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Uma candidata sem chances, mas Hillary está batendo nela

Havaiana, surfista e hinduísta, Tulsi Gabbard mal aparece na lista de preferidos a disputar a presidência; agora, é acusada de ser “plantada” pelos russos

Por Vilma Gryzinski 21 out 2019, 05h41
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  • A política americana está cada vez mais louca – e nem estamos falando da cada vez mais bizarra teia do impeachment que envolve Donald Trump, ucranianos suspeitos e deputados americanos totalmente sem controle.

    O assunto aqui é Tulsi Gabbard, uma das quatro mulheres que estão tentando conseguir ganhar a candidatura a presidente pelo Partido Democrata.

    Ao contrário de Elizabeth Warren, que passou à frente de Joe Biden em diversas pesquisas, Tulsi é da turma do fundão. Nunca aparece com mais de 1% ou 2% das preferências.

    São comuns os políticos que se candidatam mesmo sabendo não ter chance, mas querem se projetar e ficar conhecidos em nível nacional. Quem sabe numa eleição futura, ainda mais para uma política jovem como Tulsi?

    Mas são poucos os com um perfil tão variado como ela. 

    A deputada pelo Havaí  tem 38 anos, é major da Guarda Nacional tendo servido em combate no Iraque, é samoana por parte da avó paterna e segue o hinduísmo por influência da mãe, uma americana de origem alemã que se converteu à religião predominante na Índia. 

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    Faz lutas marciais desde criança e, como havaiana, obviamente, pega onda. 

    Recebeu o pedido de casamento do segundo marido, Abraham Williams, quando os dois estava fazendo surfe. O anel de noivado estava colado à prancha dele com fita adesiva dourada.

    Politicamente, é de esquerda. Na eleição passada, foi a primeira deputada a declarar apoio a Bernie Sanders, o candidato socialista; propõe a liberação da maconha e um programa universal de saúde.

    Mas embaralha a cabeça de quem segue manuais rígidos. 

    Defende a Segunda Emenda, por exemplo. O artigo constitucional que garante o direito à posse de armas virou anátema para os progressistas.

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    Acha que o sistema de imigração está falido e que “quem trabalha e ganha dinheiro” não é ruim para o país – esta uma resposta a pergunta pegadinha do New York Times, se “alguém merece ter um bilhão de dólares”

    No passado, militou com o pai, que é membro do senado estadual do Havaí, numa organização contra o casamento de homossexuais (vive pedindo mil  desculpas por isso).

    O tema principal de Tulsi Gabbard é o desengajamento americano de todos os frontes onde o objetivo seja interferir na política local. Tipo derrubar Saddam Hussein, Muamar Kadafi ou, principalmente, Bashar Assad.

    Em 2017, ele fez uma visita altamente contestável ao homem forte da Síria, o único resistente da série mais recente, com ajuda da Rússia, do Irã e de métodos imensamente brutais.

    “Sou a favor da guerra para combater o terrorismo e contra para promover mudanças de regime”, já disse ela.

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    MULHER DE MOSCOU

    Com tantas peculiaridades, Tulsi ganhou a mais estranha delas: muitos democratas da elite de influenciadores começaram a dizer que ela está sendo manipulada pelo regime russo para se tornar uma espécie de candidata da terceira via e, assim, bagunçar a eleição presidencial, favorecendo a reeleição de Donald Trump.

    A acusação saiu das sombras e ganhou endosso do New York times, numa reportagem com  título malandro, “O que, exatamente, Tulsi Gabbard está aprontando?”.

    Entre outras coisas, é mencionado o apoio de supremacistas brancos a Tulsi nos debates democratas. Escapou à repórter a ironia evidente:  a pré-candidata não é considerada branca nos Estados Unidos.

    Foi nesse momento que Hillary Clinton se sentiu liberada para soltar os cachorros em cima da deputada havaiana. 

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    Disse que Tulsi Gabbard está sendo “cevada” pela Rússia para enfraquecer o futuro candidato democrata.

    “Eles sabem que não podem ganhar sem uma terceira candidatura.”

    “É a preferida dos russos. Eles têm um bando de sites e bots e outras maneiras de apoiá-la”, acusou Hillary.

    Ou seja: pregou na deputada veterana de guerra o mesmo rótulo que todo o establishment tenta colar em Donald Trump desde sempre (o caso da Ucrânia mudou um pouco o rumo e pode ser muito mais deletério para o presidente).

    Tulsi saiu dando caneladas, mas sem perder a compostura nem abalar um fio da chamativa mecha branca que tem na frente da cabeleira negra.

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    “Aqueles que são contra a política de mudança de regime, da qual Hillary Clinton foi a grande defensora por muito tempo, serão rotulados de traidores do país que amamos. É repugnante em todos os níveis.”

    “Muito obrigada, Hillary Clinton”, ironizou, chamando a candidata derrotada por Trump de “rainha da guerra” e “personificação da corrupção e da podridão que tem assolado os democratas há tanto tempo”.

    É claro que Trump entrou na briga e, com gosto, enfiou a faca: “Hillary ficou louca”.

    As críticas a Tulsi aumentaram depois do último debate entre os pré-candidatos democratas. Suas posições mais centristas, comparativamente, considerando-se que a maioria se moveu para a esquerda, foram elogiadas por eleitores mais à direita.

    Para complicar, a postura contra a política de intervencionismo armado coincide, no momento, com a altamente contestada iniciativa de Donald Trump de retirar militares americanos que apoiavam os curdos da Síria, abrindo caminho à interferência da Turquia.

    “Se eles querem brincar no tanque de areia, tem muita areia lá”, definiu Trump, nos termos nada elevados que usa, querendo dizer exatamente o mesmo que Tulsi Gabbard: eles que se virem.

    O problema é que para os Estados Unidos, como superpotência, não existe a opção “eles que se virem”. 

    Com maior ou menor intervencionismo, a estabilidade regional  é importante demais para ser deixada nas mãos das regiões envolvidas.

    Ser superpotência, com as vantagens imensas e também as responsabilidades envolvidas, não é para qualquer um.

    Ainda mais num momento de sandice coletiva em que o presidente dos Estados Unidos e uma pré-candidata democrata são igualmente acusados de ser agentes russos.

    A iniciativa de Trump na Síria está provocando um racha profundo na direita trumpista. E a esquerdista Tulsi está levando pancada da sua turma.

    E Hillary Clinton achou que este era um bom momento para sair da toca e atacar uma candidata quase folclórica.

    É claro que Tulsi saiu ganhando. Apareceu em todos os noticiários como vítima de uma acusação sem nenhum fundamento sólido ou sequer especulativo de ser uma traidora a serviço dos russos.

    Lembram quando isso acontecia com Trump?

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