Misturar riso e dor em uma mesma frase era uma ambição que Howard Jacobson já havia admitido em entrevista. Com A Questão Finkler (tradução de Regina Lyra, Bertrand Brasil, 448 páginas, 49 reais), o vencedor do Man Booker Prize 2010 lançado há pouco no país, pode-se dizer que o escritor inglês de 70 anos conseguiu o que queria. O livro reúne com habilidade humor e melancolia, casamento que tem levado a crítica em todo o mundo a comparar Jacobson aos americanos Philip Roth e Saul Bellow. É, esse, aliás, os eu grande trunfo.
Longe de ser um livro arrebatador, A Questão Finkler tem o mérito de oferecer uma prosa simples e agradável. Não inventa moda nem traz novidade à literatura, mas faz com competência o que se propõe a fazer. Perspicaz, Jacobson trata de um tema espinhoso como o judaísmo – sendo ele próprio um judeu – sem cair nos abismos sentimentais e nos lugares-comuns que poderiam seduzi-lo, preferindo a isso fazer piada de si mesmo e tornar mais leve a leitura, sem deixar que ela caia na superficialidade.
A tragédia está toda lá, sim. O Holocausto, o terrorismo, o antissemitismo em todo o mundo, Gaza e os desacertos entre Israel e Palestina. É à sombra disso tudo que vivem os personagens da trama, um trio de amigos de longa data formado por dois judeus e um não judeu. É exatamente o não judeu, Julian Treslove, quem nos conta a história. Treslove é um fracassado de carteirinha: no lado profissional, no amoroso e no familiar. É, talvez por isso, um homem depressivo que gosta de ouvir óperas sobre amores com finais trágicos e de sonhar com um desses para si – afinal, para ele, nada é mais poético do que chorar a morte da mulher amada. Seus dois amigos judeus, Samuel Finkler e Libor Sevcik, além de muito bem-sucedidos, acabam de ficar viúvos, motivos que alimentam em Treslove uma inveja quase doentia.