Ao longo das últimas décadas, o interesse e a demanda por insumos biológicos têm crescido, impulsionados pela busca por práticas agrícolas mais sustentáveis, que minimizem os impactos ao meio ambiente e corroborem para a saúde do solo. Derivados de organismos vivos como como bactérias, fungos e outros agentes biológicos, os bioinsumos (ou insumos biológicos) são alternativas aos insumos químicos tradicionais e exercem inúmeras funções que serão exploradas a seguir.
Os insumos biológicos no agronegócio são amplamente utilizados em diferentes funções, cada uma com seus agentes específicos, dentre eles, segundo a Embrapa, temos:
- Controle Biológico: constituído por dois principais agentes, os macrobiológicos (1), como insetos predadores e parasitoides de outras pragas, a exemplo de joaninhas e vespas, esta segunda muito utilizada na cultura da cana-de-açúcar para controle da “broca da cana”, uma das principais pragas do setor. Já os agentes microbiológicos (2) incluem fungos, bactérias e vírus. Os baculovírus são largamente usados no controle de lagartas na cultura da soja. Por fim, temos a classe de defensivos semioquímicos e bioquímicos (3). Os primeiros abrangem feromônios que interferem em comportamentos de insetos como o acasalamento; e os bioquímicos abrangem extratos de plantas que agem como inseticidas, além de enzimas, peptídeos e metabólitos que afetam o crescimento dos patógenos.
- Promotores de Crescimento Vegetal: como o próprio nome sugere, esta categoria contribui para o desenvolvimento das plantas. Incluem inoculantes, que são microrganismos benéficos como bactérias fixadoras de nitrogênio no solo, as quais desempenham papel fundamental em culturas como a soja, feijão e outras leguminosas. Neste grupo, temos ainda os fungos micorrízicos, que contribuem para maior captação de nutrientes do solo para a planta. Os biofertilizantes também promovem o crescimento vegetal, podendo ser compostos por substâncias húmicas (derivadas de matéria orgânica, como restos vegetais e animais), hormônios vegetais, extratos de algas, entre outros.
- Produtos de Uso Veterinário: para a saúde animal, medicamentos que utilizam compostos de origem vegetal, animal ou microbiana são considerados insumos biológicos. Podem abranger probióticos, vacinas, antissépticos e outros medicamentos com foco na sanidade animal, e com potencial de reduzir a necessidade de antibióticos. Para alimentação animal, insumos biológicos também são utilizados na produção de rações e outros produtos alimentícios. Para o mercado “pet”, os biológicos podem estar presentes como componente de produtos de embelezamento.
- Processos Industriais: são os microrganismos que podem ser usados para a fermentação e biodegradação em diversas indústrias, enquanto enzimas e proteínas facilitam processos como a produção de biocombustíveis e o tratamento de resíduos (Embrapa).
Os insumos biológicos ainda podem ser classificados conforme seu alvo de ação, abrangendo diversas categorias que incluem insetos (pragas presentes nas lavouras), fungos (doenças fúngicas nas plantas) e outros alvos como ácaros, nematoides, feromônios, aleloquímicos e reguladores de crescimento.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), 40 milhões de hectares (metade da área de grãos do país) já são cultivados com bactérias promotoras de crescimento das plantas; enquanto pelo menos 10 milhões de hectares já contam com o controle biológico de pragas no país. Em um segmento que deve somar R$ 17 bilhões em negociações até 2030, com taxa anual de crescimento em torno de 20% (dados da CropLife e S&P Global), os bioinsumos são peça fundamental para promover o desenvolvimento sustentável do agronegócio. Eles são o passado, o presente e, principalmente, o futuro da agricultura.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.