RS: os impactos econômicos da calamidade para o resto do País
Empresários do agronegócio e banqueiros avaliam que, por ora, o efeito sobre a economia tende a ser pequeno; mas há temor em relação às contas públicas
Nos últimos dias, os olhos do País se voltaram para o Rio Grande do Sul, Estado sob impacto de enchentes históricas e com o desafio de reconstruir sua infraestrutura, sua economia e a vida de milhões de pessoas que perderam tudo para as águas.
A calamidade também fez soar o alarme entre especialistas sobre eventual impacto na economia do resto do País, dado que o Estado tem forte presença em atividades industriais e agrícolas. Em grandes números, o RS responde por entre 6,5% e 7% do PIB nacional; só atrás de São Paulo, Rio e Minas. No específico, o Estado planta e colhe cerca de 70% da produção nacional de arroz.
Por ora, as avaliações de grandes bancos e de líderes empresariais são de que o impacto para a economia nacional não deve ser grande. O risco mais direto seria na colheita e escoamento de culturas importantes como arroz, milho e soja, mas o fato de que boa parte da safra já havia sido colhida antes das chuvas deve amenizar esse efeito. O problema pode se dar, eventualmente, no escoamento da produção, mas seria uma situação ainda classificada como isolada.
“Algumas cadeias foram mais impactadas, e temos de acompanhar, caso do segmento de aves, que sofreu grande impacto nas matrizes e na produção”, disse o sócio de uma das maiores Assets do País. Um especialista do agronegócio acrescenta que a chuva poderá prejudicar também a produção do leite – “por causa da falta de pastagens para o gado” -, pesando no preço final do produto.
O mercado também descarta efeito relevante no fornecimento de produtos manufaturados para o varejo e de peças e componentes para o parque industrial nacional. Já o cálculo do impacto no IPCA, o índice oficial de inflação, varia de 0,10 a 0,20 ponto porcentual. “A tragédia humana será muito pior e desproporcional aos efeitos na economia”, afirmou um banqueiro à coluna.
É preciso ressaltar que essa é a fotografia do momento; só será possível ter uma avaliação mais precisa de perdas e danos quando as enchentes cessarem e o Estado conseguir retomar, de alguma forma, sua rotina.
Na verdade, a grande dúvida do mercado é sobre como o governo federal vai conseguir colocar de pé um pacote de ajuda ao Rio Grande do Sul sem comprometer ainda mais a já combalida situação fiscal da União. Boa parte dos recursos já anunciados será liberada indiretamente, na forma, por exemplo, de empréstimos em condições mais amigáveis e de prazos maiores para quitação de dívidas.
Mas há o receio de que o episódio abra espaço para um aumento indiscriminado de despesas públicas ou que outros governadores se sintam à vontade para pressionar o governo federal a renegociar o pagamento de suas dívidas com a União. O que se ouve entre empresários e banqueiros é que a ajuda necessária e urgente ao Rio Grande do Sul não pode ser desculpa para indisciplina fiscal.