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Rishi Sunak afunda Partido Conservador: até uso de tênis é condenado

Primeiro-ministro demonstrou o clássico humor britânico, pedindo desculpas por arruinar marca da moda, mas declínio político é grave

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 12h28 - Publicado em 11 abr 2024, 06h28
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  • Rishi Sunak era para ser uma revelação: jovem, milionário e o primeiro político de origem indiana a assumir o controle do governo britânico.

    Com carreira no mercado financeiro, certamente saberia como tirar o país de problemas antigos e dos novos, criados pela pandemia – endividamento, inflação, desmobilização para o trabalho presencial -, revitalizar o Partido Conservador e aproveitar as oportunidades criadas pelo Brexit para fazer do Reino Unido uma espécie de tigre britânico.

    Deu, obviamente, tudo errado. Tão errado que a notícia menos ruim para o primeiro-ministro nos últimos tempos foi que ele “arruinou” o tênis modelo Samba da Adidas como um acessório usado por jovens antenados com a moda e com as tendências retrô.

    Uma revista de moda masculina chegou a pedir que ele “deixasse em paz” um tipo de tênis que se tornou icônico – adjetivo infinitamente mal empregado, mas comum no mundo da moda.

    Sunak ainda cometeu um crime adicional: usou o Samba com calça de terno e camisa social. Deu para ouvir dentes rangendo através do mundo fashionista. Muitos jovens, e até outros nem tão jovens assim, sentiram-se confrontados com a imagem desconfortável do pai ou do tio tentando parecer que estão por dentro das tendências e errando feio.

    Depois de fazer um “pedido completo” de desculpas, o primeiro-ministro argumentou: “Em minha defesa, eu diria que uso tênis da Adidas, incluindo o Samba, há muitos e muitos anos”.

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    COBERTOR CURTO

    O fato é que Rishi Sunak está sambando errado onde mais interessa. Segundo as pesquisas, na próxima eleição, que precisa ser feita este ano, o Partido Conservador teria 23,5% dos votos – um verdadeiro massacre. Consequentemente, perderia a maioria do Parlamento e o governo. O Partido Trabalhista está com 43,8% das preferências.

    Com um líder, Keir Starmer, que procura podar os excessos de esquerdismo – todo mundo já viu como funciona este jogo -, os trabalhistas caminham para uma vitória histórica.

    Os conservadores parecem resignados a perder, numa espécie de desejo secreto de autodestruição. Alguns dizem, em off, que se não forem superados por um novo partido de direita que surgiu no horizonte, o Reforma – 12,6% na última pesquisa -, já está bom. Imaginem o mais antigo partido conservador do mundo acabar nessa melancólica posição.

    Uma combinação de fatores se juntou para levar a isso. Rishi Sunak nunca foi o tipo de líder inspirador ou carismático que mobilizaria as bases. Só tinha que colocar a casa em ordem e obedecer ao mandato supremo dos conservadores: menos impostos. A primeira tarefa, está cobrando o preço alto de praxe e o cobertor é muito curto para que a segunda seja viável. Na verdade, os impostos estão no ponto mais alto dos últimos setenta anos.

    O terceiro compromisso do primeiro-ministro, interromper a constante imigração clandestina através de botes que atravessam o Canal da Marcha provenientes de portos franceses, chafurdou num projeto que nunca ultrapassaria as barreiras legais: levar para Ruanda os que chegam pedindo asilo político e mantê-los lá enquanto os procedimentos corriam. Acabou no cemitério das ideias ruins.

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    NARRATIVA DA DECADÊNCIA

    Enquanto isso, os trabalhistas de Keir Starmer, um ex-procurador com a vantagem de ter cara de primeiro-ministro e disciplina para, num lance da ironia, defender a racionalidade fiscal, exploram a sensação disseminada de que o reino que já foi um império está num declínio irreversível. Até em herança maldita falam.

    “A verdade objetiva é muito diferente, mas a narrativa da decadência parece ter capturado a imaginação do público”, escreveu o analista econômico Jeremy Warner no Telegraph.

    A imprensa tradicional também sapateia em cima do governo sem parar – e sem algo macio como o solado do Samba para amortecer.

    Segundo Warner, o PIB britânico subiu mais, desde 2010, do que todos os seus pares, incluindo Alemanha, França e Japão. ”Longe de ficar para trás em termos de indústrias do futuro, a Grã-Bretanha criou o terceiro maior setor tecnológico do mundo”, argumentou.

    Com os preços dos alimentos patentemente em alta, lojas e restaurantes fechando, filas inenarráveis para atendimento médico num sistema público de saúde com todos os sinais de falência e até o entretenimento proporcionado pelo espetáculo da monarquia afetado pelo duplo câncer do rei Charles e sua nora Kate, Rishi Sunak está no comando de um processo de fracasso acelerado.

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    Não tem tênis da moda que dê jeito – embora o primeiro-ministro tenha, juntamente com a mulher, Akshata Murty, filha de um dos maiores bilionários da Índia, uma fortuna de mais de 700 milhões de libras. O suficiente para não chorar sobre a derrota anunciada. Os tories tradicionais é que vão derramar lágrimas.

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