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O caso do ministro que desapareceu: chanceler chinês foi cancelado

Não há acusações conhecidas fora da cúpula contra Qin Gang e caso com apresentadora de televisão é uma desculpa que não explica nada

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 14 Maio 2024, 00h00 - Publicado em 28 jul 2023, 07h27
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  • Qin Gang
    Qin Gang - 09/05/2023 (Thomas Trutschel/Photothek/Getty Images)

    Até um mês atrás, ele era o rei da cocada preta. Comparativamente jovem, com inglês perfeito e estilo agressivo, incorporava a chamada “diplomacia do lobo guerreiro”, um modo brutal de defender o regime chinês em todas as instâncias. “Por que os Estados Unidos demandam que a China não venda armas à Rússia quando eles vendem armas a Taiwan?”, perguntou retoricamente (Adianta responder que a Rússia é a agressora e Taiwan se defende de um gigante? Não. Pois é esse o estilo).

    De repente, Qin Gang desapareceu. No mundo real e virtual. Todas as referências a ele no site do Ministério das Relações Exteriores, em palavras e imagens, sumiram. “Sem informações”, “As atividades diplomáticas continuam normalmente”, “Não temos conhecimento do assunto abordado”, foram algumas das não-respostas dadas por porta-vozes oficiais quando o destino do chanceler foi abordado por jornalistas estrangeiros.

    Quando um veterano do ramo, Wang Yi, voltou a ocupar o posto de ministro das Relações Exteriores, foi consumada a troca política: depois de menos de seis meses no cargo, Qin Gang já era.

    Certamente o sumiço não passou despercebido e milhões de chineses olharam — muitos pelas segunda vez — para o vídeo de uma entrevista em que Qin (pronuncia-se Tchin) dá oblíquos sinais de intimidade com a entrevistadora, a linda Fu Xiaotian. Há não muito tempo, ela se afastou para ter um filho, sem nenhum indício sobre o pai.

    “Todo mundo” sabia do caso — e se ter amante fosse motivo para perder o cargo no governo, poucos chineses das altas cúpulas sobreviveriam. A “segunda esposa” é praticamente um hábito nacional para os homens que podem bancar as despesas envolvidas.

    Um caso que ultrapassou fronteiras foi o da tenista Peng Xuai. Há dois anos, ela acusou o vice-primeiro-ministro aposentado Zhang Gaoli de obrigá-la a ter um envolvimento sexual com ele, num caso sórdido em que a mulher do político ajudou a “dobrar” a jovem. Os dois acabaram tendo um longo caso. Mas quando Peng Xuai denunciou a relação abusiva, foi ela quem sumiu do mapa. Quando reapareceu, negou tudo. Desde então, foi vista raras vezes.

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    Sumir por algum tempo e ressurgir com acusações de corrupção não é incomum para ocupantes de cargos importantes. Mas em geral são plantadas informações sobre “investigações”. Um caso atual, por exemplo, envolve em suspeitas de corrupção o comandante da força de projéteis e foguetes, um elemento importante do contingente nuclear, e dois vices.

    O Comitê de Inspeção de Disciplina, órgão anticorrupção do Partido Comunista tem uma rede própria de prisões e centros de interrogatório. Acusações de corrupção, mesmo quando verdadeiras, são usadas para varrer do mapa dirigentes que podem representar algum tipo de oposição ao todo-poderoso Xi Jinping.

    O silêncio total talvez reflita uma situação constrangedora para Xi: foi ele quem bancou a ascensão do chanceler agora transformado em não-pessoa. Não é um momento bom para ter esse tipo de problema, com crescimento econômico no segundo trimestre de “apenas” 6,1% (contra os previstos 7,1%) e 21% de desemprego entre jovens.

    Os expurgos atuais são praticamente um mimo diante do que foram as perseguições em massa na época da Revolução Cultural, desfechada por Mao Tsé Tung acima de tudo contra os próprios comunistas chineses. O número de vítimas dessa insanidade em escala alucinante é calculado em centenas de milhões de pessoas, literalmente.

    O pai de Xi Jinping era um alto dirigente comunista e foi condenado a dezesseis anos de anos de cadeia por elogiar um livro de ficção sobre o Partido . O próprio Xi, na época adolescente, integrou a massa de milhões e milhões de jovens das cidades enviados para a “reeducação” no trabalho brutal no campo. Xi passou dos quinze aos 22 anos morando numa caverna, hoje atração turística.

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    Quando saiu da reeducação, entrou para o Partido Comunista, visto como uma instituição acima do bem e do mal, e fez carreira rápida, num ambiente já transformado pela morte de Mao e as históricas reformas promovidas por Deng Xiaoping.

    Xi levou as reformas a níveis que nem Deng poderia ter imaginado e tem o apoio da cúpula do Partido para o objetivo final, o de transformar a China na potência hegemônica.

    Os que ficam pelo caminho, como o ex-chanceler Qin Gang, são menos do que uma nota de rodapé na impressionante história da transformação da China, o fenômeno mais importante das últimas décadas.

    Dentro de um tempo muito curto, ninguém vai ligar a mínima se um lobo guerreiro que não uiva mais aparecer na lista dos cancelados oficialmente, por algum delito real ou maquiado.

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