O espanhol Enrique Vila-Matas está aproveitando a sua segunda visita à Flip para divulgar seu novo romande, Ar de Dylan (Cosac Naify, 320 páginas, 59 reais), que, segundo ele, começou a ser estruturado em uma viagem feita a São Paulo, em 2011. “Era a minha segunda visita ao Brasil, eu estava caminhando pela avenida Paulista e, ao passar pelo parque Trianon, comecei a ver a estrutura de Ar de Dylan, que eu já tinha começado a escrever, mas ainda não sabia que tipo de romance seria. São coisas que acontecem quando você viaja”, disse, em entrevista coletiva realizada na manhã desta quinta-feira, em Paraty.
Apesar de a estrutura ter surgido em solo brasileiro, o escritor só foi colocar a história no papel em Barcelona, onde mora com a mulher. “As viagens são muito criativas para mim, mas só escrevo na minha casa. Escrevo no computador, imprimo, faço anotações, passo para o computador, imprimo novamente”, disse, explicando seu processo de escrita. A obra ainda conta com cenas passadas no mercado municipal da capital paulista.
O gosto do espanhol por temas obscuros, como excesso, doenças e pensamento obsessivo sobre a literatura, tem presença constante em Ar de Dylan, que fala sobre fracasso. “Minha literatura se interessa pelos temas de que menos se fala, pelo outro lado da realidade. Tenho fascinação pelo que está detrás, pelo não tratado”, disse. No romance, Vila-Matas põe um escritor-observador de meia-idade como narrador. Convidado para participar de um congresso sobre fracasso, o personagem conhece Vilnius Lancastre, um jovem publicitário e looser que tem, unicamente, a intenção de dar errado.
Para Vila-Matas, o romance deve ser lido para ser entendido, por mais óbvio que a afirmação soe. “É um romance difícil de resumir. Há de se ler inteiro para entender. É um livro para ser lido”, disse, sem disfarçar a boa ideia que faz de sua obra. “Espero um leitor bom, distinto e preparado para ler meus livros.”
Nesta terça-feira, o espanhol participa da mesa Apenas Literatura, ao lado do chileno Alejandro Zambra. No sábado, ele assume a mesa vaga pela ausência de Le Clézio, no horário mais nobre da Flip.