Vamos começar pela questão que deveria ser paralela: a atriz americana Meghan Markle, que está deixando os cabelos ruivos de Harry mais arrepiados ainda de paixão, é filha de pai branco e mãe negra.
Num mundo ideal, seria uma curiosidade a mais sobre uma mulher que inevitavelmente atingirá um nível incandescente de exposição. No mundo real, tem provocado a ocultação desse fato na grande imprensa, devido ao medo de passar qualquer impressão discriminatória, e declarações repugnantes entre aqueles tipos de comentários que nos dão vontade de desistir da raça humana.
Meghan tem 35 anos, três a mais do que Harry, e trabalha no seriado Suits, filmado em Toronto, onde ela mora. Claro que já apareceu quase despida em cenas de sexo filmadas para a série que foram parar num site pornô e, daí, para uma manchete de tabloide.
Harry surtou e sua assessoria de imprensa divulgou uma nota desancando a imprensa do gênero. Na declaração, assumiu que Meghan é sua namorada, o que aumentou ainda mais o interesse. Reclamou dos “abusos e perseguições”, da calúnia na referência ao site pornô, dos “subtons raciais” de alguns artigos e do racismo e sexismo declarados de comentários feitos nas redes sociais.
Tem razão em tudo isso, especialmente sobre o cerco montado por paparazzi em volta do apartamento de Meghan e da casa da mãe dela, a instrutora de ioga Dora Ragland, que mora na Califórnia. Um representante vergonhoso do jornalismo de celebridades chegou a oferecer dinheiro a um ex-namorado da atriz para que contasse a história do relacionamento.
Harry, evidentemente, é marcado pela tragédia da mãe, que morreu num carro perseguido por paparazzi. Mercedes e motorista, que havia bebido bastante e dirigia a velocidade absurda, haviam sido providenciados pelo namorado de Diana, Dodi Fayed.
O pai dele, o egípcio Mohamed Fayed, morreu tentando provar uma teoria conspiracionista maluca: o acidente, fruto de negligência e incompetência de seu próprio filho, tinha sido tramado por agentes do serviço secreto britânico para impedir que a mãe dos príncipes William e Harry se casasse com um árabe muçulmano.
Apesar do absurdo dessa teoria, é impossível não ver alguns pontos em comum no namoro de Harry e Meghan. Uma atriz americana divorciada que se descreve como “metade negra e metade branca” seria uma novidade e tanto na família real. De forma geral, uma novidade positiva: a monarquia inglesa sobrevive em grande parte de sua imagem e teria a ganhar com a flexibilização racial.
Esta hipótese está sendo levantada porque o namoro é sério. Embora Harry e Meghan ainda não tenham aparecido juntos em público, ela já passou duas noites no apartamento do príncipe no Palácio de Buckingham, uma espécie de cortiço da realeza dividido em palacetes para a família mais próxima da rainha.
Harry está tão encantado que até abusou. Ele passou duas semanas em países do Caribe fazendo uma turnê de trabalho – relações públicas, a maior especialidade da família real. Brincou com criancinhas, fez teste de Aids ao lado de Rihanna e encantou o público de forma geral.
Na volta, não resistiu e esticou até Toronto para ver Meghan. Problema: os membros da família real são “ativamente desencorajados a combinar compromissos privados e públicos”. A norma foi estabelecida em 2004 devido ao mau exemplo do tio mais complicado de Harry, Andrew.
O príncipe inútil combinava viagens em sua auto-proclamada função de promotor comercial do Reino Unido com jogos de golfe em clubes de luxo. Pegou muito mal. Hoje, Andrew só joga golfe e tenta promover o status das filhas, as princesas Beatrice e Eugenie. A última é que pediu à mãe, a rainha Elizabeth, que dê títulos de nobreza aos futuros maridos delas, para que seus filhos não sejam meros plebeus.
Se o namoro de Harry evoluir, Beatrice e Eugenie, sempre em luta contra a balança e cruelmente comparadas às irmãs invejosas de Cinderela, terão que aparecer nos compromissos oficiais não só ao lado de Kate Middleton como de Meghan, que parece ser ainda mais magrinha do que a mulher de William.
É dura a vida de princesa…