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Mal informados: corredores de automóveis são geniais nas pistas

Lewis Hamilton e Bubba Wallace, que viu uma forca numa corda de garagem, não ficam bem na pista quando exigem atos políticos dos outros

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 7 jul 2020, 08h45 - Publicado em 7 jul 2020, 08h29

É difícil encontrar meritocracia mais exigente do que a dos corredores de automóvel.

Pais famosos podem até ajudar, mas não existe o que dê jeitinho numa das profissões mais competitivas do planeta.

Na Fórmula 1 são vinte pilotos, dos quais dez na segunda camada.

Na Nascar, também conhecida como Stock Cars ou a corrida dos “rednecks”, a caipirada do sul dos Estados Unidos, são 40 carros.

Pilotos das duas categorias enfronharam-se em assuntos explosivos do momento, como racismo policial e manifestações do Black Lives Matter.

Não se saíram bem.

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O caso mais sensível foi o de Bubba Wallace, da Nascar.

Em plena explosão social depois da morte de George Floyd, o corredor negro denunciou que havia encontrado um nó de forca na sua garagem.

Provocou reações exaltadas. O nó evoca a história da Ku Klux Klan e os linchamentos bárbaros, encerrados com enforcamento durante a época mais tenebrosa da segregação racial no Sul dos Estados Unidos.

Colegas de pista se solidarizaram e doze agentes do FBI foram deslocados para investigar o caso.

Conclusão: era uma cordinha com um nó para fechar a porta do box dos carros.

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Como tudo o que é complicado nos Estados Unidos, Donald Trump se meteu no meio. 

E não atribuiu a história a um engano sem má fé, mas a uma armação.

“Ele tem que pedir desculpas a todos os grandes pilotos e funcionários da Nascar que ficaram a seu lado e se dispuseram a arriscar tudo por ele, só para descobrir que tudo não passava de mais uma farsa”.

Não existe acusação de que Bubba, filho de mãe branca e pai negro, tenha armado a história para se fazer de vítima, como aconteceu com Jussie Smollett no começo do ano passado.

Smollett, que estava no elenco da série ‘Empire’, contratou dois irmãos, um deles seu personal trainer, para encenarem uma agressão de fictícios portadores do boné vermelho da campanha de Trump.

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Foi não só um vexame  para o ator quando a história veio abaixo, mas um ato criminoso prejudicial para aqueles que efetivamente são alvo de episódios de discriminação e racismo.

Depois de fazer o circuito de outro dos programas de entrevistas, Bubba continuou insistindo que “parecia um nó de força”.

Independentemente do caso, a Nascar proibiu que os fãs de corrida se vistam com roupas que lembram a bandeira confederada, da época em que o Sul tentou declarar independência do resto dos Estados Unidos por causa da escravidão.

Corrida de stock car sem a bandeira sulista – que obviamente não significa apoio a barbárie escravagista – fica um evento meio estranho, mas pode acabar tendo um efeito positivo se a proibição for vista como um gesto de reconciliação entre as raças, não uma imposição.

Impor atitudes que só têm sentido quando são voluntárias e espontâneas foi o que fez um corredor muito mais famoso, Lewis Hamilton, o muitlcampeão britânico de Fórmula 1.

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Num e-mail absurdo, ele exigiu que todos os pilotos que ajoelhassem antes da corrida, num gesto que começou com Colin Kaepernick, do futebol americano, e se expandiu com o Black Lives Matter.

“O silêncio é cumplicidade”, escreveu, usando uma palavra de ordem do Black Lives Matter para forçar adesões.

Dando a entender que sofre a sina de ganhar 40 milhões de libras por ano entre racistas, insinuou, na clássica acusação sem nomes, típica dos covardes: “Eu sei que vocês sabem que eu sei de quem estou falando”.

Seis pilotos, entre os 14 que se ajoelharam, usaram apenas uma camiseta preta com as palavras: “Fim do racismo”.

Não faltou quem visse a ironia do fato de que Hamilton corre pela Mercedes e tem um contrato publicitário com a Hugo Boss.

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As duas empresas alemãs já mais do que fizeram seu mea culpa por terem utilizado trabalho forçado de civis inocentes durante a II Guerra Mundial.

O Black Lives Matter e seus simpatizantes não querem desculpas, em termos históricos, por atos cometidos do século XIX para trás, chegando até os prodigiosos pais da pátria americana, militam pela derrubada de todo o sistema.

Da mesma forma que é absurdo exigir de cidadãos brancos que se desculpem por erros do passado histórico, seria errado cobrar de uma empresa como a Hugo Boss, que já passou por vários donos, fosse boicotada. 

Ou que Hamilton, uma espécie de Neymar da Fórmula 1, quase unanimemente detestado por atitudes nas pistas e longe delas, não fizesse publicidade para a Hugo Boss.

Nazista ativo, membro do partido e de outras organizações, o fundador e homônimo empregou durante a guerra 140 pessoas, na maioria mulheres, como trabalhadores forçados – escravos, na prática.

Ganhou contratos para fabricar, entre outros uniformes, as fardas negras das SS, impecáveis no corte e na capacidade de mandar uma mensagem imediata sobre o poder avassalador, literalmente de vida e morte, das tropas de choque de Hitler.

Como tudo na II Guerra, os números são alucinantes. A Alemanha chegou a ter mais de dez milhões de civis e prisioneiros de guerra nas fábricas e campos de trabalhos forçados.

É bom viver num mundo em que os pecados dos pais ou avós não recaem sobre os filhos. Também é bom que esportistas famosos assumam suas posições políticas e as defendam veementemente sem medo de represálias.

Melhor ainda, para todos, é quando não existe discriminação por cor de pele e, com base no mérito, subam ao mais alto dos pódios.

É ruim quando tentam intimidar colegas ou assumam, sem motivo, o papel de vítimas.

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