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Pesquisa explica golfo entre elites e povão, levando à eleição de Trump

Partido Democrata fez campanha baseada nas crenças de sua cúpula: economia vai bem e causas identitárias são sinal de evolução

Por Vilma Gryzinski 8 nov 2024, 06h45
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  • As explicações para a derrota categórica de Kamala Harris ainda terão uma vida longa. Os motivos são múltiplos, mas um dos mais fundamentais parece ter sido uma campanha feita à imagem da candidata e demais os integrantes da cúpula do partido, uma elite ultraprogressista que valoriza acima de tudo as questões identitárias e climáticas. Uma pesquisa de fundo com o 1% do topo da pirâmide em matéria de renda e educação, encomendada pelo Comitê para Desencadear a Prosperidade e feita pelo instituto Rasmussen, mostra a distância que o separa dos americanos comuns e ajuda a entender por que Donald Trump ganhou com tanta facilidade.

    A pesquisa foi feita, antes da campanha eleitoral, com quem tem pelo menos uma pós-graduação, ganha no mínimo 150 000 dólares por ano e vive em centros de alta urbanização. Esta faixa equivale a 1% da população americana. Foi comparada a uma amostragem da população em geral. Também foi criada uma categoria especial, a dos que estudaram em universidades da Ivy League, as mais qualificadas do país.

    Uma das constatações que refletem a bolha dessa minoria de 1%, que tem uma influência enorme por incluir o mundo acadêmico, as classes artísticas e a mídia: 73% votam no Partido Democrata; apenas 14% são do Partido Republicano.

    Outra diferença flagrante: 74% da elite diz que sua situação econômica melhorou (88% dos formados nas universidades do topo). Entre o público que representa mais a maioria, 40% dizem que continuou a mesma e 40% que piorou.

    PROIBINDO O CHURRASCO

    “Para combater a mudança climática, você seria contra ou a favor de racionamentos severos de gasolina carne e eletricidade?”, foi outra pergunta. Responderam que sim 77% da elite (e 89% dos formados na Ivy League). Público em geral: 28% a favor e 63% contra.

    Seriam favoráveis a proibir os seguintes bens de consumo: fogão a gás (69% contra 25%), carros a gasolina (72% contra 24%), viagens não necessárias (55% a 22%), veículos utilitários (58% a 16%) e ar condicionado (53% a 13%). Entre os formados nas universidades da Ivy League, is índices são todos maiores, chegando a 81% entre os defensores da proibição de carros a gasolina.

    Proibir o churrasco, as viagens de férias e os carrões que americanos tanto amam não parece exatamente uma ideia vencedora.

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    Na elite, seu espelho em outras esferas também se reflete em opiniões como 78% com visões positivas sobre advogados (49% no público geral), 79% favorecendo jornalistas (contra 44%) e 77% felizes com seus representantes no Congresso (meros 28% nas faixas opostas).

    No topo da pirâmide, 70% acreditam que “o governo sempre acabará a coisa certa” e, na época, nada menos que 84% tinham uma opinião favorável a Joe Biden.

    “DOR E ALIENAÇÃO”

    As críticas à identificação do Partido Democrata com essa bolha isolada da maioria da população são feitas tanto à esquerda quanto à direita. O senador socialista Bernie Sanders afirmou: “Não deveria ser nenhuma surpresa para um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora que a classe trabalhadora o tenha abandonado”.

    “Primeiro foram os trabalhadores brancos agora os latinos e os negros”.

    “Eles entenderão a dor e a alienação política que dezenas de milhões de americanos estão experimentando? Fazem a menor ideia de como enfrentaremos a poderosa oligarquia que tem tanto poder econômico e político? Provavelmente não”.

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    No New York Times, o colunista que passa por conservador pelos padrões do jornal, Bret Stephens, apontou como uma das causas mais fundamentais da derrota de Kamala Harris vários enganos que identificam a liderança democrata com a elite refletida na pesquisa acima.

    “Primeiro, a convicção entre muitos liberais de que as coisas estavam indo muito bem, ou até mesmo otimamente bem, na América de Biden”.

    “Segundo, a recusa em ver como o liberalismo se tornou profundamente antipático à maioria da América.”

    FIM DO CICLO WOKE

    “Preocupado com a transição de gênero para crianças e homens biológicos disputando eventos esportivos com meninas? Você é transfóbico. Desanimado com seminários obrigatórios e frequentemente contraproducentes em que a pele branca é tratada como quase inerentemente problemática? Você é racista. Irritado com a nova linguagem que supostamente é mais inclusiva, mas soa como uma página tirada de 1984? É o máximo do ruim”.

    Alguns analistas também estão apontando o fim do ciclo woke, uma espécie de revolta silenciosa – ou registrada no sigilo da urna – diante dos fenômenos descritos por Stephens.

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    Examinar os próprios erros é um processo que qualquer partido tem que fazer para não repeti-los. Vale para qualquer país do mundo. A vida na bolha revelou seus efeitos deletérios para o Partido Democrata, não apenas com a eleição de Trump mas também na votação para o Senado e a Câmara.

    Os marqueteiros sabiam muito bem os votos que precisavam conquistar para eleger Kamala Harris. Para aproximá-la do púbico fora da bolha, inventaram que ela tinha uma Glock e que seu candidato a vice, Tim Waltz, era o protótipo do interiorano branco a quem queriam seduzir – até se descobrir que ele tinha um estranho fascínio pela China, muito além do interesse compreensível por um país certamente de enorme interesse, e apoiava a colocação de dispositivo para tampões menstruais nos banheiros masculinos das escolas.

    PLANETA BOLHA

    Não há, em princípio, nenhum mal em ser encantado pela China (e colecionar mais de trinta viagens ao país) ou querer ajudar meninas que se consideram meninos e usam o banheiro deles, embora continuem menstruando.

    Mas o público associou isso ao planeta bolha. Ou simplesmente não aguenta mais levar lição de moral das elites.

    “Acho que precisamos admitir que Donald Trump conhece nosso país melhor do que nós”, resumiu, com rara franqueza, a ex-senadora democrata Claire McCaskill.

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    Tudo isso foi dito e discutido depois da primeira eleição de Trump, em 2016. Alguns jornais da elite chegaram a mandar enviados especiais ao que chamavam de “fly over country”, o país do interior que só conheciam de ver do avião, quando viajavam entre cidades das duas costas, bastiões do liberalismo comportamental.

    ELITES FRAGILIZADAS

    Implicitamente, em todas as avaliações que estão sendo feitas agora figuram fatos que muitos preferem não mencionar, mas deixam escapar, quando chamam os eleitores conservadores de fracassados apegados “às armas e à religião” (Barack Obama), um “balaio de lamentáveis” (Hillary Clinton) ou “lixo” (Joe Biden).

    Para dar uma ideia da alienação do planeta bolha, Katharine Viner, a diretora de redação do jornal The Guardian, que sempre foi considerado uma voz de alta respeitabilidade entre os mais tradicionais defensores da esquerda, propôs aos jornalistas britânicos que liguem aos colegas americanos para “oferecer apoio” depois da vitória de Trump.

    Imaginem jornalistas, pessoas adultas formadas no calor dos debates de todas as naturezas e habituadas à natureza cíclica – e cínica também – da política, precisarem de “serviços de apoio” por causa de um resultado de eleição que os deixou choramingando. É de dar risada – ou talvez de chorar.

    Além de alienadas, as elites também são fracas.

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