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Choque do século: os pontos fracos e fortes de Trump e Kamala Harris

Ele está coberto pela aura de sobrevivência ao atentado e tem vantagem nas pesquisas; ela, a força de uma candidata mais jovem e diferente

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 22 jul 2024, 13h12 - Publicado em 22 jul 2024, 06h38

O roteirista que de algum lugar acima de nós está escrevendo os capítulos do reality show dos Estados Unidos tem vários capítulos guardados para nos entreter e surpreender. Depois da última guinada, todo mundo está grudado em duas histórias paralelas: o que acontecerá nas investigações do atentado contra Donald Trump, depois que o Serviço Secreto parou de mentir e admitiu que tinha negado recursos à sua segurança, e que caminhos Kamala Harris seguirá para ganhar a indicação à candidatura democrata para disputar a presidência?

Ambas as tramas confluirão para um debate que não poderá ser nada menos que eletrizante e a disputa final, em 5 de novembro.

No momento, o republicano tem várias vantagens: saiu do atentado do dia 13 com o punho erguido e convocando os partidários a lutar, teve uma convenção emocionante que consagrou a linha nacional-populista da chamada “nova direita”, escolheu um vice que fala à América “esquecida” — e justamente nos estados-pêndulo onde Trump precisa garantir a vitória. Melania Trump reapareceu, usando Dior e algumas lágrimas comovidas.

A propaganda de campanha que fala de Joe Biden tem que ser jogada fora, mas a linha não muda: os americanos estão pior de vida e a imigração clandestina, descontrolada.

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ALTO PADRÃO

Kamala tem alguns problemas mais substanciais. Primeiro, a forma como será escolhida. Os delegados que iam votar em Biden — mais de 3.800 — na convenção de 19 de agosto em Chicago foram eleitos pelo voto democrático pelas bases do partido, mais de 40 milhões de pessoas. Kamala não pode ser simplesmente “coroada” porque pareceria antidemocrático, e isso vindo de um partido que acusa o adversário, erradamente, mas com efeito bombástico, de ser o maior perigo de todos os tempos para a democracia americana.

Ela precisa também escolher um vice que dê mais peso a sua chapa, e não faltam candidatos — a maioria querendo aparecer para já ficar de olho na presidencial de 2028. Toda a propaganda política tem que ser jogada fora, exceto por aquelas que pintam um governo Trump como pior do que o incêndio do Reichstag e a tomada do poder pelos nazistas. Esse é o nível lamentável a que chegou a política nos Estados Unidos.

Em matéria de pesquisas, feitas quando a desistência de Joe Biden já era garantida, mas ainda não consumada, há resultados que evidentemente não mostram o impacto da ascensão da vice-presidente. YouGov: Trump 51%, Kamala 48%. CNN, 47% a 45%. Outras pesquisas são igualmente apertadas, dentro da margem de erro.

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Kamala será beneficiada pela aura de novidade e vigor, com seus 59 anos que parecem muito menos. Como Barack Obama, ela não tem nada de minoria subjugada e é filha de pais com altíssimo padrão educacional. A mãe, Shyamala Gopalan, estudou em Berkeley e era biomédica que fazia pesquisas sobre câncer, focando os receptores para progesterona que provocam o mais comum dos tipos de câncer de mama. Era tamil, uma etnia do sul da Índia.

MEME DO COQUEIRO

Segundo Kamala, veio dela uma das declarações bizarras que já repetiu várias vezes, sendo ridicularizada nas redes sociais: “Ela dizia para nós “Não sei o que tem de errado com vocês, jovens. Vocês acham que acabaram de cair do coqueiro?’ Você existe no contexto de tudo o que vive e do que veio antes de você”.

O “meme do coqueiro” viralizou, entre as várias coisas sem sentido ou bizarras que a vice-presidente fala, além das risadas excessivas a propósito de qualquer coisa.

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O pai, Donald Harris, professor aposentado de economia em Stanford com que ela passava férias na Jamaica depois do divórcio nada amigável que separou a família, ficou bravo e escreveu um artigo num jornal jamaicano quando um entrevistador de rádio perguntou a Kamala se já tinha fumado maconha e ela respondeu com ar de entendida: “Sou da Jamaica…”.

A origem e a vida da candidata cobrem assim um vasto leque: é descendente de indianos, de escravos africanos e, obviamente, de brancos. Nasceu e circulou no topo da elite acadêmica. Por aproximação, é judia, como o marido, o advogado Douglas Emhoff.

Como é próprio dessas tribos, é da ala mais de esquerda do Partido Democrata — uma fragilidade, já que precisa conquistar os eleitores mais de centro ou sem compromisso com partidos para ganhar a eleição. Exagerar nas bandeiras identitárias será um erro para quem precisa agregar eleitores.

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“AQUELA MENINA”

Em qualquer embate entre a “mulher de cor” — um leve tom de canela — e o homem laranja, como Trump é chamado por causa do bronzeamento artificial e da maquiagem, o estilo arrasador do ex-presidente pode ser uma desvantagem se ele parecer que está menosprezando ou hostilizando indevidamente a adversária.

Ele já disse, numa fala captada por celular quando estava num carrinho de golpe, que a desistência de Biden era inevitável, que “aquela menina” é fraca, não tem pulso para enfrentar um Xi Jinping, por exemplo. Falar isso num debate seria catastrófico, principalmente para o eleitorado feminino.

A outra trama dramática que se desenrola paralelamente às reviravoltas na política é a investigação sobre o atentado do dia 13 contra Trump. Os erros do Serviço Secreto são tão escandalosos que até comentaristas que tomam o cuidado para não cair no conspiracionismo estão abrindo suas desconfianças.

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Principais perguntas: como é possível que Thomas Crooks, o jovem assassino, tenha sido parado com um telêmetro, usado para medir a distância de alvos, três horas antes e nada. O prédio industrial sobre o qual se instalou em posição deitada de atirador de elite estava fora do perímetro de segurança estabelecido pelo Serviço Secreto, embora com uma linha de tiro límpida, a menos de 150 metros do palanque. Pessoas do público e agentes de segurança viram Crooks no telhado e avisaram, mas o Serviço Secreto permitiu que Trump subisse no palanque onde uma bala passou a 1 centímetro de seu crânio.

VÍTIMA DO SISTEMA

Depois de uma semana de mentiras, a direção do Serviço Secreto admitiu, no sábado, que tinha recebido pedidos de reforços para a segurança do ex-presidente e candidato, condições que o qualificam duplamente à proteção, mas não os atendeu.

Qualquer suspeita de que não foram apenas erros, por mais absurdos que soem, mas uma negligência deliberada, ou coisa pior, ajuda Trump a se firmar como o perseguido pelo sistema, uma vítima da Justiça partidarizada que o submeteu a processos injustos. E, agora, da proteção inadequada a cargo de órgãos do governo.

Como sempre, a própria personalidade de Trump é, simultaneamente, seu ponto forte e seu ponto fraco. Tem o poder de seduzir seus partidários e parecer o defensor dos mais fracos, embora seja um bilionário cuja mulher usa Dior sem nenhuma intenção de se fazer de simples. Mas pode também se afundar nos exageros e nas ofensas.

“Tudo o que ouvimos é uma opinião, não um fato. Tudo o que vemos é uma perspectiva, não a verdade”, disse Marco Aurélio, um dos “imperadores bons” de Roma, antecipando o pós-modernismo em 1.800 anos.

O confronto entre Trump e Kamala vai envolver isso tudo: opinião, fatos, diferentes pontos de vista e algo que exigirá muito esforço para ser definido como o mais parecido possível com a verdade. E, com certeza, mais algumas surpresas daquelas.

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