Ele toma ou não toma? Essa é a pergunta que engolfou as redes sociais depois que Robert Kennedy Jr. apareceu sem camisa e sem um único grama de gordura adicional, fazendo flexões de braço e levantando peso.
Todos os palpiteiros concluíram que o pré-candidato de 69 anos, que deixa a cúpula do Partido Democrata sem saber o que fazer, com toda certeza faz terapia de reposição de testosterona (TRT) para esculpir essa musculatura toda.
Provocou Mike Cernovich, uma das vozes mais poderosas da direita alternativa: “Se esse vídeo de RFK JR for autêntico, então ele tem que ter nosso apoio. Ninguém que levanta peso sem camisa, no sol, de jeans, trabalhado na TRT, jamais trairia nosso grande país”.
Do lado oposto, à esquerda, a performance de Kennedy aumentou os surtos da raiva, que já não são poucos.
“Existe um político disputando a presidência que vai falar esta semana ao grupo conservador Mães pela Liberdade”, escreveu, furibundo, o comentarista Dan Obeidallah. “Ele também se espoja em teorias conspiratórias infundadas a respeito de tudo, desde violência associada a armas até vacinas, e foi elogiado pelas mais desagradáveis personalidades da direita, de Steve Bannon a Roger Stone e Tucker Carlson”.
“Ele tem todo o direito de concorrer”, acrescentou, usando a fórmula que na verdade quer dizer o exato oposto. “Mas não há dúvida que suas ideias se alinham muito mais com o Partido Republicano”.
“Estou me preparando para os debates com o presidente Biden”, provocou o filho de Bobby Kennedy, o senador assassinado em 1968, cinco anos depois do irmão, o presidente John Kennedy.
Ele sabe muito bem que o octogenário Biden não quer debate nenhum. E que a excepcional demonstração de vigor físico contrasta com um presidente e candidato à reeleição que se atrapalha com as palavras e as ideias, tropeça compulsivamente em escadas de avião, muitas vezes parece perdido nos cenários montados com cuidado para facilitar tudo — e até se confunde com o sacrossanto hino nacional americano: na visita do presidente Narendra Modi, levou a mão ao peito e balbuciou as palavras conhecidas por todos até se dar conta que era o hino indiano.
Uma candidatura alternativa, mesmo de um candidato tão bizarro, soa especialmente sedutora num momento em que os americanos se angustiam em ter que, novamente, enfrentar uma disputa entre Biden e Donald Trump. Uma pesquisa da CNN mostrou que uma enorme fatia, de 36% do eleitorado, não quer nenhum dos dois. O resultado final ainda está embaçado: dependendo da pesquisa, cada um aparece na frente. Com a situação encrencada de Trump em variados processos e a evidente deterioração física e talvez cognitiva de Biden, é realmente muito cedo para cravar o que pode acontecer em novembro de 2024.
Enquanto os nomões se desgastam, Kennedy Jr. faz a festa: é visto de maneira positiva por 49% do eleitorado, contra 30% de opiniões negativas. Nessa mesma pesquisa, Biden e Trump também aparecem empatados, com 52% e 53% de opiniões desfavoráveis.
É claro que muitos reagem apenas por causa do sobrenome do mais famoso clã político americano. E muitos ainda desconhecem suas ideias, inclusive uma militância antivacina que precede a pandemia de covid. Como em todos os outros países onde a vacina foi disponibilizada, a população americana se imunizou em massa, preferindo o risco de um produto novo ao perigo de contrair a doença que matou quase sete milhões de pessoas no mundo.
A grande imprensa, majoritariamente favorável a Biden, expõe com intensidade crescente as ideias conspiratória de Kennedy Jr. e a própria família o repudiou.
Entre as teorias mais contestadas, figuram a de que os ataques a tiros em escolas são associados a jovens que tomam Prozac, que a indústria farmacêutica está inundando candidatos democratas de dinheiro, que Anthony Fauci e Bill Gates se associaram para promover as vacinas contra a covid com fins lucrativos e que seu pai e seu tio foram mortos pela CIA. Ele chegou a visitar na cadeia o homem que dezenas de pessoas viram atirar em Bobby Kennedy (os advogados de Sirhan Sirhan agora dizem que o palestino jordaniano foi hipnotizado para atirar no pré-candidato muito mais cotado que, agora, seu filho, na trajetória rumo à Casa Branca).
Ex-viciado em heroína, maldição que cortou sua carreira política em formação na juventude, Kennedy Jr. mantém a sobriedade com nove — repetindo, nove — reuniões semanais para os que querem ficar longe da reincidência e com esportes radicais. Os músculos todos que mostrou não são só para fazer bonito — embora, muito obviamente, façam. Seu pai e seu tio eram homens bonitos e másculos, além de incrivelmente promíscuos, mas nada se compara ao corpo esculpido que os especialistas em ginástica, e uma certa ajudinha da testosterona, conseguem produzir hoje.
A vantagem física que teria em qualquer debate é contrabalançada pela voz rouca e falha, causada por uma disfunção rara nas cordas vocais chamada disfonia espasmódica.
Kennedy Jr. foi apresentado à mulher, Cheryl Hines, por um amigo em comum, Larry David, com quem ela faz a série cômica Curb Your Enthusiasm, em que situações corriqueiras descambam para o campo do absurdo e surreal.
Poucas coisas soam mais absurdas na política americana do que um Kennedy que abraça teses da direita populista e faz ginástica sem camisa para mostrar o corpo malhadão.
“Nunca houve um candidato a presidente que a mídia odiasse mais do que Robert F. Kennedy Jr.”, provocou recentemente Tucker Carlson, agora no Twitter. Comparado a ele, Donald Trump levou uma “suave massagem no couro cabeludo” quando se lançou candidato.
Trump não deve estar gostando nada da coisa, mas tem se controlado. É melhor deixar os democratas brigarem entre si primeiro — nas pesquisas, Kennedy aparece com 15% a 20% das preferências entre os eleitores democratas que, inevitavelmente, pelo menos por enquanto, escolherão Biden nas primárias.
E nem pensar em fazer uma comparação de peitorais. Ou de qualquer outro grupo muscular.
Nessa matéria, não tem para ninguém com Bobby Kennedy Jr. na competição.