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O príncipe marrento: William mostra força e boicota o tio enrascado

É o irmão, Harry, que leva a fama, mas o herdeiro do trono também tem gênio forte, usado para proibir Andrew de se esgueirar de volta em público

Por Vilma Gryzinski 14 jun 2022, 08h05
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  • Ou eu ou ele. Muitas famílias já viveram o drama de ter que escolher entre quem convidar para uma festa quando há integrantes que não suportam dividir o mesmo espaço.

    Todas as famílias complicadas se parecem, mas quando o drama envolve a família real acaba chegando, de alguma maneira, à imprensa.

    Foi o que aconteceu com o ultimato dado pelo herdeiro número dois, William, para proibir o príncipe Andrew, seu tio enrascado, de aparecer numa das cerimônias mais características da monarquia inglesa: o desfile anual dos integrantes da Ordem da Jarreteira, que tem apenas 24 contemplados.

    O cônjuge e os filhos do monarca, eventualmente genros e noras, também têm direito à honraria, que data do ano de 1348. Mesmo depois de ser rebaixado, perdendo todos os patrocínios honorários e até o tratamento de sua alteza real, Andrew continua a ser membro da ordem, com todo seu aparato: manto de veludo, chapéu com pluma branca, colar cerimonial e uma jarreteira – ou liga – que remete à origem.

    Andrew foi jogado no inferno astral por causa da amizade completamente injustificada – exceto em caso de ganância – com o pedófilo suicida Jeffrey Epstein. O processo civil aberto contra Andrew por uma das “namoradas”, adolescentes exploradas sexualmente pelo milionário americano, foi encerrado com um a acordo caro: 15 milhões de dólares. Ela queria ser indenizada por ter sido “emprestada” em três ocasiões para o príncipe inglês quando ainda era menor de 18 anos.

    O príncipe só conseguiu pagar o acordo com ajuda da mamãe. Em troca, deveria se resignar a viver uma vida de degredado, proibido de participar de qualquer cerimônia oficial e de usar o uniforme de coronel honorário dos Reais Granadeiros, um daqueles corpos militares que fazem os espetaculares desfiles que criam a aura única da monarquia inglesa.

    Ainda por cima, deu azar: pegou Covid justamente na semana em que teria a chance de reaparecer, no ato de ação de graças pelos setenta anos de reinado da mãe, aberto a todos os membros da família, incluindo outro que cavou a própria cova, o príncipe Harry e a mulher, Meghan.

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    Depois do jubileu, começaram a pipocar na imprensa notícias de que Andrew planejava convencer a mãe a reabilitá-lo oficialmente e até lhe dar de volta o título de coronel dos Granadeiros, o que lhe permitiria desfilar a cavalo, todo paramentado, com os irmãos, Charles e Anne, e o sobrinho William.

    Talvez ele não contasse com o gênio forte do príncipe herdeiro, que deu o ultimato: se ele fosse ao desfile da Ordem, o próprio William não iria. Nem, obviamente, Kate, a graça de qualquer festa.

    William levou a melhor, provavelmente com o apoio do pai, que nunca teve uma relação excepcionalmente boa com Andrew e viu com horror o prejuízo que ele causou à família real em termos de imagem.

    Mas o fato de que o ultimato tenha sido atribuído a William indica que o herdeiro pode avançar para a linha de frente quando os interesses da família estão em jogo.

    Segundo um biógrafo do príncipe, Robert Jobson, William também não tem uma relação exatamente brilhante com o pai. Mas os dois concordam em enxugar a família real para garantir a sobrevivência da trono e combater a imagem propagada pelos antimonarquistas de que todos são um bando de chupins sustentados por recursos públicos.

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    Não há nenhuma garantia de que a quase unanimidade despertada pela rainha se estenda incondicionalmente aos sucessores e eles mantém equipes de assessores de imprensa  para promover sua imagem de dedicados servidores de boas causas e do supremo patrão, a opinião pública.

    Poucas coisas são piores de que ter o nome associado a um crime monstruoso como a exploração sexual de menores de idade e a hipótese de que Andrew venha a ser reabilitado é próxima de zero.

    O fato de que William tenha tomado a dianteira, exigindo uma atitude da própria avó, é uma comprovação de que ele tem, segundo a definição de Jobson, “um pavio famosamente curto”.

    Ao contrário da imagem pública, de que Harry é o príncipe complicado e William o herdeiro certinho, os dois filhos de Diana têm oscilações bruscas de temperamento.

    “Exatamente como Diana. Ela podia ser sua melhor amiga num momento e sua pior inimiga no outro”, descreveu uma fonte de Jobson.

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    Até os assessores mais qualificados do príncipe “checam para ver de que lado o vento está soprando” antes de levar a ele questões mais complicadas.

    Segundo Jobson, William e Kate também têm discussões acaloradas, daquelas em que o tom de voz não tem nada de aristocrático.

    “Mas eles se conhecem muito bem e geralmente a coisa acaba rápido. Ela, em geral, exerce uma influência que tem o dom de acalmá-lo”.

    Com Harry, ao contrário, as “discussões homéricas”, segundo outra autora, a jornalista Tina Brown, antecederam em muito tempo o casamento que acabou levando os irmãos a uma ruptura sem sinais de ser revertida.

    O motivo mais grave já era conhecido: Harry se ofendeu quando o irmão sugeriu que ele esperasse um pouco antes de se casar com a mulher pela qual estava apaixonado, dando a ela mais tempo para se aclimatar e fazer seu próprio círculo de amizades.

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    Uma fonte citada por Tina diz que, depois do casamento, Harry e Meghan ficaram “inebriados” diante da ideia de que se tornariam personalidades mundialmente  famosas pelos atos filantrópicos, como Diana.

    O fato de que eles nunca estariam no lugar número um, que seria sempre ocupado por William e Kate – a ordem hierárquica é da própria essência da monarquia -, acabou por levá-los a sair do país e ir perseguir fama e fortuna nos Estados Unidos, inclusive em entrevistas detonando a família real. Para William, foi uma atitude imperdoável.

    William sabe que ele tem pela frente a missão de modernizar a monarquia. Já apareceram na imprensa notinhas dizendo que ele e Kate querem eventualmente acabar com os excessos de deferências e de títulos, inclusive os joelhos rapidamente dobrados  em reverência- pelas mulheres, dos homens se espera um gesto de cabeça inclinada – quando alguém é apresentado a um membro da família real, algo que parece ridículo hoje em dia.

    Os jornalistas especializados – e bem informados – dizem que Andrew é um dos integrantes da realeza que mais fazem questão das regras de etiqueta e vive insistindo que suas filhas devem ser tratadas como “princesas de sangue”, ao contrário das beldades que entraram na família pelo casamento.

    Com o rebaixamento do pai, as filhas também perderam pontos. Nem sequer apareceram na sacada do palácio de Buckingham na festa do jubileu de platina.

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    Os dramas atuais são do tamanho de uma monarquia cujo poder real foi reduzido a zero, embora ainda tenha um importante e único poder simbólico.

    O rei Eduardo III, o criador da Ordem da Jarreteira, teve que dar um golpe contra a própria mãe, a indômita e ambiciosa Isabel, filha do rei da França, para conseguir estabelecer seus direitos de herdeiro. O amante e parceiro dela foi executado. Eduardo pôs a própria mãe em prisão domiciliar – num castelo, é verdade.

    Segundo a tradição, ele criou a Ordem da Jarreteira quando uma condessa perdeu a liga que prendia sua meia durante um baile. Seria o equivalente, hoje, a uma mulher perder a calcinha numa dança. Cavalheirescamente, o rei intimou as más línguas, dizendo, em francês, o idioma da corte: “Maldito seja quem pensar mal”. Virou o mote da Ordem.

    Entre seus novos integrantes, foram admitidos ontem Camilla, a mulher que enganou o marido e tirou do páreo a rival Diana para ficar com Charles, e Tony Blair, o primeiro-ministro que enganou o país inteiro ao defender a participação, com os Estados Unidos, na invasão do Iraque com base no argumento furado de que Saddam Hussein escondia armas químicas.

    Passado é passado, mas Andrew, aos 62 anos, não terá tempo hábil para ser reabilitado. E William não dará moleza ao tio.

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