Quantas divisões tem Pedro Castillo?
A pergunta famosa de Stálin quando Winston Churchill propôs, em 1943, que o papa Pio XII fosse incorporado às conversações sobre o pós-guerra tem uma versão ridícula com os acontecimentos que cercam o autogolpe do presidente do Peru.
Pedro Castillo não tem bala para segurar o fechamento do Congresso e a convocação – grotesca, nessas circunstâncias – de uma Assembleia Constituinte.
Ao contrário do antecessor nesse tipo de artimanha, Alberto Fujimori, o presidente peruano não estabeleceu o controle sobre as forças de segurança, não tem o apoio das Forças Armadas e não tem sustentação política.
A renúncia em série de ministros é um dos sinais disso. Outros virão.
Só para lembrar: Fujimori acabou fugindo do país e sendo extraditado de volta pelo Japão para cumprir pena, com o devido processo, por barbaridades em série.
O caminho provável para Pedro Castillo é uma repetição farsesca da trajetória de Fujimori, encerrando a carreira do professor primário de escola rural que se junta à coleção de presidentes peruanos formidavelmente fracassados.
Tendo feito campanha com um lápis gigante como símbolo da reforma na educação que faria, Castillo não fez nada – nem pela educação nem por nenhuma outra coisa. Sobreviveu a processos de impeachment somente porque a oposição não tinha os votos necessários. Agora, o deputado Héctor Valer, que integrou o governo repetidamente fracassado, propôs: “A Promotoria da Nação deve tomar as medidas devidas e ordenar a captura do presidente da República”.
O presidente do Congresso, José Williams, convocou uma sessão de emergência, num sinal de que os deputados não vão cumprir a ordem de dissolução.
Dar um autogolpe é absurdo e anacrônico. Dar um autogolpe que não pode ser imposto pela força é garantia de mais um pastelão na longa história latino-americana do gênero.