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Nem suecos aguentam: imigração em massa muda a política

Ascensão de partido de direita mostra que até a paciência dos campeões mundiais de asilo, tolerância e bom mocismo tem limites diante de crime e caos

Por Vilma Gryzinski 9 set 2018, 16h48
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  • Fernando Gabeira foi condutor de metrô, jornalista e estudante de antropologia em Estocolmo. Voltou, com a anistia, para ficar famoso em seu país, enriquecido pelos anos vividos em um país que se orgulhava de ser uma “superpotência humanitária”.

    Tilde de Paula, neta de Francisco Julião, das Ligas Camponesas, tornou-se uma conhecida apresentadora da televisão sueca, incluindo no currículo cerimônias do Prêmio Nobel.

    Intelectuais, escritores, dirigentes e militares de esquerda do Chile encontraram experiências transformadoras no exílio.

    O caso mais relembrado recentemente foi o de Mauricio Rojas, que saiu da extrema-esquerda, viu a luz, tornou-se professor de economia e chegou a ser eleito parlamentar por um partido sueco de centro-direita.

    Fez a loucura de tentar contribuir para seu país e voltou ao Chile como ministro da Cultura do segundo governo de Sebastián Piñeda. Durou quatro dias, expurgado por um ataque em massa da esquerda.

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    De dezenas de milhares de americanos desertores da Guerra do Vietnã a um número muito maior de vietnamitas que fugiam do horror comunista, a Suécia foi pioneira na política do multiculturalismo: em lugar de promover ativamente a integração, passou incentivar o estilo de vida de asilados e imigrantes.

    Nenhum problema grave até que começaram a chegar as massas criadas pelos fenômenos atuais – guerras civis no Oriente Médio, explosão populacional na África, países falidos, grandes e profissionais redes de contrabando humano e altos níveis de informação sobre os países com os melhores benefícios sociais.

    Com a nova imigração chegaram os novos problemas: criação de guetos completamente impermeáveis a qualquer tipo de interação com a sociedade local, transposição de todos os segmentos de fundamentalistas muçulmanos, terrorismo e crime em escala completamente desconhecida pelos suecos.

    “PUNTO E BASTA”

    A ascensão de um partido de extrema-direita com uma plataforma cuja âncora fundamental é ser contra a imigração em massa provinda de países muçulmanos e africanos é praticamente idêntica à ocorrida em outros países europeus.

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    Um partido das franjas do espectro político livra-se de um passado altamente comprometedor – na Europa, evidentemente, as raízes vão do fascismo ao nazismo –, renasce e se transforma.

    Passa por um processo modernizador, perde o medo de usar uma linguagem que está na boca de muita gente – menos das elites –, fura o bloqueio da imprensa e irrompe espetacularmente como a terceira, a segunda ou até a primeira força política.

    O Democratas Suecos, com seu jovem e dinâmico líder, Jimmie Akesson, um raro moreno no mar de loirice escandinava, poderia trocar de lugar com a Liga de Mateo Salvini, o chefe de governo na prática da Itália; com o Partido Popular de Sebastian Kurz, o primeiro-ministro de 32 anos da Áustria; ou o Partido da Liberdade de Geert Wilders, o segundo maior na Holanda.

    Devido ao grande impacto das decisões de Salvini, ao vetar o desembarque das legiões de migrantes clandestinos que usam a proximidade da Líbia como ponte para a Itália, muitos analistas estão dizendo que o destino da Europa hoje está numa encruzilhada.

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    De um lado, o italiano, que além de rejeitar a migração em massa na base do “punto e basta”, assume posições cada vez mais contra a União Europeia. De outro, Emmanuel Macron, que quer mais poder para a instituição supranacional e divisão obrigatória de migrantes e refugiados entre os países europeus.

    Note-se que Angela Merkel, a chefe de governo do país mais importante da União Europeia e com mais tempo no poder, não entra na equação. A desgraça que trouxe para a Alemanha ao abrir as fronteiras para quase 1,5 milhão de estrangeiros a torna uma espécie de exemplo que ninguém quer imitar.

    Em muitos sentidos, a Suécia é uma Alemanha ampliada. Proporcionalmente à população, acolheu um número maior de estrangeiros. Os benefícios sociais são ainda mais generosos. A superlotação em escolas, centros esportivos e até estações de esqui é mais evidente.

    E o descontrole das autoridades sobre bairros inteiros tomados por gangues nas principais cidades do país faz a Alemanha continuar a parecer o império da lei e da ordem que sempre foi.

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    CASA DE TODOS

    Até suecos extremamente liberais sacodem a cabeça, desiludidos, quando olham para uma cidade como Malmö, dominada por gangues que se dedicam ao tráfico e outras ilegalidades ou por grupos fundamentalistas que aplicam a sharia publicamente.

    Equipes de televisão estrangeiras – as suecas já aprenderam a lição – que vão regularmente “provar” a inexistência de zonas de exclusão são regularmente roubadas. Todas as cenas de vida normal nessas áreas só podem ser filmadas com segurança pesada.

    O estado de bem-estar social que floresceu de forma esplêndida na Europa Ocidental foi praticamente uma invenção sueca.

    A delicada fórmula destinada a misturar direitos sociais sem sufocar o empreendedorismo teve características difíceis de ser aplicadas em toda sua extensão foram do universo nórdico.

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    O Folkhemmet, ou casa do povo, nasceu numa sociedade extremamente homogênea, ancorada na austeridade luterana, com uma forte tradição de vida comunitária e de respeito pela coletividade.

    A ideia dos países-clube – você paga caro para entrar, sob a forma de impostos altíssimos, mas tem benefícios exclusivos até o fim da vida – já estava comprometida pelo declínio populacional.

    O choque subsequente da migração em massa com um forte componente anti-integracionista abalou as estruturas até da Suécia.

    A casa do povo virou a casa da mãe Johanna até para a população que está muito longe dos enclaves violentos, fundamentalistas ou ambos. E os desdobramentos políticos e sociais ainda estão começando.

    “Não retornaremos a uma situação em que todos os suecos são loiros de olhos azuis”, já disse Jimmie Akkerson, contrariando os estereótipos da ultradireita racialista. “Isso nem sequer é desejável.”

    “A Suécia sempre teve imigração e sempre terá. Mas tem que ser uma imigração estritamente regulada e que nossa sociedade possa administrar.”

    “Quem vem morar aqui precisa se adaptar aos padrões e valores aceitos pela maioria.”

    Se for coisa de fascista, nazista, racista etc etc, está bem disfarçado.

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