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Murillo de Aragão

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Pelas ruas de Florença

Perdemos tempo em disputas paroquiais e ideológicas

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 10h07 - Publicado em 23 jul 2023, 08h00
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  • Basilica di Santa Croce na Itália
    Um turista espanhol de 52 anos foi morto pela alvenaria em uma das igrejas mais famosas de Florença, a Basílica de Santa Croce. A vítima foi atingida por uma pedra decorativa que caiu de uma altura de 20 metros enquanto visitava a igreja com sua esposa (Diana Ringo/Wikimedia Commons)

    Na Basílica de Santa Cruz, em Florença, estão sepultados Michelangelo e Maquiavel, entre outros ilustres de muitas épocas. Dante Alighieri, mesmo sendo florentino, foi sepultado em Ravena, onde se exilou, mas a comuna se recusou a devolver seus restos mortais para Florença.

    Periodicamente, então, o espectro de Dante visita Florença, cidade que, mesmo cheia de turistas, é limpa e agradável. Em suas visitas, Dante conversa com Maquiavel e Michelangelo, amigos da eternidade, ainda que tenha vivido em um tempo anterior ao dos outros dois. São diálogos regulares sobre o passado e o futuro da humanidade.

    O afluxo de brasileiros à basílica desperta a curiosidade dos três espectros que vagam pela cidade. Fartos de conversar sobre a Europa, os amigos resolvem conversar sobre o Brasil de hoje. Atentos à polarização radicalizada do país, discutem a política e os brasileiros. Comentam os acontecimentos recentes, como os agravos à família do ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Fiumicino, em Roma, e lamentam a falta de civilidade no debate político.

    “O Brasil vive no purgatório e o país não percebe que não se conquista o sucesso deitado em leves plumas”

    A conversa prossegue enquanto passam pelo I Fratellini, com seus sanduíches especiais feitos por dois irmãos. Lamentam não poderem provar. Dante destaca que não há nada igual à bisteca florentina. Assim, lembram que Montaigne se interessou pelos canibais brasileiros, tema de um dos capítulos de seus Ensaios. Dante indaga se ainda existem canibais no Brasil. Maquiavel responde que sim, mas observa que os que existem não comem carne humana. Comem as almas de uma nação que demora a se realizar. Perdem tempo em meio a disputas paroquiais e ideológicas e deixam de combater a miséria e a desigualdade.

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    Michelangelo comenta que não há dano maior do que o tempo perdido e, em seguida, pergunta a Maquiavel se o Brasil aprende com os próprios erros. Dante interfere, assegurando que o Brasil vive no purgatório e que o país não percebe que não se conquista o sucesso deitado em leves plumas. Pontua ainda que o tempo passa e o homem não se dá conta disso, como ocorre no Brasil.

    Maquiavel os olha com atenção e conclui que, apesar de tudo, os brasileiros são um povo feliz. Dante retruca, afirmando que são felizes porque nunca foram verdadeiramente felizes, porque não padecem da nostalgia dos que já foram. Enquanto ele, Dante, sabe que a maior infelicidade é lembrar-se da felicidade em tempos de dor.

    Dante ainda acrescenta que o Brasil é um país preguiçoso e que a preguiça não faz bem nem mal, é apenas a marca do amor insuficiente. Maquiavel, relembrando seus ensinamentos, destaca que os governantes no país vivem mais da fortuna do que da virtude. Prossegue, afirmando que o Brasil comete erros por preguiça, e não por ambição. E que talvez os brasileiros não amem tanto o Brasil quanto pensam. Michelangelo conclui que o perigo do país não está em estabelecer metas altas e não alcançá-las, mas em se contentar com metas baixas e se conformar com a mediocridade.

    Publicado em VEJA de 26 de julho de 2023, edição nº 2851

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