Emmanuel Macron faz tudo bem planejadinho.
Com sua brilhante inteligência de primeiro aluno, que ainda por cima se casou com a professora, ele lê tudo, entende de tudo, fala de tudo.
Como na segunda parte do dito sobre os Bourbons, também não esquece nada.
A reunião cancelada na última hora entre o presidente Jair Bolsonaro e o chanceler francês, Jean Yves Le-Drian, ficou anotada a fogo na sua nada pequena agenda de vinganças.
(Quem acha que políticos brasileiros dizem um monte de asneiras está certo, mas fique registrado que o simpático chanceler tuíta sobre truques para que as crianças não usem canudos de plástico. Ah, os tempos de glória do Quay d’Orsay.)
As queimadas na Amazônia, tão sazonais quanto os terríveis incêndios florestais na Riviera Francesa – não vamos entrar aqui no mérito do aumento de sua incidência -, ofereceram a ele oportunidade certa para fazer um strike.
Ou colar no cochonnet, a pequena bola de madeira que orienta as disputas de pétanque, aquele jogo de bocha dos franceses.
Dizer, num ato jupiteriano – é sério, ele já declarou que o poder olímpico seria seu estilo ideal de governo -, que o presidente brasileiro mentiu e romper o recém-assinado acordo entre União Europeia e Mercosul não foram atos impensados.
Macron, obviamente, se considera um estrategista do nível de Napoleão, talvez até um pouquinho acima.
A simpatia despertada pelas causas ambientais e a antipatia, por motivos reais ou imaginários, por Bolsonaro criaram o meio ambiente ideal para o presidente francês sair de paladino ecológico.
Haverá um esforço extra para combater as queimadas de proporções amazônicas? Macron sai ganhando.
Não haverá? Também pode posar de vitorioso contra os brasileiros maus que incineram árvores, animais e índios (é sério, assim está o nível de maluquice da cobertura internacional).
E ainda fatura uns pontinhos com os pequenos pecuaristas franceses, ouriçados contra a concorrência da carne brasileira e argentina.
Qual a reação que Macron mais deseja? Alguma coisa intempestiva, furiosa, desproporcional aos desaforos proferidos contra o governo brasileiro, contra a lógica e, sim, contra a verdade.
É isso que vai manter o assunto vivo no G7, enquanto o risco de derretimento dos mercados não varre tudo do caminho.
Não adianta dizer que ele usou a foto errada e a metáfora idem, com a antiga história de “pulmão do mundo”, ou que ultrapassou os limites aceitáveis do relacionamento entre nações amigas ou que está se comportando como um galinho de briga.
Macron quer briga. Quer uma nova guerra da lagosta. Quer seu momento de glória gaullista. Quer dizer La France c’est moi. Calculou que vai ganhar.
Já cometeu erros monumentais de cálculo antes, como outros governantes.
Menosprezou o movimento dos coletes amarelos, deu inconcebível liberdade de ação a um segurança privê, ignorou a reação negativa ao pagamento de 10 mil euros por mês por serviços de maquiagem.
Governar é errar, insistir no mesmo erro é burrice.