a do Brasil; e a manutenção até aqui de taxas de juros elevadas nos EUA, o que torna investimentos em títulos do governo americano mais atrativos. Na semana passada, o Federal Reserve (o banco central americano) indicou a possibilidade de retomar uma trajetória de corte dos juros na reunião do colegiado prevista para setembro. A conferir.
“O Trump quer dólar fraco para melhorar as exportações norte-americanas, mas, como o dólar tem livre flutuação, é mais um desejo do que uma política que possa ser implementada. Períodos de dólar fraco tendem a ser melhores para o Brasil, mas a dúvida é como isso poderia acontecer”, afirma um economista renomado. “Outra dimensão são tarifas protecionistas, mas essa dimensão é mais relevante para a China do que para o Brasil. A terceira dimensão é Argentina, a grande beneficiária de uma possível vitória do Trump. Um acordo de livre comércio da Argentina com os EUA implodirá o Mercosul”, completa.
A valorização do dólar tem implicações diretas sobre a economia brasileira, como aumento dos custos de importação. Também mexe com as expectativas de investimento, pois a instabilidade cambial e as incertezas políticas podem afastar investidores estrangeiros, que buscam ambientes mais previsíveis.
Além disso, a pressão sobre o real também influencia as decisões do Banco Central em relação à taxa de juros. A necessidade de controlar a inflação pode levar a um aumento das taxas de juros, já sinalizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) o que, por sua vez, pode desacelerar o crescimento econômico. Mas afinal, quem seria melhor para o Brasil? “Kamala, of course!”, responde um dos pais do Plano Real. “Esqueça a economia. Importam os valores”, conclui. Sem dúvida.