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Israel perto da definição: será Naftali Bennett o substituto de Netanyahu?

Como quase sempre, país está pegando fogo, mas é da política que vem a maior novidade, um ultradireitista de colocar no chinelo o atual primeiro-ministro

Por Vilma Gryzinski 11 Maio 2021, 08h22
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  • Chuva de foguetes do Hamas, protestos violentos em Jerusalém, possibilidade de nova intifada ou nova guerra. E tudo isso no meio de uma transição de poder. Israel não é para principiantes.

    O exemplo do momento da eterna caixinha de surpresas da política israelense: é possível o líder de um partido com apenas sete deputados no Parlamento – de um total de 120 – ser o primeiro-ministro de Israel?

    Não é impossível, se o líder for um político superdotado como Naftali Bennett, que impôs uma condição para participar da coalizão que está sendo negociada pela frente unida apenas pela oposição a Benjamin Netanyahu: ser o primeiro a chefiar o governo, alternando, depois de dois anos, com Yesh Lapid.

    Pela lógica, Lapid, líder do maior partido de oposição, deveria ter a prioridade, mas Bennett, que é da corrente direitista do sionismo religioso, que une nacionalismo e judaísmo ortodoxo, fincou pé.

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    A coalizão negociada por Lapid é um ajuntamento de elementos mutuamente excludentes: toda a oposição, do centro até a esquerda, mais a direita religiosa de Bennett e a laica de Avigdor Liberman, a frente de partidos árabes e, bizarramente, o partido islamista que emergiu da última eleição.

    É óbvio que essa caldeirada de contradições não pode ter vida muito longa uma vez que saia do mapa – se sair – o único elemento que os une, o ódio a Netanyahu. Mas nem tudo é apenas óbvio em Israel.

    O primeiro-ministro de legendária capacidade de sobrevivência política tentou formar sua própria coalizão e não chegou aos 61 deputados necessários. Com um processo por corrupção rugindo às suas costas e a possibilidade bem concreta, embora para ele inadmissível, de ser obrigado a deixar o governo, Bibi tentou ser simpático e apelou aos deputados do Yamina que voltassem “para casa”.

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    O partido já integrou o governo Netanyahu e Bennett, que saiu do Likud, foi ministro da Diáspora e da Defesa. Mas, como acontece frequentemente com personalidades políticas muito fortes, líderes promissores não crescem à sombra do primeiro-ministro.

    A ruptura não só foi feia como envolveu as respectivas esposas. Uma carta de Sarah Netanyahu a jornalistas amigos – favorecer proprietários de meios de comunicação em troca de cobertura positiva é a maior acusação de corrupção contra o primeiro-ministro – pede que sejam levantados fatos comprometedores não só contra Bennett como contra sua mulher, Gilat.

    A briguenta Sarah já criticou Gilat por usar blusa de alcinha, um sinal irreversível, segundo ela, de que é laica e de esquerda – características potencialmente fatais no ambiente onde Bennett viceja.

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    Quem imagina uma mudança de rumo com a saída de Bibi e a instalação de um governo onde a maioria seria de centro-esquerda pode ficar desiludido. Bennett talvez seja mais contra um Estado palestino do que Bibi. 

    Filho de judeus americanos que se mudaram para Israel, ele chegou a major nas forças especiais, as mesmas onde Bibi serviu. Participou da Guerra do Líbano e, numa de suas declarações mais bombásticas, disse: “Já matei muitos árabes e não vejo problema nisso”.

    Como muitos oficiais, principalmente da área de inteligência, ele foi para o ramo de segurança cibernética depois de sair das forças armadas. Criou duas companhias que vendeu por mais de cem milhões de dólares e, como disse, poderia passar “o resto da vida tomando coquetéis no Caribe”.

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    Escolheu o caminho da política.

    Israel está atualmente num dos momentos explosivos que eclodem periodicamente, com manifestações violentas de palestinos concentradas na Esplanada das Mesquitas e repressão proporcionalmente dura. 

    A reação do Hamas, desfechando novos ataques com foguetes a partir da Faixa de Gaza, abre a perspectiva de que a situação se deteriore e derive para um novo conflito, o maior desde 2014. É possível que o Hamas tenha considerado o momento político um ponto fraco a ser explorado. 

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    Provavelmente, será mais um de seus muitos erros de cálculo.

    A posse de um novo governo que encerre a década e meia de Netanyahu no poder só seria mais complicada se Bennett não tivesse experiência como ministro da Defesa e não soubesse exatamente o que quer fazer. Mais: o atual ministro da Defesa, Benny Gantz, ex-chefe do Estado-Maior, continuaria a postos. Não é um pessoal fraco.

    Num vale-tudo que pode ou não ser final, Netanyahu se reuniu secretamente  com Mansour Abbas, o líder do partido islamista que emergiu como fiel da balança, e apelou a ele para não integrar a coalizão que está sendo negociada para tirá-lo do poder. 

    Não faltarão surpresas maiores ainda se Abbas e seu partido formarem um governo com a turma de Naftali Bennett.

    O país vai ou não ter nova guerra, vai ou não ter um governo tão complicado quanto a coalizão em negociação atualmente, vai ou não ter um novo primeiro-ministro de partido minoritário? São perguntas que terão respostas nos próximos e incandescentes dias.

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