O tradicional balanço de ganhadores e perdedores do resultado das eleições municipais não assegura pistas firmes para a sucessão presidencial, já que a agenda das eleições municipais foi predominantemente local. Muitas das escolhas foram ditadas por questões paroquiais, e até mesmo o ímpeto renovador das eleições de 2018 foi arrefecido pelas agendas locais. Nem mesmo a pandemia transformou a disputa em um plebiscito.
No balanço das eleições alguns nomes e tendências foram apontados como vencedores e perdedores. Alguns deles claramente se inserem no campo de derrotados e terão dificuldades adicionais para construir narrativas competitivas para 2022.
O caso mais emblemático é o do Partido dos Trabalhadores (PT), que — entre os partidos mais tradicionais — teve, de longe, o pior desempenho. Os resultados pífios revelaram não só um descompasso com a realidade mas também uma dificuldade de criar uma narrativa convincente.
O centro político, com razão, é apontado vencedor da disputa. Mas o centro é composto de vários núcleos de poder e que estão cindidos em relação ao governo. Qual centro predominará para liderar uma alternativa à polarização? É cedo para dizer. A união do centro em torno de uma candidatura competitiva ainda é uma incógnita.
As urnas expressaram moderação e continuísmo. No entanto, tais resultados também se referem ao bom desempenho dos reeleitos ou de suas estruturas políticas, a aderência às agendas locais e, ainda, a ausência da pressão mediática da Operação Lava- Jato, que, como disse, reduziu o ímpeto renovador.
“Os efeitos de uma vacinação ainda são imprecisos e sem data certa para se revelarem positivos”
Qualquer avaliação das eleições deste ano deve ser examinada a partir de condições típicas e especificas do momento político nacional. A questão se torna mais complexa ao se olhar para o futuro. Existem agendas em aberto que vão influir decisivamente na temperatura política dos próximos meses.
A primeira refere-se à pandemia de Covid-19. A proximidade da vacinação anima a todos. Mas os efeitos econômicos e políticos de uma vacinação em massa ainda são imprecisos e sem data certa para se revelarem de forma positiva.
O Brasil tem, a grosso modo, três grupos de eleitores: os aderentes às narrativas ditas progressistas, os considerados conservadores e um eleitorado mais autônomo em relação aos dois grupos. Esses são considerados genericamente centristas.
Com a incerteza da recuperação econômica, um vetor de influência no eleitorado também fica em aberto. Muitos eleitores vão sentir a sensação térmica da economia na circunstância eleitoral para se decidir. São os não engajados que decidem as eleições no Brasil.
Considerando que o eleitor de centro é quem decide, as pistas de 2018 mostram que a conjuntura será determinante para a escolha do vencedor em 2022. E ela está submetida ao fim da pandemia, aos caprichos da economia e ao saldo entre erros e acertos do governo.
Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716