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Benny Gantz em voo solo: é ele o próximo primeiro-ministro de Israel?

Em plena guerra, o embate político também aumenta entre os dois Benjamins, Gantz e Netanyahu, unidos num desconfortável gabinete de crise

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 11h36 - Publicado em 5 mar 2024, 06h28
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  • Se as eleições gerais fossem hoje em Israel, Benny Gantz estaria no comando do governo: seu partido, União Nacional, elegeria 37 deputados e teria um espaço bom para fazer alianças e formar uma maioria de 75 representantes. O Likud de Benjamin Netanyahu teria apenas 18 deputados e, mesmo mantendo a frente com forças de extrema direita, ficaria com apenas 45 nomes garantidos.

    Excepcionalmente, os dois Benjamins, que já se enfrentaram nas urnas, constituem o mesmo governo de emergência. Gantz, com credenciais militares sólidas como a de ter sido chefe do estado-maior das forças armadas, o cargo máximo, foi o único oposicionista que aceitou entrar para o gabinete de guerra depois do ataque do Hamas de 7 de outubro.

    As tensões, obviamente, não desapareceram por um passe de mágica. Ao contrário, ficaram mais evidentes ontem, quando a imprensa israelense em peso falou que Netanyahu estava “soltando fumaça” com uma viagem “não autorizada” de Gantz a Washington para encontros com a vice Kamala Harris, o assessor de Segurança Nacional Jake Sullivan e representantes dos dois partidos.

    Para salvar o protocolo, Joe Biden não está na lista – mas é evidente que quer reforçar Gantz como alternativa a Netanyahu. Vazamentos nada casuais decorrentes do acaso já mostraram o presidente americano, dado a linguajar chulo em particular, xingando o primeiro-ministro israelense com epítetos irreproduzíveis.

    FICHA LIMPA

    Biden não é, nem pode ser, ingênuo – e não quer, como o governo brasileiro, ofender publicamente Netanyahu, forçando uma ruptura de relações que, nas delirantes interpretações político-diplomáticas, funcionariam a favor das atuais autoridades.

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    O presidente americano sabe que é ingenuidade ou má fé culpabilizar Netanyahu por tudo que acontece em Gaza. Um governo Gantz não seria muito diferente do atual: existe um consenso amplamente majoritário em Israel de que a política de convivência tácita com o Hamas acabou para todo o sempre e o país tem que garantir a neutralização, pelo menos parcial, dos vizinhos terroristas.

    Também existe um consenso, embora não tão majoritário, de que não é a hora de investigar como o governo Netanyahu falhou miseravelmente em prever e reagir à invasão de 7 de outubro. Nem de realizar eleições gerais. Houve eleições municipais na semana passada, com comparecimento baixo – e uma votação forte para a direita e a extrema direita, num indício de que Bibi e companhia não estão tão condenados como parece.

    Mas o fato é que, nas circunstâncias atuais, Netanyahu está muito longe dos feitos que limpariam sua ficha e o salvariam politicamente: uma vitória clara e cristalina sobre o Hamas e o resgate dos reféns. Ao contrário, os terroristas sofreram grandes perdas – cerca de um terço de seus homens em armas -, mas não foram varridos do mapa. A eventual libertação de mais reféns, negociada no momento, será feita em troca de uma suspensão de fogo que dará sobrevida ao Hamas.

    O que Gantz faria diferente? No campo das relações pessoais, certamente seria um progresso. Gantz é um centrista que dificilmente se aliaria às lamentáveis figuras da extrema direita que agora formam o governo Netanyahu. Tem ficha limpa, não três processos por corrupção como o primeiro-ministro, e perdeu a falta de jogo de cintura com que entrou na política, depois da carreira militar. Tendo sido general, chefe do estado-maior e ministro da Defesa, fala com mais autoridade moral sobre os assuntos de vida e morte, literalmente, que a guerra implica.

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    TERRENO MINADO

    Mas os problemas continuam os mesmos, quase intransponíveis. Como não dar uma vitória, mesmo que indireta, ao Hamas, recuperar os reféns, impedir que mentiras se tornem verdades aos olhos da opinião pública mundial, poupar a população civil dos erros verdadeiros e, acima de tudo, administrar Gaza no pós-guerra.

    A viagem de Gantz aos Estados Unidos está mostrando que ele caminha sobre um terreno minado e cheio de armadilhas. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, do ultradireitista Sionismo Religioso, fez a seguinte análise: “Os Estados Unidos estão procurando pontos para enfiar uma cunha entre os israelenses e assim promover seus planos, com a ajuda de Gantz”.

    “Dessa maneira, Gantz está trabalhando para promover seus planos de estabelecer um Estado palestino”.

    Não deixa de ter razão, embora um Estado palestino ainda esteja no horizonte distante, impensável para a maioria dos israelenses no momento. A curto prazo, Biden está pressionando os israelenses para um acordo de cessar-fogo temporário antes que comece o Ramadã, o mês de jejum e fervor religioso renovado que é para os muçulmanos como, no passado, a quaresma era para os católicos. Manifestações e atentados costumam aumentar nessa época mesmo em condições não excepcionais, como a da guerra em Gaza.

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    O Ramadã começa no próximo dia 10. O ex-comandante de uma brigada paraquedista, filho de judeus húngaros que sobreviveram a campos de extermínio nazistas, vai enfrentar, como todas as autoridades israelenses, dilemas maiores ainda. Não tem viagem aos Estados Unidos que mude isso.

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