“Na cabeça de Harry, foi a imprensa que matou a mãe dele. Sei porque ele mesmo me disse isso muitas vezes em particular.” Assim foi descrita a visão do filho caçula de Diana pelo jornalista Ducan Larcombe, que trabalhou para o Sun, um dos diabólicos tabloides ingleses, e escreveu uma biografia sobre o príncipe.
Na cabeça de Harry, provavelmente também foi a “imprensa” que transformou seu casamento de obra-prima de relações públicas num festival de baixarias protagonizadas pela família paterna da noiva.
Pelo menos até a hora em que a noiva aparecer chegando na capela de São Jorge, em Windsor, com um vestido certamente deslumbrante que fará o mundo inteiro mudar de assunto.
Conduzida pelo sogro, o príncipe Charles, que tomou o lugar do pai trambiqueiro, um baque para qualquer noiva, ainda mais um no centro das atenções do mundo e dos planos nada modestos de Meghan Markle.
Depois de flagrado armando fotos falsamente roubadas, Thomas Markle foi convenientemente internado para uma angiografia.
O pretexto tirou de cena um homem que desonrou a própria filha, aceitando a farsa das fotos.
Não é impossível que o paparazzo com quem contracenou na armação, talvez dividindo o produto avaliado em mais de 100 000 dólares, tenha sido plantado para, como dizem os puros de coração, induzir Markle ao erro.
Todos os movimentos de Markle e do paparazzo, um inglês radicado em Los Angeles, foram criteriosamente anotados por repórteres do Daily Mail, o que faz supor um conhecimento prévio da baixaria.
Quando apareceram as explicações mentirosas, incluindo uma internação por ataque cardíaco e a alegação da meia-irmã afastada de Meghan, Samantha, disposta a falar qualquer coisa por dinheiro, o Mail simplesmente deu a lista completa das atividades do pai da noiva em todos os dias, inclusive o da inexistente internação num hospital.
As desculpas esfarrapadas desabaram.
Bilhete premiado
Se Thomas Markle tivesse dito não à proposta espertinha do fotógrafo, a vigarice não aconteceria e ele estaria agora na Inglaterra, conhecendo a rainha, o príncipe Charles e o próprio Harry.
O tipo de caráter que o levou a dizer sim já havia sido demonstrado em outro caso. Quando Meghan era criança e os pais já estavam separados, Thomas Markle ganhou 750.000 dólares (o dobro, em valores de hoje) num jogo de loteria.
Usou a data de aniversário da filha, 4 de agosto de 1981. A informação é de Andrew Morton, o autor da mais completa biografia, autorizada em segredo, de Diana.
Para não dividir o dinheiro com a ex-mulher, com quem ainda estava em processo de divórcio, mandou um amigo receber o prêmio.
Segundo Morton, que também escreveu sobre Meghan, Thomas Markle acabou levando um prejuízo: investiu num negócio de bijuterias com o mesmo amigo e perdeu a maior parte do prêmio. Foi uma das várias vezes que quebrou.
Atualmente, mora numa casa bem modesta em Rosarito, do lado mexicano e mais barato da fronteira com os Estados Unidos. Não tem nem de longe o padrão de vida que seria o habitual para um aposentado como diretor de iluminação de séries americanas.
Os tabloides estão rondando a família Markle desde que o namoro de Harry e Meghan ainda não era aberto.
Com os meios-irmãos, Tom e Samantha, praticamente “plantaram” todas as declarações que queriam: Meghan é uma egoísta interesseira que passou a ignorar a família depois que foi para o Canadá filmar a série Suits, seu primeiro e último sucesso.
Ah, sim, claro que quer dar o golpe do baú e imitar a princesa Diana, transformando-se num ídolo mundial.
Para aumentar o constrangimento, Tom foi para Londres, mesmo sem convite. Também já estão lá sua ex-mulher e os dois filhos do casal. Todos subvencionados.
É a invasão do “trailer trash”, brincam alguns menos comovidos com a baixaria real, usando a forma bem preconceituosa dirigida aos americanos brancos mais pobres, que moram em trailers, mais baratos do que casas convencionais.
Mas ter sogros e outros parentes constrangedores não é, de forma alguma, algo estranho à família real. O próprio príncipe Charles carrega até hoje a marca das conversas gravadas com a amante, hoje esposa, Camilla.
Dizia que gostaria de reencarnar como as calcinhas ou o absorvente íntimo dela, uma babadinha íntima que virão um bafão quando exposta em público.
Mordida de macaco
O primeiro amante conhecido de Diana, o capitão James Hewitt, acabou cedendo anos depois à tentação de monetizar o caso , propondo vender por 10 milhões de libras as cartas escritas por ela ao longo de cinco anos de romance.
Virou um sujeito infeliz, rejeitado por seus pares, solitário e volta e meia envolvido nos boatos de que seria o verdadeiro pai de Harry, por causa dos cabelos vermelhos e alguns traços faciais parecidos. Na verdade, Hewitt iniciou o romance quando Harry tinha cerca de um ano. Ele ensinava equitação para os meninos.
O sogro da rainha Elizabeth II já tinha feito o favor de morrer quando ela se casou com Philip. Com o título de príncipe Andrew da Dinamarca e Grécia, ele vivia no exílio na Cote D’Azur com a amante, uma atriz francesa.
Levava a marca, insuportável para um membro da realeza, de ter se acovardado durante a Guerra Greco-Turca, que coincidiu com a I Guerra Mundial. Na época, seu pai, originário da família real teuto-dinamarquesa, era rei da Grécia. Andrew foi obrigado a renunciar ao comando do exército, uma desonra brutal da qual nunca se livrou.
A vida da família real grega foi agitada, com idas e voltas em meio a guerras e golpes. Numa das restaurações da monarquia, um irmão mais velho de Andrew foi rei durante menos de três anos. O rei Alexandre morreu de septicemia por causa de uma mordida de macaco, ao apartar uma briga com seu cachorro.
A sogra da rainha Elizabeth era da família. Alice de Battemberg, bisneta da rainha Vitória, foi internada com diagnóstico de esquizofrenia num sanatório na Suíça. Quando saiu, dedicou-se inteiramente a obras de caridade, fundando uma ordem religiosa ortodoxa, a religião à qual havia se convertido para se casar com um membro da família real grega.
Durante a II Guerra, Alice ficou em Atenas e ajudou a esconder e proteger muitos judeus. Seu filho Philip, que havia sido transferido, sem um tostão, para a tutela do lado da família radicado no Reino Unido, serviu na Marinha Real e participou do desembarque aliado na Sicília.
Suas quatro filhas, casaram-se com nobres alemães e ficaram na Alemanha nazista. Quando a mais velha, Cecile, morreu, Philip, de apenas 16 anos, foi ao enterro. Existe uma foto dele rodeado pelo alto escalão nazista.
Nenhuma das irmãs sobreviventes, evidentemente, foi convidada para o casamento de Philip com a princesa herdeira Elizabeth, em 20 de novembro de 1947.
Como fisgar um marido
O jovem, alto e bonitão Philip havia sido deliberadamente colocado no caminho de Elizabeth, então entrando na adolescência, por um parente em comum, lorde Mountbatten (forma anglicizada a I Guerra Mundial de Battenberg).
Elizabeth se apaixonou, embora o príncipe estrangeiro, nascido num palácio sem água encanada em Creta, sem coroa nem dinheiro, não fosse considerado um marido à altura da futura rainha. Ela insistiu, o pai dela cedeu e o casamento está dando certo até hoje.
Uma “aproximação” combinada por parentes também colocou a jovem Diana no caminho de Charles, que havia sido instruído nos costumes sexuais livres pelo tio, o mesmo lorde Mountbatten, e estava demorando demais para casar. Foi o conhecido desastre, culminando com a morte precoce de Diana num desastre de automóvel em Paris.
O papel de casamenteira entre Meghan e Harry foi exercido por uma combinação de amigos em comum entre a atriz linda e esperta, mas sem muito futuro, e o príncipe mais jovem, sem muita estabilidade emocional.
Uma dessas casamenteiras é Misha Nonoo, estilista de moda que foi casada com um dos amigos da ala jovem da família real. Misha conheceu Meghan numa festa, nasceu uma amizade e só elas mais sabem o quê.
O fato é que foi Misha quem armou um “encontro-surpresa” entre o casal – como se fosse possível dizer “Você tem que conhecer um amigo meu, o príncipe Harry” e Meghan respondesse “Quem?”.
Foi essa versão que assessores tentaram plantar, entre outros exageros. Desde o encontro armado, os dois entraram de cabeça na relação. Meghan provavelmente aplicando um truque conhecido como as dez regras para fisgar um marido (que podem ser resumidas em duas: dê uma de difícil e não transe logo de cara). Ela é adepta, segundo uma das muitas amigas escavadas em seu passado.
“Sexismo e racismo”
Harry, o irmão William e a cunhada Kate tinham uma equipe de seis assessores de imprensa e relações públicas, na maioria jovens como eles e dedicados a reposicionar a imagem dos membros mais jovens da realeza no mercado.
Quando Harry começou a namorar Meghan, cometeram um dos maiores erros da profissão: deixaram que ele usasse suas próprias palavras para reclamar da intrusão da imprensa. Esquentado, o príncipe falou em “sexismo e racismo velado”, exposto em colunas e comentários.
Como controlar comentários de leitores? E, principalmente, por que admitir que está lendo os absurdos normalmente encontrados nesses ambientes, em parte porque a imprensa tradicional se conforma com um papel de coadjuvante no festival de deslumbramento que um romance real provoca (isso até que os tabloides ataquem, com seus métodos implacáveis)?
Quando o casamento real se tornou uma possibilidade, todas as equipes de relações públicas foram ativadas: a do Palácio de Buckingham, da rainha, e de Clarence House, do príncipe Charles. Meghan ganhou uma assessora de imprensa e faz-tudo, Amy Pickerill.
Fora a imensa equipe de estilismo e beleza que já tinha e reforçou, comandada por sua stylist e melhor amiga, Jessica Mulroney. Convenientemente, Jessica, casada com o filho de um ex-primeiro-ministro canadense, é especializada em noivas. Ela e Meghan parecem gêmeas, de tão idêntico é o estilo das duas.
O plano de todos os assessores de imagem era transformar em positivos o que seriam pontos contestáveis para o público britânico da noiva, como a vida dedicada a futilidades de uma atriz classe B, criada em Los Angeles, filha de pai branco e mãe negra, com dois casamentos no currículo (um anulado e outro terminado por e-mail).
As atividades filantrópicas de Meghan, obrigatórias no mundo do show business americano, passaram a ser magnificadas e refocadas no contexto da família real, que tem como um dos principais deveres promover obras benemerentes.
Harry e Meghan visitaram, conversaram e convidaram jovens e adolescentes em situação de fragilidade por diversos motivos. A declaração, plantada por algum malvado repórter junto ao meio-irmão Tom Markle, de que Meghan “quer ser a nova Diana”, não parecia tão absurda assim.
Mas será que ninguém achou esquisito que Harry tivesse deixado para conhecer o sogro na semana do casamento (e agora, sabe-se lá quando isso vai acontecer)? Não poderiam pelo menos ter feito uma avaliação a distância do estado emocional, fora o estrutural, de Thomas Markle?
Com tantos especialistas e tantos sinais de perigo emitidos pelos meios-irmãos, não daria para antecipar o desastre dos últimos dias e tentar desativá-lo?
A tendência é que a família infernal vá sendo devolvida à sua insignificância, por mais que apareçam em entrevistas pagas para dizer mesquinharias.
É como sua alteza real, provavelmente duquesa de Sussex, que Meghan vai mostrar se veio para o bem ou para o mal em termos de imagem da família real.
Como na guerra, todos os planos das equipes de relações públicas são totalmente desmentidos pela realidade. Mas ir à luta sem planejamento é um desastre. Ensinamento de Dwight Eisenhower, que sabia uma coisa ou duas sobre guerra.