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Futuro líder espanhol: bonitão, mas será que vai funcionar?

Sem voto, com coalizão precária e risco de incendiar uma Europa já tremendo na base, Pedro Sánchez está a um passo da chefia do governo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h27 - Publicado em 31 Maio 2018, 17h22
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  • Estampa,  articulação política e até nome, Pedro Sánchez Pérez-Castejón tem.

    Também já prometeu manter o orçamento do homem em quem passou uma rasteira para chegar ao poder – uma garantia de que não sairá gastando como um marinheiro bêbado, ainda mais num momento em que qualquer pequeno tropeço pode desencadear outra grande crise na Europa e, daí, no resto do mundo.

    O projeto do voto de desconfiança contra Mariano Rajoy também foi uma aposta quase que personalista de Sánchez, um dos políticos da nova geração da Espanha. Albert Rivera, do Cidadãos, uma centro-direita renovada, e Pablo Iglesias, do Podemos, que passou uma camada de tinta na mesma esquerda viciada de sempre, são os outros.

    Os discursos de ambos, cara a cara, numa língua feita para duelos na ponta do florete como o espanhol, foram dos mais emocionantes e sanguinários da política recente.

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    Os dois chamaram-se de mentirosos com aquela ênfase apaixonada que leva  observadores neutros a concluir que ambos têm razão.

    “Desmantelamento, demagogia e desperdício”, são as perspectivas da Espanha com um governo de Sánchez, atacou Rajoy.

    “Com quem o senhor vai tratar a situação da Catalunha? Com seus sócios? Seu programa é um exercício de pirotecnia que se converterá em fumaça antes que esta sessão acabe. Não é um programa de governo porque o senhor não tem isso, o senhor é uma pura ambiguidade tática. No seu papel, cabe tudo e também o seu contrário.”

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    Praticamente, tudo é verdade. Mas Sánchez tinha a superioridade moral a favor.

    “Peça demissão agora, senhor Rajoy, e este voto se encerrará”, investiu, argumentando que os “gravíssimos fatos comprovados” no escândalo de corrupção conhecido como caso Gürtel provocariam a renúncia do primeiro-ministro de “qualquer democracia comprável à espanhola”.

    Mas não foi a superioridade moral, mesmo momentânea, que pesou para o lado de Sánchez, e assim a adesão de partidos menores.

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    Seu partido, o PSOE, que já desfrutou de confortável maioria no passado, tem 84 deputados num total de 350. Os 67 do Podemos não dariam nem para chegar perto da maioria, mas a conta foi fechada com o apoio de partidos regionais, inclusive dos separatistas catalães.

    O PSOE tem uma linha dura contra a independência unilateral – e anticonstitucional. Daí a pergunta mordaz de Rajoy sobre como Sánchez vai tratar do assunto, entre várias outras questões de governabilidade.

    A frente criada para aprovar o voto de censura nem de longe se reproduzirá num programa conjunto de governo. Sánchez teria que convocar novas eleições e, por enquanto, nada indica que conseguiria sair do empate paralisante dos últimos tempos.

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    As promessas de racionalidade na condução da economia estão dirigidas diretamente aos mercados sob risco de ataque de nervos com a situação na Itália, onde a crise habitual entrou em fase aguda.

    Do alto de seu 1,90 metro, com pose de estadista, Sánchez prometeu ”um governo socialista, paritário, europeísta, garantidor da estabilidade orçamentária e econômica”.

    O último e extraordinariamente fracassado governo do PSOE, chefiado por José Luís Zapatero, tentou fazer isso tudo e se esborrachou. Terminou de forma patética, esmigalhado pela crise, sem condições de sequer tomar as mais elementares decisões.

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    Rajoy fez o que tantos prometem e poucos cumprem: botou ordem na casa, à custa de muitos sacrifícios para todo o país.

    Apesar das promessas, Sánchez, um economista de 46 anos, não tem nenhuma pinta de que vá garantir a estabilidade.

    A gana pessoal dele contra Rajoy, que o levou a pedir demissão, em lágrimas, da liderança do PSOE em 2016 (depois foi reeleito), funcionou para derrubar um presidente de governo, como os espanhóis chamam o primeiro-ministro, que sobreviveu a 14 anos de decisões quase que insuportavelmente difíceis.

    O teste da realidade mostrará se vai funcionar também para fazer o que é preciso.

    Em tempo: o caso Gürtel não tem nada de alemão e tudo de brasileiro. Tem esse nome porque a rede de corrupção ligada ao PP, o partido de Rajoy, era chefiada por Francisco Correa Sánchez.

    A palavra Gürtel significa correia em alemão. O resto é tudo conhecido: construtoras e outras empresas que pagavam propinas ao partido em troca de contratos superfaturados e mensalão para os políticos, contabilidade paralela e outros truques do gênero.

    O escândalo começou a ser investigado em 2009 e as sentenças, pesadas, estão sendo aplicadas agora aos condenados, incluindo mulheres e ex-mulheres. Que coisa, hein?

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